segunda-feira, março 31, 2008

RAPIDINHAS

Palácio de Seteais – Acabei de ler no semanário Expresso que o Turismo de Portugal assinou com a cadeia Tivoli uma extensão da concessão do Palácio de Seteais até 2023, que será recuperado, o que implicará o seu encerramento por um ano. Estranho, muito estranho mesmo, que um organismo que não tem a tutela deste edifício classificado, não faz parte das suas atribuições, possa vir a assinar semelhante concessão. Onde pára o Ministério da Cultura nesta trapalhada toda? Talvez uma clarificação da situação da sociedade anónima Parques de Sintra – Monte da Lua, ajude a perceber esta confusão, começando pela estrutura accionista, que ninguém percebe, já para não falar no âmbito da actuação.

Jogo viciado – Conversava eu com um destacado quadro de uma empresa ligada às tecnologias, quando a propósito das compras do Estado ele me veio dizer que alguns fornecimentos são contratados directamente e que os concursos nas telecomunicações são feitos à medida. Ele que é um defensor das avaliações e do mérito ficou logo embaraçado quando o paralelo entre as duas situações foi estabelecido, mas lá foi engolindo em seco, por falta de argumentos, quando o Sequeira, um dos participantes da conversa, lhe disse que os critérios de avaliação, e de promoção na função pública, eram ainda mais gravosos para os trabalhadores até porque existia uma dependência laboral, que cerceava ainda mais qualquer tipo de reclamação.

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for Megan by *SpringLilac

gitte ls landbo

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CARTOON

Segurança femina (VERSÃO MACHISTA)

Ups...

domingo, março 30, 2008

A CONFIANÇA, CONQUISTA-SE

Sobre o anúncio da descida de um ponto percentual do IVA, muito se escreveu, ora minimizando a medida, ora enaltecendo o anúncio. Como é natural, é difícil aceitar que a diminuição de um por cento depois de um aumentode 2% há dois anos, seja considerado um motivo de regozijo para os portugueses.

Os optimistas, que também os há, alinham com a medida do governo, como é evidente. Há contudo, pelo menos, um pequeno pormenor (será assim tão pequeno?) que se prende com as declarações do 1º ministro, quando anunciou este corte no IVA, que nos faz desconfiar e torcer o nariz, ele disse que “a crise orçamental está ultrapassada e os factores que a motivaram estão resolvidos”.

O cidadão comum, grupo em que me incluo naturalmente, só consegue aferir as declarações de José Sócrates, em função do seu próprio orçamento familiar, e a crise neste particular está para ficar até ao final do ano, pelo menos, quando serão anunciados os aumentos relativos aos salários. Será que nutrimos um excesso de desconfiança relativamente ao que o governo diz? Talvez sim, mas um executivo que faltou à sua promessa eleitoral de não aumentar os impostos, e que o fez, e nem só no caso do IVA, não incute confiança suficiente aos cidadãos.

O calendário eleitoral também não favorece o governo, pois é evidente que a pressa em reduzir o défice, para lá das previsões feitas pelo próprio governo, levando o esforço das famílias ao limite, e cortando no investimento público numa altura em que o desemprego aumentava, visa fazer coincidir alguma folga orçamental num ano em que se realizam eleições.

Quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele, e convenhamos que Sócrates a vestiu e disso se vangloriou, pelo que os cidadãos reagem com natural desconfiança.

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Blue Water by eserota

Abbandono di un sogno by Sliggo

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CARTOON DENÚNCIA

Simanca Osmani


Stephane Peray


Post 596

sexta-feira, março 28, 2008

ATAPUERCA

Como hoje mesmo se vai debater sobre tipos de gestão e salvaguarda do nosso Património, e um dos exemplos que vai ser considerado é o de Atapuerca, aqui na nossa vizinha Espanha, julgo vir a propósito deixar aqui um cheirinho do que se passa do lado de lá da fronteira, e uma parte do que está a ser feito.

