terça-feira, agosto 30, 2016

CIDADANIA

Em Portugal somos todos muito exigentes enquanto clientes, porque julgamos que como pagamos temos mais direitos do que os que nos prestam serviço, o que é um princípio errado.

A máxima de que o cliente tem sempre razão não é correcta, quando alguém abusa da sua posição, e isso é um princípio da cidadania. O respeito pelos direitos dos outros e pela sua dignidade ficam muitas vezes no rol dos esquecidos, infelizmente.

Repare-se quantas vezes vemos pessoas a estacionar indevidamente em lugares reservados a deficientes ou a grávidas, sem qualquer vergonha, ou a dirigirem-se a caixas reservadas a deficientes ou grávidas, como se esse fosse um seu direito, porque estão com pressa.

Quando circulamos nos passeios somos brindados com os presentes dos senhores e senhoras que passearam, ou deixaram à solta, os seus animais de estimação, mas que se esqueceram de apanhar os seus dejectos, porque acham que devem ser outros a apanhá-los.

A cidadania que está afastada dos currículos escolares, e que não merece a devida atenção das autoridades, ainda que exista legislação, não é devidamente exercida por muitos de nós, que sistematicamente desrespeitamos os outros, quase que inconscientemente.


Há muito que fazer nesta matéria, e o ensino terá aqui a sua parte de formação das novas gerações, que esperamos sejam melhores do que a nossa… 

Daisy By Palaciano

domingo, agosto 28, 2016

PORQUE FOGEM OS TRABALHADORES DOS MUSEUS

Os trabalhadores que fazem o acolhimento e a vigilância dos museus não ficam muito tempo nessas funções, e parece que ninguém se preocupa com isso, nem no sector público nem no privado.

No sector privado a precariedade é uma constante e poucos conseguem ingressar nos quadros, o que resulta numa constante mudança de funcionários, em períodos de absoluta desmotivação, e consequentemente num serviço de má qualidade, que peca não só pela falta de preparação e conhecimento dos funcionários, e também num risco maior para a segurança do Património à sua guarda.

No sector público temos um quadro de pessoal muito envelhecido, desmotivado e muitas vezes sem qualquer formação para a função, que só é parcialmente compensada pela experiência de muitos anos. É certo que foram abertos alguns concurso recentemente, com maiores exigências ao nível de habilitações literárias, mas os candidatos admitidos, na sua grande maioria, apenas estão a usar os concursos para transitarem logo de seguida para outras carreiras e outros lugares em serviços menos exigentes a nível de horários, e com possibilidades de progressão.

O trabalho aos sábados, domingos, exigido a estes trabalhadores, não implica pagamento diferenciado como acontece com a generalidade dos outros trabalhadores, estando a ser usado um regulamento interno para justificar a obrigação sem compensação, o que é caso único na função pública e também no sector privado. Salva-se no meio disto tudo o poder local, que segue a legislação à risca (pagando devidamente o trabalho ao sábado e ao domingo), e uma instituição privada, que em bora não o fazendo desse modo, considera esta carreira como atípica e por isso merecedora dum salário que compensa as obrigações impostas.


Será que só com greves é que os responsáveis pelos museus, palácios e monumentos vão entender isto? Quem vai ganhar com mais este confronto? Porque não se reconhece a carreira como específica, já que se lhe exige mais do que a outras carreiras do mesmo nível? 


quarta-feira, agosto 24, 2016

MEMÓRIA HISTÓRICA



Foi a 24 de Agosto de 1572 que se perpetrou o massacre da noite de São Bartolomeu, também conhecido como a noite de São Bartolomeu.

Este episódio da história de França terá sido engendrado pelos reis franceses, evidentemente católicos, foram uma forma de repressão ao protestantismo. As matanças duraram meses, primeiro em Paris, e depois em outras cidades, e as vítimas foram muitas, e se pelas contas de católicos se cifraram em 2.000, nas contas de outros não católicos terão chegado aos 70.000.

Não foi este o único ataque aos protestantes em França, mas terá sido o mais sangrento massacre do século, causado pela intolerância religiosa.

