sexta-feira, agosto 31, 2007

A CRÍTICA DE PACHECO PEREIRA

Sou leitor intermitente de Pacheco Pereira no Abrupto, e não pude deixar de ler o artigo “ Diário da crise no PSD escrito em rongorongo (31)”, onde o militante do PSD critica as posições do Presidente Cavaco Silva e do presidente do seu próprio partido, Marques Mendes, sobre o caso da directora do Museu Nacional de Arte Antiga.
Confesso que me surpreendeu um pouco a sua posição, ainda que do ponto de vista formal esteja correcta. O autor do Abrupto critica o apoio dado tanto por Marques Mendes como por Cavaco Silva, por este caucionar um acto inadmissível numa funcionária pública no exercício das suas funções, terminando por afirmar que o assunto “é uma questão de Estado”.
Claro que a sua opinião é legítima, como qualquer outra, e que tem fundamento legal, mas mesmo assim algo estranha para quem o conhece como livre pensador e como um político que mesmo sendo militante dum partido, nunca se eximiu de manifestar a sua opinião, muitas vezes discordantes, em relação a diversas matérias apresentadas pelo PSD.
O que me confunde ainda mais, é que fiquei com a sensação de que PP desconhece os antecedentes desta embrulhada toda e o que realmente está em causa. O modelo de gestão actual dos museus, palácios e monumentos tem sido motivo de contestação, cá dentro e lá fora, e o nosso é dos poucos, para não dizer o único, porque não conheço a maioria dos países que entraram recentemente para a UE, em que nem os museus e monumentos com maior projecção e geradores de maiores receitas, têm alguma autonomia de gestão.
O centralismo de todas as decisões de gestão num só instituto, é um erro crasso e origina a quase paralisia dos serviços que tutela. Claro que há quem conviva bem com a situação, é mais cómodo, dá menos trabalho e não responsabiliza quem está dependente da tutela, mas isso não são virtudes do sistema, muito pelo contrário.
A discussão foi relançada já há algum tempo por Dalila Rodrigues e até vieram ao nosso país individualidades estrangeiras que falaram sobre outros tipos de gestão possíveis e até já testados, mas nem o Ministério da Cultura, nem alguns directores de museus gostaram muito das ideias nem sequer foi aberta uma discussão alargada sobre o assunto, pois já estava em marcha uma nova lei orgânica que mantinha o status quo vigente.
Pacheco Pereira condena a atitude da directora do Museu de Arte Antiga por enfrentar a tutela com a sua opinião, baseando-se na quebra do dever de lealdade, eu questiono-me se dessa atitude de Dalila Rodrigues, a tutela não tira nenhum ensinamento útil para revitalizar os museus, dando-lhes maior visibilidade, porque cá estaremos para ver se com a gestão centralizada, alguém consegue dar a volta ao marasmo em que vivemos.

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FOTOGRAFIA
Erlend Hansen

Limet

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CARTOON

Delestre
Ranson

quinta-feira, agosto 30, 2007

O CONTROLO DA INTERNET

Estamos todos conscientes dos perigos e do imenso lixo que existe na Internet, mas também há que reconhecer os mananciais de conhecimento, de informação e de liberdade que nos proporciona. As opiniões dividem-se um pouco quando se fala em regulação, com os que valorizam mais os perigos e os medos, e com os que dão mais importância à liberdade, informação e difusão do conhecimento.
Estas duas visões, aparentemente antagónicas, estão a ser aproveitadas por alguns poderes para tentarem implementar uma entidade reguladora que, na minha modesta opinião, é um perigo global.
Não é por acaso que Vint Cerf, “o pai da Internet” anunciou a sua rejeição a tais propósitos de regulação. Disse, e muito bem, que a Internet é apenas «um reflexo da sociedade em que vivemos» e acrescentou «Talvez seja importante olharmos para a sociedade e fazermos algo sobre o que está a acontecer, o que estamos a assistir». Para rematar afirmou que «é um erro separar entre o que é colocado on-line e o que acontece no mundo exterior».
Embora aceite como genuínos alguns receios de quem não domina minimamente a tecnologia, principalmente por não poderem informar devidamente os seus filhos, outros há que acenam com os medos apenas com o intuito de manter sob controlo as opiniões diversas que abundam no meio, começando pelas que lhes são desfavoráveis. Sei que posso desencadear comentários menos favoráveis com esta opinião, mas não gostaria de ser controlado por perto como acontece na China. Quanto aos perigos da Internet, que não nego existirem, e até há muitos, deixo apenas as palavras da sabedoria popular: “Onde está o homem, está o perigo”, o resto já está tudo nas palavras de Vint Cerf.