Começo por dizer que Atapuerca é um pequeno município da província de Burgos, da comunidade autónoma de Castela e Leão, com pouco mais de 200 habitantes. Apesar de já existirem descobertas arqueológicas anteriores, é a partir da segunda metade da década de 70 (1976) que esta estação arqueológica começa a suscitar grandes atenções pelas descobertas de fósseis que nos fazem recuar no tempo, no que toca ao estudo dos humanos na Europa.

O lugar foi classificado pela Unesco e à medida que avançam as escavações e se estudam os fósseis descobertos, começou a tornar-se claro que os primeiros seres humanos alcançaram a Europa, pelo menos há um milhão de anos, e que naquele local se podia estudar o modo de vida desses remotos ancestrais graças aos inúmeros vestígios que foram sendo encontrados.

Não gosto de estabelecer paralelos, porque neste campo eles não têm nunca as mesmas características, mas posso afirmar que o apoio à actividade científica e à divulgação destes achados é substancialmente diferente à que foi e está a ser feita no Vale do Côa, ou em qualquer outro sítio arqueológico no nosso país. Mais, diria que a atenção das autoridades, por cá, não demonstram sequer cuidados mínimos na salvaguarda deste tipo de espólio, que até é bem vasto
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Nota: Deixo-vos alguns links de interesse sobre Atapuerca que demonstram bem o que acabei de afirmar.

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Pavel Constantin

quinta-feira, março 27, 2008

PATRIMÓNIO – GESTÃO E SALVAGUARDA

Vai realizar-se em Lisboa, na próxima sexta-feira no Padrão dos Descobrimentos, um debate sobre gestão e salvaguarda do património cultural e paisagístico, partindo de casos particulares como o Parque Arqueológico do Vale do Côa e a Fundação Atapuerca, de Espanha.

Esta iniciativa do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico (IGESPAR), até é uma boa ideia, mas peca logo à partida por ser um debate limitado e não público, e por não analisar e quantificar a experiência dos Parques de Sintra Monte da Lua, a quem está entregue a gestão do Parque da Pena, Monserrate e Palácio Nacional da Pena.

Conhecemos muito bem a experiência bem sucedida da Junta de Castela e Leão, um modelo excelente, mas em Portugal tal modelo é inviável até pelo modo centralista que tem caracterizado a acção do Ministério da Cultura, o que em Espanha não tem paralelo. Lamenta-se que este tipo de debates não seja aberto, mantendo-se num círculo fechado onde os intervenientes são escolhidos, e são os mesmos do costume.

Esperamos que apesar deste começo haja o discernimento de tornar públicas as teses deixadas em aberto neste debate, para que exista uma verdadeira discussão sobre a gestão do nosso Património, com o contributo de todos os que agora ficaram de fora na abordagem do tema, que interessa a todos.

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FOTOGRAFIA

Litvak.I

Litvak.I

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Medalha ... de peito

quarta-feira, março 26, 2008

RAPIDINHAS

Combustíveis – Os mercados são um quebra-cabeças para os cidadãos deste país, e o dos combustíveis não foge à regra. Enquanto a petrolífera nacional sobe a sua cotação no mercado de valores, e aumenta os seus lucros de exercício, os portugueses vão pagando a sua gasolina por um valor acima da média dos 15 da União Europeia. Talvez tenhamos carros a mais, mas em contrapartida temos dos piores transportes públicos, temos dos salários mais baixos o que se traduz normalmente em custos também inferiores, mas pagamos mais do que os outros. Esta equação tem algo de errado, mas ninguém parece notar.

