Podia começar por dizer que os pobres estão cada vez mais pobres e que tudo isso acontece com uma corrupção generalizada como pano de fundo. Não, isso já foi dito, bem como a frase “a promiscuidade entre poderosos interesses privados e a gestão da coisa pública atingiu entre nós proporções inimagináveis” rematada com a existência de “um pequeno grupo que enriquece à custa dos bens colectivos”. Não consigo ser original, porque Paulo Morais já o escreveu no JN e Castanheira Barros já o enfatizou.
O financiamento à margem das leis e as multas aplicadas, que ninguém quer comentar, talvez sejam apenas a ponta do icebergue, bem como as sinecuras que estão sempre à espera por quem ocupou cargos de relevância no poder político. Talvez esteja apenas a ser pessimista e não seja bem assim, talvez eles sejam de facto tão competentes que se tornam indispensáveis às grandes empresas públicas e privadas, mas então porque é que os que os sucederam nos cargos nos dizem que eles é que são os culpados do atraso do país?
Começo a ficar confuso. Se eram incompetentes como conseguiram aqueles cargos que hoje ocupam? Se eram competentes, porque é que estamos tão mal?
Tenho para mim que são todos muito iguais na sua mediocridade enquanto servidores da causa pública, e eles encarregam-se de o confirmar, basta ouvi-los quando se confrontam no Parlamento ou quando se pronunciam na comunicação social. Eles dizem cobras e lagartos, uns dos outros. Em quem hei-de eu acreditar? Felizmente para mim, já tomei essa decisão há muito tempo, voto sistematicamente em branco, em coerência com os discursos dos próprios candidatos, e com as minhas convicções.
O financiamento à margem das leis e as multas aplicadas, que ninguém quer comentar, talvez sejam apenas a ponta do icebergue, bem como as sinecuras que estão sempre à espera por quem ocupou cargos de relevância no poder político. Talvez esteja apenas a ser pessimista e não seja bem assim, talvez eles sejam de facto tão competentes que se tornam indispensáveis às grandes empresas públicas e privadas, mas então porque é que os que os sucederam nos cargos nos dizem que eles é que são os culpados do atraso do país?
Começo a ficar confuso. Se eram incompetentes como conseguiram aqueles cargos que hoje ocupam? Se eram competentes, porque é que estamos tão mal?
Tenho para mim que são todos muito iguais na sua mediocridade enquanto servidores da causa pública, e eles encarregam-se de o confirmar, basta ouvi-los quando se confrontam no Parlamento ou quando se pronunciam na comunicação social. Eles dizem cobras e lagartos, uns dos outros. Em quem hei-de eu acreditar? Felizmente para mim, já tomei essa decisão há muito tempo, voto sistematicamente em branco, em coerência com os discursos dos próprios candidatos, e com as minhas convicções.
*** * ***
FOTOGRAFIA PUBLICITÁRIA
13 comentários:
"há razões que a própria razão desconhece"
Abraço
"Tenho para mim que são todos muito iguais na sua mediocridade enquanto servidores da causa pública,..."
infelizmente uma triste verdade ...
mas votar em branco é perigoso ... pode lá ser acrescentada uma cruz onde bem entenderem ...
beijinhos
Meu bom amigo, siga o conselho da Isabel-F ... em branco não, nulo é muito melhor.
Quanto ao resto ele é uns na causa pública a servirem mal e porcamente e outros, na causa privada e com um COMPROMISSO PORTUGAL, a levarem ao expoente máximo o velho ditado "olhai para o que eu digo, não olheis para o que eu faço"!
Acredita que eles são mesmo muito maus. Vai por mim! O voto em branco é perigoso, temos de exigir um quadradinho onde quem não gosta de nenhum dos candidatos possa colocar a cruzinha, não vá haver alguém que se sinta tentado a fazer batota.
Bjos
Sílvia
Apoiado, são todos iguais, apenas muda é a posição onde estão.
tens um prémio para ti lá no meu Blog.
beijinhos
Esse último cartoon está absolutamente magnífico! :)
Zé Povinho
O voto em branco é o meu voto e há uma enorme diferença entre votar branco ou votar nulo, como tu sabes. Mas vou dizer a diferença para o caso de algum visitante desconhecer.
O voto branco é um voto validamente expresso e que, se tiver uma grande expressão, tem consequências políticas.O voto nulo é o voto de alguém que se enganou ou que fez uma marca.Não tem significado político nem é validamente expresso.
Hoje, no Notas Soltas, entrei em diálogo com o Quintarantino por causa disso.
Essa de porem no voto o que quiserem.... Não há regras nas secções de voto? Não há representantes dos partidos? Os votos não são colocados em envelopes lacrados na presença de todos?
Um abraço
Eu sei bem a diferença, mas com tanta desonestidade que por aí há, também começo a ficar preocupado. Talvez algum partdo tenha a ideia de colocar nos boletins de voto um quadradinho reservado a quem não quer votar em nenhum dos candidatos, embora queira exercer o seu dever de cidadania expressando claramente a sua opinião.