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FOTOGRAFIA NO FEMININO
Rolf-Ørjan Høgset

πr²

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MUITO OBRIGADO

Certificado atribuído pela Maria Faia do Querubim Peregrino a quem agradeço do fundo coração. Gostaria de nomear alguns dos meus amigos, mas temendo ser injusto, e porque os meus interesses são bastante variados o que torna qualquer critério que utilize, injusto, dedico-o a todos os que constam da minha lista de links.

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CARTOON
Dan Reynolds

quarta-feira, agosto 29, 2007

FÓRUM CULTURAL EUROPEU EM LISBOA

A notícia de que o Ministério da Cultura organiza de 26 a 28 de Setembro um Fórum Cultural para a Europa no âmbito da presidência portuguesa da União Europeia foi divulgada na última semana através pela Lusa.
A presença da ministra da Cultura na abertura também constava da notícia, bem como os três temas principais: o diálogo intercultural, a economia da Cultura e a relação da Europa com o resto do mundo.
Parece-nos que o gabinete de relações internacionais do Ministério da Cultura, não terá divulgado o local onde se realizará este Fórum Europeu, pelo menos não consta da notícia, nem avançou com os nomes dos participantes dos workshops sobre os temas em destaque.
Será curioso saber se também vão ser discutidos os diferentes modelos de gestão dos equipamentos e serviços culturais, que cabem perfeitamente no tema da economia da Cultura e se vão ser divulgados na íntegra, os debates sobre os diversos temas.
A Cultura e as suas estratégias só poderão ter sucesso se forem conhecidas e debatidas com as populações, que são os seus únicos e verdadeiros produtores e destinatários. As elites, por mais sábias e cultas que sejam, nunca poderão determinar os gostos dos povos, ainda que algumas vezes os tentem condicionar.

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FOTOGRAFIAS
Sondre Steen Holvik

Magnar Børnes

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CARTOON

terça-feira, agosto 28, 2007

segunda-feira, agosto 27, 2007

AS ESTATÍSTICAS E A REALIDADE

Pela enésima vez venho manifestar a minha descrença nos dados estatísticos divulgados. Um dos títulos escarrapachado na página de Economia do DN dizia, “Salários mais altos triplicam os menores”, e logo abaixo, “Desigualdade. No mundo do trabalho por conta de outrem, a desigualdade não cresceu nem diminuiu. Em média, os 10% mais bem pagos continuam a ganhar três vezes mais do que os 10% que menos recebem pelo trabalho”.
A acreditar no que relata o jornal nas letras gordas a meio do corpo do texto “380 euros é o valor até ao qual vai o ordenado líquido mensal dos 10% mais mal pagos no País”, pelo que fazendo a simples multiplicação por 3, chegamos ao valor médio dos mais bem pagos que será de 1.140 euros líquidos mensais (?). Ou a matemática é uma batata, ou algo está errado no título da notícia.
O abuso de estatísticas para fins duvidosos de que falava Cavaco Silva, está bem patente nestes números, pois não reflectindo a realidade, nem pouco mais ou menos, conduz à conclusão referida “A desigualdade não cresceu nem diminuiu”, que também não é verdadeira, pois como se sabe, e foi também amplamente divulgado por toda a imprensa, foi nos altos cargos de direcção e gestão das empresas, que se verificaram os maiores aumentos salariais nos últimos anos.
Os portugueses merecem ser informados e não intoxicados com propaganda.

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ASSÉDIO TABAGISTA

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FOTOGRAFIA

Helge Rudschinat Grønli

Susie

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Tab (Thomas Boldt)