Casar com o Fisco – O Zé costuma dizer que quem tem muitas ideias, é idiota e o nosso Fisco parece contribuir para essa ideia. Alguém teve a ideia peregrina de fazer com que os noivos servissem de fiscais de actividades económicas, preenchendo papelada onde respondem ao que o Fisco lhes pergunta. Ainda não vi as perguntas, mas ouvi na rádio uma que me fez ficar arrepiado, que era de saber quem tinha oferecido o vestido da cerimónia, o que me fez pensar se também seria necessário mencionar o tipo de lingerie, quanto tinha custado e quem a tinha oferecido. O ridículo por vezes mata, e lá vou eu de seguida consultar o obituário, para saber quem foi o infeliz que engendrou esta anedota.

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FOTOGRAFIAS

Melany

ilfom

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CARICATURAS DE POLÍTICOS

In gustavoduarteblog

...O Pensador in Blog de Caricaturas

terça-feira, março 25, 2008

A HISTÓRIA NÃO SE REPETE?

Costuma ser dado como dado adquirido que a História não se repete, e se quisermos ser absolutamente rigorosos, isso é verdade. Mas como tudo é relativo, a própria vida o é, podem sempre estabelecer-se paralelismo entre situações do mesmo tipo, ocorridas em épocas diferentes, e daí concluir quais as consequências prováveis.

Podia aqui falar do livro de Tom Holland, «Rubicão – o triunfo e a tragédia da República Romana», onde muitos insistiram em encontrar paralelismos entre o Império Romano e os Estados Unidos da América. O próprio autor admite que de algum modo é possível de facto estabelecer comparações. A leitura deste livro coloca-nos na pista da actuação do Império Romano, no que respeita ao modo como lidou com outras civilizações que de algum modo considerou como ameaçadoras para a hegemonia de Roma.

Mas não é apenas no campo literário que se estabelecem comparações entre o passado e o presente, isso também acontece na matemática. Claro que não estou a falar em jogos de computador, onde as simulações e a Inteligência Artificial já pretendem adivinhar os descontentamentos sociais, em jogos de estratégia, sempre que alguns sinais de desenvolvimento ou de bem-estar não são alcançados pelos jogadores. Falo de matemática pura, como prevê Ian Stewart, que em 2050, os fenómenos complexos já serão traduzíveis em números e equações com repercussões que neste momento nos parecem difíceis de conceber, como a previsão de fenómenos sociais.

A História não se repete, mas será do seu conhecimento profundo que retiraremos muitos dos ensinamentos que evitarão, ou talvez não, a repetição dos mesmos erros.

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Natalia Jeshoa

Natalia Jeshoa

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Sem mãos

Aviso de mãe

segunda-feira, março 24, 2008

QUESTÕES DE DIGNIDADE

Desta vez é de Espanha que vem o aviso “espanhóis vão fazer greves por portugueses”. Sei que alguns vão torcer o nariz, argumentando que tudo não passa de um aviso para a falta de trabalho para os próprios espanhóis, mas eu penso que é algo mais do que isso.

Nos últimos tempos temos assistido um pouco por toda a Europa à desregulamentação das leis laborais, acompanhada pela grande abertura à emigração, defendida por alguns sectores que tradicionalmente não o costumam fazer. Claro que me refiro a algum patronato que tem aproveitado a deslocação massiça de emigrantes, aos quais simultaneamente é dificultada a legalização, o que os transforma num grande contingente de mão-de-obra barata, sempre disponível ainda que com salários e condições de trabalho inferiores às que estão instituidas.

Em Espanha temos muitos compatriotas nossos, que recebem salários inferiores aos estipulados e trabalham mais horas do que as normais. Claro que são empurrados para estas situações devido ao desemprego em Portugal, e aos ainda mais baixos salários praticados deste lado da fronteira. Mas há que ter em conta que os salários em Portugal também estão a ser pressionados para baixo, devido ao elevado número de emigrantes à procura de legalização que se vão sujeitando aos baixos salários.