Por vezes quando falamos da intolerância religiosa e do preconceito, tendemos a esquecer as lições que a História nos dá, às quais não costumamos dar muita importância.


Massacre de São Bartolomeu, de François Dubois

segunda-feira, agosto 22, 2016

DIPLOMACIA OU JOGO DE ESPELHOS?

Houve um incidente que resultou numa vítima gravemente ferida, que levada ao hospital com sinais evidentes de agressão, foi devidamente tratada e colocada em coma induzido, por causa da sua condição crítica.

O facto é indiscutível e conhece-se o envolvimento de dois filhos de um diplomata iraquiano, que não hesitaram em usar a sua imunidade diplomática depois de detidos.

As versões dos amigos da vítima e dos filhos do diplomata divergem, restando apenas os factos.

O nosso governo através do ministro dos Negócios Estrangeiros vai mostrando a sua indignação inconsequente e usando do tacto diplomático, e a embaixada do Iraque vem a público, em árabe, apresentar uma versão em que os jovens iraquianos passam por vítimas que se “defendem”. Na realidade há um outro facto que, apesar de não estar oficialmente confirmado, mostra que a cooperação diplomática não passa duma farsa, que é onde estão os suspeitos da agressão ao jovem em coma? Estão em Portugal ou já foram para outro país?

Este assunto poderá dar origem a um processo judicial, que se prolongará no tempo, eventualmente haverá uma indemnização se o jovem resitir, mas tudo será esquecido dentro de dias ou semanas. A diplomacia continuará a debitar discursos redondos e, talvez, mas só talvez, o embaixador vá dentro de algum tempo mudar convenientemente de posto.


O que mais me indigna é o teor do comunicado da embaixada do Iraque, que em defesa dos seus cidadãos invoca o racismo, e nos quer fazer crer que dois jovens se defenderam de seis e apenas um dos seis sai gravemente ferido, ficando todos os outros incólumes. Não dá simplesmente para acreditar…  


sábado, agosto 20, 2016

MEDALHAS OLÍMPICAS

Os Jogos Olímpicos ainda não acabaram mas já há quem queira fazer balanços, e como quase sempre, aparecem os "especialistas de sofá", que acham que os atletas nacionais deviam ter conseguido mais medalhas.

Portugal é um país pequeno, onde o desporto em geral, excepção feita ao futebol, é um parente pobre que mendiga apoios para a formação, mas que só consegue apoios quando surgem atletas que se destacam muito, sabe-se lá abdicando de quê, e com apoios muitas vezes de pequenas firmas, alguns clubes e sobretudo de familiares.

Os atletas portugueses cumpriram na medida das suas possibilidades, e nós só podemos estar orgulhosos pela sua vontade e pelo seu empenho.


quinta-feira, agosto 18, 2016

A POLÍTICA E O PODER DO DINHEIRO

A ida de políticos portugueses ao Congresso do MPLA não me surpreende, porque na generalidade, quase todos dizem que tem que existir pragmatismo nas relações externas. As políticas seguidas por Eduardo dos Santos, a situação dos cidadãos angolanos, a perpetuação no poder e a repressão sobre os opositores, não contam tanto como os negócios e o investimento, isto é evidente, ainda que difícil de entender quando se defendem princípios.

Os princípios são quase sempre ultrapassados pela realidade, e as viagens pagas pela Galp, e aceites por políticos, não tiveram as consequências que deviam ter tido, mas nem isso nos pode surpreender muito, porque os lugares da política têm servido muitas vezes para promoção pessoal e como trampolim para o campo dos negócios empresariais, onde a influência conta muito.

Outra medida que é estranha quando existe um governo com apoio das esquerdas, é a possibilidade de acesso indiscriminado às contas bancárias de todos os cidadãos nacionais, alegando-se os acordos internacionais, o que não é verdadeiro nesta extensão. Dizer que esta medida vai permitir evitar a fuga ao fisco, é caricato, pois sabemos que muitos suspeitos de má gestão dos bancos, que estão sob investigação há anos, continuam a fazer grandes vidas e a alegar não ter bens e rendimentos.