domingo, agosto 26, 2007

SOBRE A HISTÓRIA

Não tenho formação específica na matéria, nutro simplesmente alguma curiosidade sobre o assunto limitando-me a ler sobre o assunto e por vezes discuto alguns temas com amigos cuja actividade está directamente ligada à História.
Ontem à tarde a discussão versou sobre a História recente de Portugal, e foi absolutamente consensual que ainda não passou o tempo necessário para a escrever, nem as provas documentais estão reunidas de modo a, ser possível confrontar as teorias prevalecentes, com os factos registados e comprovados na época.
Invariavelmente vem-me à memória a frase dum professor de história do liceu que frequentei, o Dr. P. Dias, afirmando que “a História não é como as ciências exactas, reescreve-se sempre que as evidências contrariam o que era até então tido como verdadeiro”. Este “simples” professor de História dos liceus, tinha sido um promissor catedrático, que se atreveu a contrariar o mito do Infante D. Henrique e da Escola Náutica de Sagres, tão cara ao regime, pelo que se viu obrigado a rumar a Moçambique, onde lhe foi permitido leccionar a disciplina de História a aluno liceais.
A sua teoria, baseada em profusa documentação, que na altura lhe foi apreendida, viria mais tarde a ser reconhecida e apoiada por outros historiadores como o professor A. H. de Oliveira Marques.
Na História recente também há muita coisa que se difunde como verdades históricas, mas que apenas se baseiam na “verdade oficial”, que importa cruzar com os arquivos de outras fontes de informação externas ao poder e outras constantes de arquivos de países estrangeiros com quem tivemos à época boas ou más relações.
O meu fascínio pela História, deriva em parte dos bons professores que tive, embora não fosse um aluno brilhante, mas sobretudo pelas surpresas que vão surgindo e nos obrigam a repensar o que tínhamos como certo.

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FOTOGRAFIA
Petter Schou

Seigman

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Bob Englehart

sábado, agosto 25, 2007

AS (MÁS) CONTAS DOS PARTIDOS

Já todos lemos notícias sobre irregularidades nas contas dos partidos políticos, e também ouvimos as esfarrapadas desculpas, sejam lapsos, dificuldades de controlo de todas as contribuições e despesas nas distritais, lapsos processuais, e até já tentaram culpar as novas leis que complicam essa prestação de contas com o rigor exigido.
O cidadão comum não merece a mesma complacência por parte do fisco, que aplica, logo que detecta alguma irregularidade, os procedimentos legais e remete para posterior apreciação os recursos que eventualmente o contribuinte venha a interpor.
Claro que há diferenças entre o comum contribuinte e um qualquer partido político, mas todas são desfavoráveis aos partidos, pois o desconhecimento dos preceitos e normas legais, não são desculpa que colha adeptos na opinião pública.
O caso que envolve o PSD e a Somague, é um caso muito sério de financiamento ilegal, pelo que vem descrito na imprensa, e merece ser tratado com o rigor previsto na lei. A actividade dos nossos políticos já não merece a confiança da maioria dos cidadãos, e casos destes atiram ainda maior descrédito para cima dos políticos.
Eu há muito que voto em branco por achar que a nobre actividade política está a ser praticada por pessoas sem coerência de princípios e outros de muito baixa qualidade moral e intelectual. A política não merece estar nas mãos de tão maus intérpretes, pois é uma actividade muito nobre, quando exercida com justiça e sem qualquer subordinação a interesses, mas isso, dizem-me, é uma utopia. Pode ser, mas nesse caso não lhes dou o meu voto!

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FOTOS - OS BICHOS
ANF
Чаk

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Cameron (Cam) Cardow

sexta-feira, agosto 24, 2007

O INCÊNDIO EM SINTRA

Fez a casualidade, que um incêndio viesse a alterar os meus afazeres de ontem. Por acaso estava na zona Sintra ao final da manhã, quando se verificou um incêndio que acabou por tomar grandes proporções ao final da hora de almoço, mantendo-me retido no local por efeito de terem sido bloqueadas diversas estradas da zona. Estragado o dia por não me poder deslocar aos sítios que tinha programado, resolvi ficar junto das autoridades que comandavam o transito, pois sempre era o local onde se ouviam as últimas novidades, quer através dos rádios quer por parte de alguns cidadãos da zona que iam comentando os acontecimentos, contactando furiosamente amigos e familiares através dos telemóveis.
Pode parecer que o drama do fogo não me tocava, o que não é verdade, mas a curiosidade era mais forte e as informações e comentários eram também muito interessantes, pelo que não arredei pé do local.
Fiquei a saber que o presidente da Câmara Municipal de Lisboa tem uma casa na zona onde o fogo lavrava, e que, pelo menos alguns bombeiros foram enviados com urgência para o local, de prevenção. Vila qualquer coisa, penso que Catarina, segundo a voz roufenha saída dos rádios. Também ouvi de diversos populares, referências a diversas casas de mais de uma dezena de políticos, situadas em zonas limítrofes da área que entretanto ía ardendo, desde o PS até ao PSD e até ao CDS. Fiquei espantado com a quantidade de ilustres que escolheram Sintra como segunda residência, porque parece que não residem por lá todo o ano, isto de acordo com o que ouvi.
O comentário mais caricato que ouvi, foi sobre os bonés da protecção civil, pois parece que foram solicitados alguns, para adornar algumas cabeças talvez menos habituadas a eventos desta natureza, e que não estavam suficientes no teatro de operações. A chegada das televisões também foi anunciada com a devida antecedência, bem como a das individualidades que se juntavam na zona de comando das operações.
Já à noite, em frente à televisão pude descortinar os tais bonés, as individualidades e toda aquela organização, que me deu a sensação de ser bastante desorganizada, que acabou por circunscrever o sinistro. Ouvi também os elogios rasgados e a referência à colaboração do senhor presidente da Câmara de Lisboa, que tinha sido o primeiro a ficar sem a água da sua piscina, que até tinha sido utilizada no combate ao fogo.
Meus amigos, afinal não perdi grande parte do dia como disse, pelo contrário, constatei que por vezes só estando mesmo nos locais por onde circula a informação, não filtrada, é que se sabem coisas que os órgãos de comunicação não apanham nem reproduzem.
Nota do autor: O Zé não percebe nada de fogos, nem de tácticas de combate aos mesmos, como é evidente, pelo que se limitou a ir registando o que ouvia ao seu redor, que é o que pode relatar aqui.