Este carrossel de emigração em busca de melhor situação, tem feito baixar o custo da mão-de-obra, mas não se tem reflectido de igual modo no custo de vida que obedece a uma outra lógica que comanda os mercados. Temos assim que o custo do trabalho tende a nivelar-se por baixo, enquanto o custo de vida segue em sentido contrário, especialmente em países como o nosso, com uma economia fraca e altamente dependente das importações, mesmo de bens alimentares.

Prefiro encarar esta atitude dos sindicatos galegos como uma reivindicação pelo respeito escrupuloso das leis laborais, e da defesa dos direitos de quem trabalha, em vez criticar sem fundamento a sua atitude.

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BELEZA EM IMAGENS
Øyvind Hansen

Lars Klottrup

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CARTOON

Jimmy Margulies

Mike Keefe

domingo, março 23, 2008

HOJE É DOMINGO

Tenho estado demasiado ocupado com a minha profissão, que nesta época não tem descanso, pelo que deixei passar em claro o Dia do Poeta. Pensei trazer aqui um poeta bem conhecido, mas como muitos o fizeram já, deixo-vos um menos conhecido, mas que ficou na memória das pessoas da zona onde resido há algum tempo, José Fernandes Badajoz "Poeta Cavador".

BELA VISTA
A minha casinha tem
Uma vista confortável
Dela tudo vejo bem
Respirando um ar saudável.
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Vejo os campos verdejantes,
Arvoredos e searas
Que nos mostram fascinantes
Suas belezas tão raras.
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Vejo Sintra, vejo a Pena,
Vejo a Serra - linda cena -
A rodear o Castelo
Vejo da minha casinha
A singela capelinha
Do meu Mucifal tão belo.
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Eu vejo bem à vontade
Monserrate e Piedade
E também a Eugaria,
Entre vinhas e pomares
Vejo a Vila de Colares
Minha linda freguesia.
*
Se a manhã é calma e bela
Depois de me levantar
Eu abro a minha janela
E, alongando o meu olhar,
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Vejo a Várzea e o Celão
E, por entre o arvoredo,
Mais ao longe vejo, então,
Almoçageme e Penedo.

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FOTOGRAFIA DE AUTOR


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CARTOON

Bob Englehart

Peter Broelman

sexta-feira, março 21, 2008

CULTURA E DIAGNÓSTICOS

Depois de um prolongado silêncio tivemos notícias de declarações do ministro da Cultura no parlamento, onde começou por admitir que os problemas orçamentais “são reais”. A escolha da Comissão de Ética, Sociedade e Cultura para divulgar pela primeira vez as grandes linhas que vai dar à sua tutela, parece-me que foi extremamente formal.

Devo recordar que foi José António Pinto Ribeiro que disse, e agora reafirmou, que “é preciso fazer mais e melhor com menos”, a que acrescentou a ideia de que é preciso “evitar desperdícios” enfrentando os problemas com “maior eficácia”. Pois bem, vamos então esperar para saber o que quis dizer com “o objectivo deste ministério (o da Cultura) é estabelecer objectivos de gestão claros”, e o que vai significar “não se pode continuar numa lógica de esbanjamento”.

Como em quase todas as coisas da vida, é mais fácil teorizar do que realizar, e nas questões do Património, as ideias lançadas pelo senhor ministro da Cultura deixaram fortes interrogações e mais preocupações. A sua abertura á transferência da gestão dos museus para as autarquias, sempre que haja benefícios, não é consensual nem pacífica, até porque não estão especificados quais os museus e/ou monumentos que eventualmente poderiam passar a ter gestão privada, nem se pode esperar que esse processo seja realizável a curto prazo dadas as garantias necessárias e as exigências burocráticas e contratuais que tal processo envolve.

Não é só o futuro que traz muitas incógnitas, com este enunciado de intenções do ministro, o presente também não é claro. A insuficiência de pessoal, ao contrário do que afirma o ministro, não é passível de ser resolvido com o recurso ao voluntariado. Estamos em Portugal, senhor ministro, não estamos nos Estados Unidos. Neste assunto foi evidente o desconhecimento de Pinto Ribeiro, da realidade dos museus e monumentos nacionais. Não terá certamente reparado que nem nos museus nem nos monumentos há visitas guiadas, e que em alguns destes serviços a média de idades dos funcionários do quadro atinge os 55 anos de idade e até um pouco mais.