Abraço do Zé
Hoje venho só deixar Bjs e agradecer o comentário tão rápido lá :-)
Qt aos desenhos, voltarão com o
tempo ;-)
Abraço
Maria
A mediocridade é grande e só o compadreio, e toda a podridão que envolve mantem uma serie de incompetentes, a situação é sempre a mesma
Quando se gana uma guerra é o general que é um genio, quando se perde a guerra, é o estupido do soldado que se meteu á frente da bala e morreu"
Empresas, como tantas que conhecemos,nem que tivesse um administrador iletrado dava sempre lucro
Saudações amigas
Zé Povinho
Adorei, em especial o 1º.cartoon: as duas faces da mesma moeda.
Sobre o que diz Teixeira dos Santos vou deixar-te aqui um copy paste, do relatório da SEDES, que retirei do Público de hoje. Certamente leste mas ficará para quem não tiver lido.
1) UM DIFUSO MAL ESTAR
Sente-se hoje na sociedade portuguesa um mal estar difuso, que alastra e mina a confiança essencial à coesão nacional.
Nem todas as causas desse sentimento são exclusivamente portuguesas, na medida em que reflectem tendências culturais do espaço civilizacional em que nos inserimos. Mas uma boa parte são questões internas à nossa sociedade e às nossas circunstâncias. Não podemos, por isso, ceder à resignação sem recusarmos a liberdade com que assumimos a responsabilidade pelo nosso destino.
Assumindo o dever cívico decorrente de uma ética da responsabilidade, a SEDES entende ser oportuno chamar a atenção para os sinais de degradação da qualidade da vida cívica que, não constituindo um fenómeno inteiramente novo, estão por detrás do referido mal estar.
2) DEGRADAÇÃO DA CONFIANÇA NO SISTEMA POLÍTICO
Ao nível político, tem-se acentuado a degradação da confiança dos cidadãos nos representantes partidários, praticamente generalizada a todo o espectro político.
É uma situação preocupante para quem acredita que a democracia representativa é o regime que melhor assegura o bem comum de sociedades desenvolvidas. O seu eventual fracasso, com o estreitamento do papel da mediação partidária, criará um vácuo propício ao acirrar das emoções mais primárias em detrimento da razão e à consequente emergência de derivas populistas, caciquistas, personalistas, etc.
Importa, por isso, perseverar na defesa da democracia representativa e das suas instituições. E desde logo, dos partidos políticos, pilares do eficaz funcionamento de uma democracia representativa. Mas há três condições para que estes possam cumprir adequadamente o seu papel.
Têm, por um lado, de ser capazes de mobilizar os talentos da sociedade para uma elite de serviço; por outro lado, a sua presença não pode ser dominadora a ponto de asfixiar a sociedade e o Estado, coarctando a necessária e vivificante diversidade e o dinamismo criativo; finalmente, não devem ser um objectivo em si mesmos...
É por isso preocupante ver o afunilamento da qualidade dos partidos, seja pela dificuldade em atrair e reter os cidadãos mais qualificados, seja por critérios de selecção, cada vez mais favoráveis à gestão de interesses do que à promoção da qualidade cívica. E é também preocupante assistir à tentacular expansão da influência partidária – quer na ocupação do Estado, quer na articulação com interesses da economia privada – muito para além do que deve ser o seu espaço natural.
Estas tendências são factores de empobrecimento do regime político e da qualidade da vida cívica. O que, em última instância, não deixará de se reflectir na qualidade de vida dos portugueses.
3) VALORES, JUSTIÇA E COMUNICAÇÃO SOCIAL
Outro factor de degradação da qualidade da vida política é o resultado da combinação de alguma comunicação social sensacionalista com uma justiça ineficaz. E a sensação de que a justiça também funciona por vezes subordinada a agendas políticas.
Com ou sem intencionalidade, essa combinação alimenta um estado de suspeição generalizada sobre a classe política, sem contudo conduzir a quaisquer condenações relevantes. É o pior dos mundos: sendo fácil e impune lançar suspeitas infundadas, muitas pessoas sérias e competentes afastam-se da política, empobrecendo-a; a banalização da suspeita e a incapacidade de condenar os culpados (e ilibar inocentes) favorece os mal-intencionados, diluídos na confusão. Resulta a desacreditação do sistema político e a adversa e perversa selecção dos seus agentes.
Nalguma comunicação social prolifera um jornalismo de insinuação, onde prima o sensacionalismo. Misturando-se verdades e suspeitas, coisas importantes e minudências, destroem-se impunemente reputações laboriosamente construídas, ao mesmo tempo que, banalizando o mal, se favorecem as pessoas sem escrúpulos.
Por seu lado, o Estado tem uma presença asfixiante sobre toda a sociedade, a ponto de não ser exagero considerar que é cada vez mais estreito o espaço deixado verdadeiramente livre para a iniciativa privada. Além disso, demite-se muitas vezes do seu dever de isenta regulação, para desenvolver duvidosas articulações com interesses privados, que deixam em muitos um perigoso rasto de desconfiança.
