sexta-feira, junho 29, 2018

A TRADIÇÃO

Tal como aconteceu há um ano, hoje fui comer uma sardinhada, e uma salada mista, acompanhadas por um jarro de sangria como deve ser.

Nem sempre consegui festejar assim o dia de S. Pedro, por causa dos deveres profissionais, mas sabe-me sempre muito bem...


quarta-feira, junho 27, 2018

HÁBITOS DE HIGIENE


Um pouco como acontecia por toda a Europa, Portugal foi assolado por epidemias, sobretudo nos séculos XIV e XV, com surtos muito expressivos de peste bubónica e de peste negra, que causaram um grande pânico entre as populações.

As grandes precauções tomadas na época incidiam sobre a abstenção dos prazeres sexuais, a moderação no comer e também o uso de poucos banhos.

Até ao século XVIII a higiene corporal incidia sobretudo sobre as partes expostas, as mãos e a cara, sendo que o resto do corpo não merecia tanta importância. A limpeza era apenas cosmética e não real, bastando parecer limpo, e quase que bastava mostrar os punhos e colarinhos brancos imaculados para se estar “limpo”.

Existiam, é certo, os banhos de vapor e de água, mas destinavam-se a outros tipos de prazer. Os banhos de água quente ainda tinham o seu fascínio, especialmente os de carácter colectivo, mas estavam associados a actividades grupais e eróticas, em tabernas, bordéis e outros lupanares.

Os mosteiros e conventos continuam a seguir a tradição dos banhos romanos, mas com a vertente dedicada à saúde. A alta nobreza gosta das estâncias termais, para nadar, e também associadas às sangrias, e purgas.

Curiosamente era nos mosteiros e nos conventos que o hábito dos banhos, dois a quatro anuais, era mais frequente, acompanhados pelo corte do cabelo (tonsura) e da semanal lavagem dos pés. Era comum existir lavabos perto dos refeitórios, e o abastecimento de água aos mosteiros e conventos era bem pensado e eficaz, recorrendo-se a condutas bem pensadas desde rios, minas de água ou até aquedutos construídos para o efeito.

O Convento de Mafra é um dos locais que merece reflexão nesta matéria, pois tanto a parte conventual como a própria basílica tinham um abastecimento eficaz, mas o andar nobre reservado aos reis não tinha abastecimento de água, que tinha de ser trazida pelos criados para os aposentos reais.   



sábado, junho 23, 2018

TEMOS UM PROBLEMA DEMOGRÁFICO

Foi notícia o facto de o governo querer atrair 75 mil imigrantes por anos para combater um problema demográfico, o que levanta algumas questões que importa equacionar.

Portugal tem de facto um problema demográfico e isso não deriva de dificuldades em gerar filhos, o que poderia justificar essa medida, mas sim de natalidade, que tem razões que importa discutir.

Problemas como a instabilidade laboral, a precariedade, a dificuldade em encontrar habitação condigna, e os baixos salários praticados, são algumas das dificuldades que os nossos jovens encontram quando pretendem formar família, e eventualmente querem ter filhos.

As políticas laborais continuam a ser favoráveis ao patronato, os contratos a prazo e os estágios proliferam, o preço das casas e a não existência do mercado de arrendamento são uma realidade, e os baixos salários continuam a forçar os jovens a procurar outras paragens.

Quando se fala numa solução para os problemas demográficos, e se aponta para a atracção de imigrantes para a suprir, estamos na realidade a dizer que pretendemos continuar a praticar uma política de baixos salários, mais precariedade e de mais especulação imobiliária.


Como diria Abraham Lincoln, “pode-se enganar a todos por algum temo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo.”


quinta-feira, junho 21, 2018

UMA VAGA DE MUSEUS

Ainda continua a polémica em torno do anunciado Museu das Descobertas, ou dos Descobrimentos, e já começou outra discussão, agora sobre o Museu do Terramoto.

Nos dois casos acima mencionados está envolvida a Câmara Municipal de Lisboa, sendo que no primeiro a ideia terá partido do próprio presidente, e no segundo existe já uma cedência de espaço camarário em zona nobre de Lisboa para a sua implementação.

Sobre o primeiro museu, o das Descobertas, já manifestei a minha opinião, e curiosamente sobre o segundo, o do Terramoto, a opinião é quase a mesma.