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FOTO - NÚ

NNNNNN1

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CARTOON
Dilem

quinta-feira, agosto 23, 2007

REGULADOR PREVISÍVEL

A notícia até nem merece realce nos jornais ou na comunicação social em geral, mas a “ERC iliba Sócrates de pressionar media”.
Ninguém terá ficado admirado com a decisão, que era perfeitamente previsível, e o destaque fica apenas para uma opinião do conselheiro Gonçalves da Silva que não foi no mesmo sentido da decisão tomada.
Conclui-se então que, José Sócrates não exerceu pressão junto de alguns órgãos de comunicação social, nem teve intenção de impedir qualquer investigação ou divulgação da mesma, sobre o caso relativo ao seu percurso académico.
A voz discordante da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), fica registada. Haverá sempre alguém que se atreverá a pronunciar-se contra, mesmo que em minoria. Em Portugal sempre que alguém não obedece ao politicamente correcto, é notícia com interesse.

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FOTOGRAFIA - CONTRASTES
amaranth by =Princess-of-Shadows

An incovenient truth... by ~Wa-chan

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Michael Ramirez

Mike Thompson

quarta-feira, agosto 22, 2007

NOS PÍNCAROS DO MONTE DA LUA

Já abordei aqui algumas vezes o caso “estranhíssimo” que é o funcionamento do Palácio Nacional da Pena. Trata-se de um monumento classificado, cuja tutela transitou recentemente do, entretanto extinto, IPPAR para o novo Instituto dos Museus e da Conservação (IMC, I.P.), de acordo com a Portaria nº 377/2007 de 30 de Março, mas que, por mecanismos que não são do domínio público, está a ser “comandado ou gerido” pelos Parques de Sintra – Monte da Lua, uma sociedade anónima de capitais públicos.
Todo este imbróglio que envolve a gestão do Palácio Nacional da Pena, é apenas a ponta dum novelo ainda mais misterioso, que se prende também com os preços praticados nas bilheteiras desde os princípios de Agosto deste ano.
Acreditem meus amigos que o que está indicado a seguir é retirado da página da sociedade anónima PS – ML:
Crianças até 5 anos: entrada gratuita em todos os percursos
Adulto
Percurso T – Palácio Total. Todas as Áreas: 11€
Percurso A – Claustro e Capela. Inclui Percurso C: 9€
Percurso B - Palácio Novo. Inclui Percurso C: 9€
Percurso C – Terraços, Caminho de Ronda e Sala dos Veados: 7€
Jovem e Sénior
Percurso T - Palácio Total. Todas as Áreas: 9€
Percurso A – Claustro e Capela. Inclui Percurso C: 7€
Percurso B - Palácio Novo. Inclui Percurso C: 7€
Percurso C – Terraços, Caminho de Ronda e Sala dos Veados: 5€
* Todos os bilhetes de Percursos incluem a visita ao Parque da PenaEsta informação pode ser consultada (AQUI)
Atendendo ao facto de as entradas nos monumentos e palácios nacionais, ainda que classificados como Património Mundial, não ultrapassam os 4,5€, parece-me que os preços praticados no Palácio Nacional da Pena estão muito inflacionados e que o pagamento do Parque é um logro, já que a maioria dos visitantes não o faz, nem o seu estado de conservação o recomenda.
Porque será que atentados desta natureza, ao bolso dos visitantes, são feitos a coberto de situações especiais, e pouco claras porque não foram divulgadas publicamente?
Será esta uma nova forma de promover a Cultura, ou apenas uma forma de poder sustentar uma empresa que se substitui ao próprio Ministério da Cultura e onde os salários de topo são bem interessantes, segundo se sussurra na zona?

