A classe governante, e não me refiro a qualquer cor em particular, proclama recorrentemente que procede com rigor e que toma decisões difíceis no interesse dos cidadãos. Este discurso está em regra associado a alterações legislativas que afectam a maioria dos cidadãos, seja pela via dos impostos ou taxas, seja por restrições dos direitos conquistados ao longo de muitos anos.
Muita desta retórica de exigência e rigor é pura hipocrisia que só não vê quem não quer mesmo ver.
Recentemente a preocupação do governo, e de alguma oposição, virou-se para as prestações sociais, e foi lançada de imediato uma campanha visando cortar tudo o que fosse possível, dizendo-se que se estava a moralizar os apoios sociais, distribuindo-os apenas pelos que realmente necessitavam.
Noutra frente, muito mais importante e que lesa o Estado em muitos milhões, nada está a ser realmente realizado. Estou a falar concretamente dos sinais exteriores de riqueza que continuam a não ser devidamente investigados.
Não se entende que um desempregado tenha que abdicar do sigilo bancário, e que o seu património seja investigado pelo fisco, quando um empresário que declara ter prejuízos há diversos anos, ou que tenha declarado falência deixando dívidas aos credores, não é investigado nem tem que abdicar do sigilo bancário, ainda que mantenha uma vida luxuosa e continue a ter carros e iates em seu nome ou de familiares directos com quem os compartilha.