Na realidade o senhor ministro confunde realidades diversas, a portuguesa e a americana, como se os nossos museus estivessem instalados em edifícios construídos e equipados de raiz para essas funções, tivessem tido obras de manutenção e de modernização cuidadas, e um certo grau de autonomia de gestão. Também no aspecto de voluntariado, em que fala de pessoas reformadas, também parece esquecer que no exemplo que deu dos Estados Unidos, esse voluntariado é maioritariamente feito por jovens estudantes, pelo menos nas áreas do atendimento ao público. Podia equacionar aqui também os problemas de segurança, mas já abordei isso ontem.

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O Zé e todos os que colaboram neste espaço, desejam uma Páscoa Feliz a todos os leitores amigos.
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errol by palominodweezil

pukul delapan by ReisLie

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Easter2008 by myszowor

Kotori

quinta-feira, março 20, 2008

SEGURANÇA NOS MUSEUS

Este tem sido um assunto tabu, que nunca é abordado em público, nem discutido entre autoridades e os funcionários dos museus em Portugal. Foi com alguma surpresa que vi esta temática abordada por uma conservadora do Museu e Arquivos Históricos da Polícia Judiciária.

Achei que em linhas gerais o que li está de acordo com o que o bom senso e as boas práticas recomendam, mas a realidade dos nossos museus e monumentos está a anos-luz do que é recomendável. Não vou naturalmente entrar em detalhes, mas pego em duas áreas que foram abordadas por esta conservadora, onde já podia haver muito trabalho feito, e que ainda não começou verdadeiramente.

As dificuldades económicas podem atrasar a implementação dos meios mecânicos e electrónicos ligados à prevenção e detecção, mas não são os únicos que são necessários. O que é indispensável é a formação e motivação dos funcionários dos museus e a existência de planos de segurança nas duas áreas vitais, a prevenção e a emergência. É aqui precisamente que está uma das falhas mais gritantes do sistema, porque ao contrário do que devia ser, há cursos para pessoal dirigente, que não actua directamente no terreno por estar ausente durante grande parte do tempo em que os museus estão em funcionamento, nem passa a informação necessária nestas vertentes aos seus funcionários.

À falta de formação junte-se o elevado número de pessoas com vínculos precários que trabalham nestas instituições, e estamos perante uma situação que não devia existir, numa área tão sensível como o Património, em que grande parte das peças além do seu grande valor é quase sempre insubstituível. Sem um grande investimento e com a colaboração das autoridades ligadas à segurança, é perfeitamente possível fazer-se formação a sério dirigida a quem está no terreno, em vez de conferências e simpósios onde vão apenas os altos responsáveis para enriquecer os seus longos currículos, mas que na prática não acrescentam nada à segurança dos nossos museus.


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Фролов Дмитрий

Фролов Дмитрий

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quarta-feira, março 19, 2008

A ETERNA INJUSTIÇA NOS MUSEUS

Os trabalhadores da Administração Pública vão beneficiar de tolerância de ponto na parte da tarde de Quinta-feira Santa. Claro que não são todos, porque é só para os serviços públicos “não essenciais na época da Páscoa". Isto quer dizer por exemplo, que vamos ter centros de saúde encerrados na quinta-feira à tarde, repartições de finanças, autarquias, ministérios, etc., mas vamos ter abertos museus, palácios e monumentos, não só na tarde de quinta-feira mas também na Sexta-feira Santa.

Até se poderia considerar uma situação normal caso os funcionários abrangidos por esta excepção, também tivessem consagrado um regime de horários excepcionado, mas isso não acontece. Para dizer a verdade, nem têm um horário consagrado em Lei ou regulamento aprovado, pelo que, legalmente, se deviam reger pela lei geral, e portanto deviam estar abrangidos pela tolerância de ponto e pelo feriado.