Num ambiente de relativismo moral, é frequentemente promovida a confusão entre o que a lei não proíbe explicitamente e o que é eticamente aceitável, tentando tornar a lei no único regulador aceitável dos comportamentos sociais. Esquece-se, deliberadamente, que uma tal acepção enredaria a sociedade numa burocratizante teia legislativa e num palco de permanente litigância judicial, que acabaria por coarctar seriamente a sua funcionalidade. Não será, pois, por acaso que é precisamente na penumbra do que a lei não prevê explicitamente que proliferam comportamentos contrários ao interesse da sociedade e ao bem comum. E que é justamente nessa penumbra sem valores que medra a corrupção, um cancro que corrói a sociedade e que a justiça não alcança.
4) CRIMINALIDADE, INSEGURANÇA E EXAGEROS
A criminalidade violenta progride e cresce o sentimento de insegurança entre os cidadãos. Se é certo que Portugal ainda é um país relativamente seguro, apesar da facilidade de circulação no espaço europeu facilitar a importação da criminalidade organizada. Mas a crescente ousadia dos criminosos transmite o sentimento de que a impune experimentação vai consolidando saber e experiência na escala da violência.
Ora, para além de alguns fogachos mediáticos, não se vê uma acção consistente, da prevenção, da investigação e da justiça, para transmitir a desejada tranquilidade.
Mas enquanto subsiste uma cultura predominantemente laxista no cumprimento da lei, em áreas menos relevantes para as necessidades do bom funcionamento da sociedade emerge, por vezes, uma espécie de fundamentalismo utra-zeloso, sem sentido de proporcionalidade ou bom-senso.
Para se ter uma noção objectiva da desproporção entre os riscos que a sociedade enfrenta e o empenho do Estado para os enfrentar, calculem-se as vítimas da última década originadas por problemas relacionados com bolas de Berlim, colheres de pau, ou similares e os decorrentes da criminalidade violenta ou da circulação rodoviária e confronte-se com o zelo que o Estado visivelmente lhes dedicou.
E nesta matéria a responsabilidade pelo desproporcionado zelo utilizado recai, antes de mais, nos legisladores portugueses que transcrevem para o direito português, mecânica e por vezes levianamente, as directivas de Bruxelas.
5) APELO DA SEDES
O mal-estar e a degradação da confiança, a espiral descendente em que o regime parece ter mergulhado, têm como consequência inevitável o seu bloqueamento. E se essa espiral descendente continuar, emergirá, mais cedo ou mais tarde, uma crise social de contornos difíceis de prever.
A sociedade civil pode e deve participar no desbloqueamento da eficácia do regime – para o que será necessário que este se lhe abra mais do que tem feito até aqui –, mas ele só pode partir dos seus dois pólos de poder: os partidos, com a sua emanação fundamental que é o Parlamento, e o Presidente da República.
As últimas eleições para a Câmara de Lisboa mostraram a existência de uma significativa dissociação entre os eleitores e os partidos. E uma sondagem recente deu conta de que os políticos – grupo a que se associa quase por metonímia “os partidos” – são a classe em que os portugueses menos confiam.
Este estado de coisas deve preocupar todos aqueles que se empenham verdadeiramente na coisa pública e que não podem continuar indiferentes perante a crescente dissociação entre o conceito de “res pública” e o de intervenção política!
A regeneração é necessária e tem de começar nos próprios partidos políticos, fulcro de um regime democrático representativo. Abrir-se à sociedade, promover princípios éticos de decência na vida política e na sociedade em geral, desenvolver processos de selecção que permitam atrair competências e afastar oportunismos, são parte essencial da necessária regeneração.
Os partidos estão na base da formação das políticas públicas que determinam a organização da sociedade portuguesa. Na Assembleia ou no Governo exercem um mandato ratificado pelos cidadãos, e têm a obrigação de prestar contas de forma permanente sobre o modo como o exercem.
Em geral o Estado, a esfera formal onde se forma a decisão e se gerem os negócios do país, tem de abrir urgentemente canais para escutar a sociedade civil e os cidadãos em geral. Deve fazê-lo de forma clara, transparente e, sobretudo, escrutinável. Os portugueses têm de poder entender as razões que presidem à formação das políticas públicas que lhes dizem respeito.
A SEDES está naturalmente disponível para alimentar esses canais e frequentar as esferas de reflexão e diálogo que forem efectiva e produtivamente activadas.
Sedes, 21 de Fevereiro de 2008
O Conselho Coordenador
(Vitor Bento (Presidente), M. Alves Monteiro, Luís Barata, L. Campos e Cunha, J. Ferreira do Amaral, Henrique Neto, F. Ribeiro Mendes, Paulo Sande, Amílcar Theias)
in http://www.sedes.pt
Um abraço
De facto, o descontentamento e a descrença generalizada do povo naqueles que deviam ser os seus dignos representantes alastra.
Era precisa uma nova geração de políticos, movidos por uma nova mentalidade e consciência social, que tão próxima não se vislumbra no horizonte. Perde a Democracia, perdem os cidadãos. Será que a solução passará por um novo conceito político que não o actual? Será que o sentido decrescente da Democracia representativa se inverterá? Só o tempo e o papel activo/decisivo do povo o poderá dizer.
Saudações do Marreta.
Enviar um comentário