A política dos nossos dias, e os seus protagonistas, deixam muito a desejar, mas ainda podemos manifestar o nosso desagrado, quando é caso disso.

terça-feira, agosto 16, 2016

CONDUZIR ESTATÍSTICAS

Conduzir ou condicionar respostas a inquéritos, sejam eles para estatística ou apenas para mostrar tendências, é extremamente fácil e tem sido uma arma que se usa muito para manipular a opinião pública.

Não se pode afirmar com segurança que exista manipulação nas consultas de opinião, porque é sempre um terreno escorregadio, mas também é verdade que se fizessem as mesmas perguntas de modo diferente os resultados seriam muito diferentes.

Um dos títulos da comunicação social destes dias, diz que a “maioria dos portugueses concorda com o fim dos cortes mas não com as 35 horas”, relativamente à função pública, evidentemente.

Utilizando perguntas simples como, concorda ou não concorda com isto ou aquilo, especialmente quando nos referimos a “outrem”, os resultados podem bem ser estes, até porque” à pála” do fim dos cortes dos salários na função pública, os salários do sector privado aumentaram 4,5%, segundo a mesma comunicação social.

Falando sobre as 35 horas, onde grande parte do sector privado já as pratica, e outra parte, menor, não o faz, a pergunta podia ter sido mais justa, podendo ser “em Portugal os horários de trabalho deveriam ter como limite as 40 ou as 35 horas semanais?”. Certamente teriam sido muito diferentes as percentagens, acreditem-me.


Como diria um meu amigo brasileiro: pimenta no cu dos outros para mim é refresco.   

domingo, agosto 14, 2016

OFERTAS INOCENTES...

As viagens dos secretários de Estado pagas pela Galp, têm sido desvalorizadas pelo governo, pelos partidos que o suportam e pelos comentadores de esquerda, mas nem o sol de Verão, ou os fogos da época conseguem apagar a asneira que estes senhores fizeram.

Já li e ouvi as mais diversas desculpas, e os argumentos mais rebuscados para justificar o injustificável, mas com códigos de condutas escritos, ou sem eles, tenham atenção ao facto muito simples e elucidativo: as ofertas, ou convites só foram feitos a quem tem influências, como governantes e políticos, o que nada tem de inocente, meus amigos. 

Já se legislou sobre ofertas a funcionários públicos, sobre gorjetas, mas quando se trata de quem tem o poder de decisão, as coisas nunca são claras nem tão simples...


sexta-feira, agosto 12, 2016

FALTA DE QUALIDADE DO EMPREGO

As notícias sobre o emprego em Portugal são tudo menos controversas, porque se por um lado existem menos desempregados registados, também existe menos emprego, e cresce cada vez mais o emprego temporário, o que não é um bom sinal sobre o estado das empresas e da economia.

Os dados das exportações mostram um decréscimo muito significativo, que as importações em baixa apenas confirmam, e só o turismo está em alta, estando a ser o abono de família nos últimos anos para diversos governos.

Os sinais vermelhos estão por todo o lado, não só por causa do fraco crescimento europeu e pelas crises que Brasil e Angola atravessam, que são os maiores destinos das nossas exportações, mas também porque temos cada vez mais jovens que não estando a estudar, também não estão a trabalhar, o que é muito mau sinal, se isto for conjugado com a emigração em massa de jovens bem qualificados.

Existem factores a ter em conta, se queremos melhorar em todos os vectores, desde logo rejuvenescer os quadros das empresas e do Estado, invertendo a tendência actual imposta lá de fora, apoiar todas as vertentes que contribuem para o Turismo, apostando na qualidade e na especificidade nacional, evitando a massificação, uma oferta pouco diferenciada, e sobretudo valorizando o emprego, que neste sector é maioritariamente sazonal e mal remunerado.


É preciso apostar mais no aumento da qualidade da oferta, porque não será no preço e na quantidade que iremos conquistar mais mercado. 

Biblioteca by Palaciano (telemóvel)

quarta-feira, agosto 10, 2016

PORTUGAL ARDE ALEGREMENTE EM AGOSTO

O país arde, os portugueses andam a banhos, os políticos estão de férias, os turistas vão gastando uns cobres por aí, as vilas vão fazendo as suas festas para entreter os emigrantes e os foguetes ribombam nos ares.