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FOTOGRAFIA - JÓIAS

EKA SULIMA /Yoko Foto

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CARTOON

Patrick Chappatte

terça-feira, agosto 21, 2007

É CONSTITUCIONAL, É BOM!

Discutir os acórdãos do Tribunal Constitucional, é mera perda de tempo, pelo menos no campo das leis, ainda que seja a Lei Fundamental do nosso sistema. Não tenho preparação para isso nem argumentos para brandir contra este órgão, à excepção do que considero ser o bom senso.
Li e ouvi a notícia, segundo a qual, para os funcionários públicos, a riqueza pode dar processo disciplinar. Nem queria acreditar. Processos disciplinares, pensava eu, tinham sempre algo a ver com actos praticados dentro da actividade laboral do funcionário. Pelos vistos enganei-me. Também julguei que os crimes tributários estavam todos sobre a alçada da mesma entidade, independentemente da entidade patronal ou do seu estatuto social, mas também aí me enganei.
Pasmei com a possibilidade de até poder vir a ser iniciado o processo disciplinar antes mesmo de serem reunidas provas contra o funcionário, conforme diz a TSF.
Depois de tanto espanto, faltava mesmo era analisar o que é que eram sinais exteriores de riqueza, onde fiquei a saber que imóveis de valor superior a 250 mil euros eram motivo para se ser alvo de processo, e aqui descansei. Sim amigos, descansei porque vão haver tantos processos, mesmo sem considerar os carros, as motas, os iates e as aeronaves, que não vão haver chefias para levantar os tais processos.
Que mal terão feito os funcionários públicos para serem considerados os mais prováveis prevaricadores das normas do fisco?

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FOTOGRAFIA
Jesper
Little people by JTB

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Steve Sack

segunda-feira, agosto 20, 2007

RAÚL BRANDÃO

Ouço sempre o mesmo ruído de morte que devagar rói e persiste...
Uma vila encardida - ruas desertas - pátios de lajes soerguidas pelo único esforço da erva - o castelo - restos intactos de muralha que não têm serventia. Uma escada encravada nos alvéolos das paredes não conduz a nenhures. Só uma figueira-brava conseguiu meter-se nos interstícios das pedras e delas extrai suco e vida. (... ) Sobre isto um tom denegrido e uniforme: a humidade entranhou-se na pedra, o sol entranhou-se na humidade. (... )
Silêncio. (...) Ouço sempre o trabalho persistente do caruncho que rói há séculos na madeira e nas almas.
Húmus

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SAUDADE

Hoje peço desculpa aos meus leitores por vos deixar apenas este apontamento sobre Raul Brandão, que estive a ler, mas estive ocupado a ver um programa da RTP sobre a minha terra – a Beira.
Não sou saudosista, sempre achei que devemos caminhar na vida, apenas num sentido, para a frente, mas confesso que a saudade me tocou.
As imagens que vi da cidade da Beira, deixaram-me triste pela decadência patenteada pelos seus edifícios e ruas, que contrastavam com o sorriso e bonomia dos seus habitantes, que continuam iguais há imagem que ficou na minha mente desde que de lá parti. A terra em que nasci, brinquei, cresci e me fiz homem, onde casei e onde nasceram dois dos meus filhos, é hoje uma sombra do que foi.
Tenho pena pelas suas gentes, que mereciam um futuro melhor.
Tencionava escrever sobre outras coisas neste meu post nº 400, mas acabei por falar de algo de que não falo há muito tempo, a minha terra.
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FOTOS DE CÃES
fluufy the ender of worlds by ~hardyrocker
Husky Pup Kiba by ~ramenhina