Quando questionado sobre o projecto do Museu do Terramoto, Ricardo Clemente (um dos promotores da ideia) afirmo que não queria estar preso a uma catalogação, acrescentando que “não é definitivamente um museu, nem um centro de interpretação como estamos habituados a ver, é uma mistura de alguns destes ingredientes”.

Curiosamente a mesma definição também me foi sugerida quando perguntei, a respeito do Museu das Descobertas, sobre o seu acervo e sobre a mensagem que se queria transmitir.


Está visto que são duas ideias pouco definidas e muito pouco trabalhadas, que podendo ser potencialmente estimulantes, não têm ainda pés para andar. Há tanto que fazer pelos museus e monumentos já existentes que não faz sentido perder mais tempo e energias com estes projectos ainda em estado embrionário.












A ideia terá partido daqui?

terça-feira, junho 19, 2018

MIGRANTES E RACISMO NO OCIDENTE

O chamado mundo ocidental, grande arauto da Liberdade, da Democracia, e da defesa dos Direitos Humanos, afunda-se na confusão e nos populismos com características bem próximas dos extremismos que alimentaram o tão odioso fascismo que muitos julgavam morto e enterrado.

Nos Estados Unidos pontua um dirigente arrogante e completamente desequilibrado, que se julga o dono da verdade e o senhor do mundo, que além de desestabilizar o mundo criando situações políticas e económicas, também mostra um absoluto desprezo pelos Direitos Humanos, como se pode constatar com a política de “tolerância zero”, que está a originar a separação de famílias migrantes com o espectáculo degradante que as redes sociais divulgaram.

Na Europa o exemplo maior vem da Itália onde o ministro do Interior Matteo Salvini manifesta a intenção de fazer o recenseamento dos ciganos em Itália, com o intuito de expulsar todos os que estejam em situação irregular, e chegou mesmo a acrescentar que “quanto aos ciganos italianos, talvez tenhamos de ficar com eles”, mostrando claramente o seu desgosto.


A continuarmos assim, o futuro não augura nada de bom para o mundo… 


domingo, junho 17, 2018

OS PORTUGUESES E O PATRIMÓNIO

Portugal continua a ser, dos países europeus, um dos que compara pior com os seus parceiros, no que respeita a visitantes nacionais nos seus museus e monumentos, ficando mesmo a cerca de metade da média europeia.

Por um lado temos a registar um aumento das visitas aos museus e monumentos, mas sobretudo à custa do aumento de estrangeiros e das visitas grátis, o que é sintomático. Apesar do aumento total de visitas o número de funcionários não subiu na mesma proporção, apesar de algumas admissões, porque também se verificaram saídas por aposentação, e saídas para outros ministérios, que dispararam nos últimos anos.

Um dado curioso é o das receitas geradas neste sector, que apesar da escassez de recursos humanos, especialmente no acolhimento dos visitantes, é muito significativo no panorama das receitas geradas pelos diversos sectores culturais.

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sexta-feira, junho 15, 2018

A AUTO FLAGELAÇÃO LUSA

A propósito do nome dum hipotético museu, cuja designação podia ser “Museu das Descobertas”, ou “dos Descobrimentos”, surgiram vozes e textos de quem se insurgia contra qualquer das designações, por acharem que qualquer dos nomes era incorrecto, e poderia ofender povos com os quais convivemos no passado, e que dominámos praticando actos que hoje condenamos, enquanto sociedade civilizada.

Já manifestei em vários locais a minha opinião, sou contra a censura (trata-se disso) destes nomes, só porque alguns de nós se pretendem autoflagelar por factos praticados por portugueses há centenas de anos. O mundo mudou, as consciências também, e a verdade é aquilo que nós devemos deixar ao mundo, pois será ela que nos redimirá.


Como diria Millôr Fernandes, “há duas coisas que ninguém perdoa: as nossas victórias e os nossos fracassos”. Neste caso o nosso fracasso será escamotear a História de algum modo, só porque não assumimos o que os nossos antepassados fizeram, só porque hoje isso não é politicamente correcto.


quarta-feira, junho 13, 2018

AS PROMESSAS DA CULTURA PARA MAFRA EM 2018

O ano de 2018 pode vir a ser um ano em grande para o Real Edifício de Mafra e para a Cultura no concelho, porque as promessas são várias faltando só ver tudo cumprido.