A floresta arde apesar dos esforços dos abnegados bombeiros, as populações atingidas ajudam no que podem, e os figurões fazem briefings para fazer o ponto da situação.

As coisas repetem-se ano após ano, e por muito que se pague de IMI, os bombeiros continuam a ser associações humanitárias, mas não são responsabilidade dos municípios, nem da Administração Central, que se limitam a dar umas ajudas pontuais, sempre com muita pompa e circunstância.

Temos sempre uns comandantes operacionais e uns responsáveis da Protecção Civil, com as suas fatiotas todas pipis a debitar banalidades, sem nunca sujar as mãos, e pior que tudo, sem perceber patavina do que estão a dizer. Não conhecem o terreno, não percebem de combate a incêndios, não conhecem os operacionais, mas comandam tudo, sempre em postos de comando onde recebem a imprensa, que lhes garante o emprego.

Portugal no seu pior, neste querido mês de Agosto...


quinta-feira, agosto 04, 2016

POLÍTICA E RIDÍCULO

A barraca com as alterações ao IMI, dizendo que não é um aumento do imposto, e afirmando que o Estado não pode intervir nas novas avaliações, porque estas cabem às autarquias, dizem muito sobre o político que esteve no cerne da decisão.

Para os que achavam que tinha sido apenas uma gafe, eis que se soube que o mesmo senhor aceitou a oferta de viagens a França para ir ver uns jogos da selecção, oferecidos por uma empresa que até está em incumprimento no pagamento de obrigações fiscais, um pelouro em que ele é responsável.

Acho que o calor deste Verão está a afectar os senhores políticos, mesmo aqueles que não rumaram ainda a sul...


terça-feira, agosto 02, 2016

PATRIMÓNIO E SEGURANÇA

As preocupações com a segurança das obras de arte dos museus, palácios e monumentos por esse mundo fora, são motivo de preocupação geral periodicamente, sempre que ocorrem roubos ou actos de vandalismo.

O último incidente tornado público, porque existem muitos que são ocultados, foi o da National Gallery, em Londres, onde dois quadros do século XVI sofreram danos que parecem ter sido causados por unhas ou anéis. Os responsáveis desta galeria começaram por diminuir o número de funcionários, em 2011, no ano passado 300 funcionários dos seus quadros foram obrigados a passar para os quadros da Securitas, uma empresa privada contratada para fazer a segurança das instalações, que foram alvo de privatização, e os salários baixaram para os novos funcionários, bem como o nível de formação para fornecer informações aos visitantes.

Por cá a escassez de pessoal encarregue da vigilância é imenso, até o Tribunal de Contas o reconheceu em relatório recente, a formação profissional não existe há vários anos, os quadros têm funcionários com idades bastante elevadas, e a carreira não é atractiva, por que é mal remunerada, exige disponibilidade para trabalhar sábados e domingos sem qualquer remuneração extra, e os feriados não existem e são mal remunerados. Só concorre a esta carreira quem procura um vínculo público para depois saltar para outro serviço sem todos os contras que esta profissão contém.

Já se registaram tentativas mais ou menos encobertas de privatizar a segurança dos museus, e já vi seguranças privados no controlo de bilhetes à entrada dum museu, noutro vi um segurança a vender bilhetes, e até a dar informações a visitantes em diversos locais.

Longe vão os tempos em que os vigilantes respondiam às perguntas dos visitantes, e davam informações sobre as colecções, ou nos ajudavam (visitantes), quando procurávamos saber onde encontrar determinada peça, ou nos aconselhavam a visita a outros museus onde se podiam admirar coisas que nos interessavam. Sei que as exigências académicas são hoje maiores, mas o desinteresse de quem está desmotivado, e a rotatividade destes profissionais, aliada à falta de formação profissional, levam-nos a esta triste situação.


Parece que tudo se resume a duas hipóteses: deseja-se sobretudo mais público, que significa maiores receitas, o que prevalece sobre o aumento da qualidade de serviço, que custa mais dinheiro, ainda que proporcione maior satisfação dos visitantes. É pena que a Cultura se resuma apenas, e só, ao factor económico.

Marte e Vénus de Sandro Botticelli, National Gallery