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CARTOON

Mercado Imobiliário by Daryl Cagle

domingo, agosto 19, 2007

AINDA MAIS NA CAUDA

Portugal já leva vários anos a divergir do resto da Europa, em crescimento económico, em nível de vida e na segurança social. Bem pode Teixeira dos Santos vir tecer louvores aos 1,6% de crescimento que os portugueses logo comparam com os 4% da vizinha Espanha, e tiram as devidas conclusões.
Podia ser feito melhor? Aí está uma questão para a qual muitos gostariam de fornecer resposta. Não é uma questão fácil, mas com toda a certeza não será beneficiando os lucros obtidos na banca, só para dar um exemplo, e ao mesmo tempo taxando os rendimentos do trabalho como acontece. O resultado desta estratégia está estampado nos relatórios do Eurostat, que dizem preto no branco, que o fosso salarial entre os mais ricos e os mais pobres no nosso país, bateu mais um recorde, situando-se duas vezes e meia acima da média europeia. Mas uma desgraça nunca vem só, pois acresce ainda o facto de Portugal ser o país europeu que menos investe na segurança social entre os seus parceiros.
Não haverá receitas milagrosas, mas a verdade é que os outros parceiros da União Europeia conseguem melhores resultados, independentemente do tamanho dos seus países ou do número de cidadãos. Será que por lá há magos?

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FOTOGRAFIA
Levels by ~jermsie
On the Edge by ~chriswhiston

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CARTOON

Marcel Kristofovic

Marcel Kristofovic

sábado, agosto 18, 2007

ELE HÁ, COINCIDÊNCIAS

No mesmo dia que em que o DN noticiava “Governo mudou perfil ‘online’ de Sócrates”, a coluna habitual de Fernanda Câncio intitulava-se “Ó da guarda que eu também ‘desinformei’ na Wikipédia”.
Todos estamos conscientes de que o Verão é fértil em notícias sem qualquer interesse, geralmente com enfoque numa certa camada de pessoas, ditas do Jet7 nacional, notícias que não aquecem nem arrefecem quem busca informação e comentários sérios sobre a situação actual a nível nacional ou mundial. Ontem porém, fiquei admirado com a coincidência sobre o tema Wikipédia.
Ninguém duvida que a jornalista tenha conhecimentos suficientes para “entrar” na enciclopédia livre, e portanto poder alterar ou até tentar apagar, uma qualquer entrada sobre o que quer que seja. Acho que não o terá feito, pelo menos no sentido de “desinformar” (como se depreende do título), pois não seria correcto nem defensável.
O que me deixa “encafifado” é a oportunidade da crónica e o sublinhado da mesma “que ao apagar calúnias ou insinuações se seja acusado de censura é bem a medida do delírio reinante”, que parece, sublinho o parece, uma justificação para a alteração do perfil de Sócrates na dita enciclopédia, feita a partir de computadores do próprio governo, sem que ninguém assuma o acto.
Não estarei delirante ao registar esta coincidência, nem tão pouco lhe atribuo qualquer interesse relevante, mas lá que é estranha, isso é!

PS – Já agora, penso que será de todo interesse, especialmente para quem consulta a Wikipédia como eu, saber-se qual foi a entrada que a jornalista apagou e depois foi alterada pelos administradores e em que data. Os leitores do jornal merecem saber e os que consultam a enciclopédia livre têm o direito à verdade.

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O MERCADO

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FOTOGRAFIA

Øyvind Ganesh Eknes

Annakath

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CARTOON
Daryl Cagle

sexta-feira, agosto 17, 2007

QUEM VAI PAGAR A CRISE?

O silêncio das autoridades monetárias nacionais e o optimismo do ministro das finanças, perante a crise no crédito hipotecário americano e a queda bolsista dos últimos dias, é sintomático de que algo vai muito mal por aquelas bandas.
A injecção de dinheiro fresco nos mercados monetários, com a intenção de dar liquidez aos mercados e evitar um abalo maior nas economias mundiais, era necessário, mas, como todos os remédios, tem efeitos secundários previsíveis a curto e médio prazo. Os bancos centrais com estas operações, limitam-se a “emprestar” capital às instituições de crédito, que por sua vez farão repercutir estes novos encargos aos seus clientes. Melhor dizendo, quem contratou créditos vai ver aumentados os juros a pagar à banca.
O problema não se vai circunscrever apenas aos que recorreram ao crédito, porque havendo mais dinheiro em circulação também haverá o perigo do aumento da inflação que pressiona ainda mais a subida dos juros, e com o aumento do preço do dinheiro sobem os preços dos produtos.
Esta gripe dos edge funds (crédito de risco) pode transformar-se numa pneumonia num país com economia fraca como Portugal, onde o cinto da maioria dos portugueses já não tem mais furos para apertar.

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FOTOS - BELEZAS FELINAS
da belkin
lexx_svarg

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CARTOON - NOITES DE VERÃO

Delucq