Esta situação aberrante é do conhecimento do Ministério da Cultura há pelo menos 15 anos, leram bem, que ignorando o postulado da Lei obriga os guardas de museu a apresentarem-se ao serviço nas tolerâncias de ponto e aos feriados, sob pena de aplicação de falta injustificada. O argumento de serviço público essencial, não colhe pois até já nem existe, e portanto não existe sustentação legal para tal exigência.

Dir-me-ão que é desejável que os museus, palácios e monumentos estejam abertos nestes dias, e têm a concordância absoluta dos trabalhadores destes serviços, com a devida compensação devida resultante de horários excepcionados, que realmente praticam. Aqui é que bate o ponto, e o Ministério da Cultura, quer impor este tipo de horário, sem ter que assumir os custos que a justiça recomenda.

Todos sabem que importa amealhar as verbas referentes ao elevado número de entradas de visitantes que acorrem a estes locais na época da Páscoa, mas se para isso se sacrifica um grupo profissional, então reconheça-se esse sacrifício, e não estou a falar só destes dias, mas também dos 52 fins de semana do ano, em que estes serviços estão igualmente abertos ao público.


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GRAFISMO COMPUTORIZADO

Monica Trica

Monica Trica

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Improvisar

terça-feira, março 18, 2008

VITALINO O PROVEDOR

Começo por esclarecer que quando me falam de provedor de qualquer coisa, a primeira imagem que me vem à cabeça é a do Grilo Falante da história do Pinóquio. Não sei se esta analogia tem algo a ver com o simbolismo destas entidades, ou com a consciência de que algo tem de ser moralizado.

Li uma extensa entrevista de Vitalino Canas ao DN, e fiquei a saber que o senhor deputado, por acaso do PS, entre variadíssimas actividades acumula também a de Provedor do Trabalhado Temporário. Atendendo ao título “Há centenas de ilegais no sector”, julguei que algo estava a mudar pela intervenção deste provedor, mas lendo a notícia toda fiquei naturalmente decepcionado já que o próprio acaba por dizer que “é uma instituição da sociedade civil (?), pelo que não tenho poderes de autoridade e de fiscalização”. Afinal nada vai mudar, conclui.

Apesar de estar em funções à pouco tempo (?), desde Julho de 2007, achei que Vitalino Canas é um optimista, já que está a certificar as empresas de trabalho temporário, e espera que estas informem os trabalhadores sobre a existência de um provedor que zelará pelos seus direitos e pelo respeito da lei e que lhes facultem a brochura que publicaram. Confesso que fiquei um pouco confuso ao saber que só cerca de 30 empresas aderiram ao provedor, até porque não consigo distinguir quais é que são de trabalho temporário e quais é que não são, tal a dimensão que o fenómeno (ou será praga?) atingiu neste país.

Este defensor do Trabalhador Temporário afirma ainda “tenho uma visão mais liberal da lei do trabalho”, acrescentando mesmo que uma legislação mais liberal interessa mais aos trabalhadores do que aos grandes empregadores. Mas disse mais, “a minha ideia não é chegarmos ao nível da China ou da Índia, mas chegarmos ao nível dos países mais avançados da Europa”, e quando confrontado sobre o facto de estar a falar da flexigurança, que prevê acesso à educação, formação, saúde e forte protecção social no desemprego, respondeu laconicamente, “claro, concordo”, nada mais.

Fiquei elucidado sobre o papel do senhor Vitalino Canas, enquanto provedor, embora na minha opinião, eu ache muito sinceramente que não o é do Trabalhador Temporário, mas sim do Empregador Oportunista. Claro que a minha opinião não é abalizada, nem conta para nada, mas é a minha!

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R.J. Matson

Patrick Chappatte