O Tricentenário foi celebrado em 2017 e muita gente lamentou que no Palácio de Mafra não tivessem tocado os dois carrilhões, característica única do monumento, só partilhada pelos seis órgãos da Basílica.

Este ano prevê-se que comecem os trabalhos de recuperação dos carrilhões, que seja instalado um elevador no monumento, e por último a instalação do espólio do barroco sacro e profano do século XVIII, bem como um sector dedicado às bandas filarmónicas e militares.


Por enquanto são tudo promessas por realizar, mas nada como esperar, pois até ao fim deste ano ainda há tempo para se poder aquilatar da vontade política em cumprir honrar a palavra dada.  


segunda-feira, junho 11, 2018

RELIGIÃO

O comportamento ético do homem deve basear-se eficazmente na compaixão, na educação e nos laços sociais, e não necessita de base religiosa. Triste seria a condição humana se os homens precisassem de ser refreados pelo temor do castigo ou pela esperança da recompensa depois da morte.

Albert Einstein


sábado, junho 09, 2018

CULTURA ESQUECIDA DA MEDICINA NO TRABALHO


Num círculo de amigos, todos já entradotes, a conversa encaminhou-se para as doenças e para as queixas que quase todos temos e nem sempre tornamos públicas.

O pessoal, todos na casa dos sessentas, foi falando do assunto e veio a lume o modo como cada entidade patronal encara a saúde dos seus funcionários, o modo como vai gerindo o seu envelhecimento, e como se comporta atendendo às suas obrigações.

Alguns de nós já alcançaram a reforma, ou porque estavam em boas empresas, ou porque aproveitaram bons tempos para o fazer. A maioria ainda está no activo, em empresas que aproveitam bem a experiência e em trabalhos com menos desgaste físico, em profissões liberais, mas também alguns em entidades sem qualquer consideração pelos colaboradores (como gostam de dizer), estagnados nas suas carreiras e sem qualquer alívio nas funções mais desgastantes, bem como sem qualquer respeito pelas obrigações legais.

É sintomático constatar que é precisamente no Estado, mais concretamente (no grupo que frequento), na Cultura (museus, palácios e monumentos) que chegámos à conclusão que NUNCA, os funcionários tiveram ocasião de ser observados pelo médico da Medicina no Trabalho, nem foram mandados fazer exames tão simples como um electrocardiograma, ou umas análises ao sangue e à urina.

No grupo restrito dos museus, monumentos e palácios, éramos 3, e em conjunto passámos por 6 serviços diferentes, sendo que nenhum de nós tem menos de 30 anos de serviço na área, o que não abona nada de bom para o Ministério da Cultura, que pelos vistos tem problemas em cumprir a legislação vigente, também nesta matéria.   


domingo, junho 03, 2018

A PRIVACIDADE DOS RICOS

Há muito tempo que discordo com as opiniões de António Barreto, mas quando ele vem afirmar que “é difícil perceber por que razão é moralmente aceitável publicitar as dívidas dos ricos e não as de toda a gente. Ou por que será razoável divulgar qualquer dívida que seja”, então as nossas diferenças de pensamento ainda aumentam mais.

Falava o pensador, ou filósofo, a propósito de haver quem deseje, melhor, exija, que sejam divulgados os nomes dos grandes devedores (cujas dívidas foram consideradas incobráveis), da Caixa Geral de Depósitos e dos bancos que recorreram a dinheiros públicos para se aguentarem no mercado.

O argumento da igualdade até podia colher, mas não existe essa igualdade, não só perante a banca, como também perante a Lei.

O senhor AB começa por não perceber que estamos a falar de pessoas que tiveram acesso a montantes de dinheiro que nunca estariam ao alcance de nenhum cidadão normal, pelo que é do mais elementar interesse público saberem-se os nomes dos grandes devedores, pois seria fazer meio caminho para se perceber quem permitiu esses empréstimos, e talvez por que razão.


Quanto à razoabilidade da divulgação de dívidas, creio que AB tem andado muito distraído, pois o fisco já o faz há bastante tempo e nunca se ouviu da sua boca, ou da sua pena, uma palavra de condenação.