Tenho por princípio ler um pouco de tudo, mesmo quando não concordo de modo nenhum com as ideias dos autores, porque só assim me sinto à vontade para criticar alguns dos comentadores da nossa praça.
Li no DN de ontem uma coluna de opinião com o título “ovo de crocodilo”, escrita por um comentador com formação em economia, e assumidamente católico. Podia acrescentar que é um apoiante entusiasta das medidas económicas deste governo, apesar de me basear apenas na minha opinião e nos seus escritos.
Resumidamente o autor diz que caminhamos para o abismo, sem precaver os horrores seguintes, originados pela quebra de natalidade, e aponta como causa muito importante para esta situação a despenalização do aborto e a comparticipação nos actos médicos a quem recorre a esta solução.
Penso que não recorreria ao aborto, em situação nenhuma exceptuando a má formação do feto ou em caso de risco de vida comprovado da mãe, mas nunca me passaria pela cabeça julgar alguém por ter recorrido ao aborto por questões que são do foro pessoal.
O que me indigna em todo o artigo é que o autor, descarte a crise, o desemprego, e outras situações semelhantes, como causas da diminuição da natalidade, como se perante estes problemas os portugueses não possam tomar decisões conscientes para evitar trazer ao mundo filhos para os quais não se vislumbra futuro, ou que até nem existam condições materiais e relativa segurança para lhes dar uma vida decente com acesso ao que é essencial ao crescimento e formação.
Em vez de sugerir que estamos todos a dormir, bem podia o comentador falar sobre quem nos conduziu ao buraco com más decisões políticas, sobre quem acha que a competitividade depende do valor dos salários, ou sobre quem aliciou todo um povo a gastar mais do que havia no país, nem que fosse com recurso ao endividamento. Hoje são os cidadãos normais e conscientes que mais moderam os seus gastos, mais colocam as suas parcas economias nos bancos e se limitam ao que é essencial.
Os desempregados, os idosos e os jovens sofrem com a crise e até o têm feito em silêncio, bem ao contrário de muitos que nós conhecemos que continuam a comprar mansões milionárias, a adquirir carros de luxo e a passear-se por esse mundo fora.
O senhor professor derrama umas quantas lágrimas de crocodilo, pois vira sempre as críticas sobre os que menos culpas têm, porque aos outro não o vejo criticar, mesmo quando se sabe que colocam os seus dinheiros lá fora para não pagar impostos no país onde ganham o seu dinheiro.
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