terça-feira, fevereiro 19, 2008

A CULTURA E OS POLÍTICOS

Tenho por diversas vezes abordado por aqui o facto de os políticos darem pouca atenção à Cultura, facto consubstanciado pela fatia destinada pelo Orçamento de Estado ao Ministério da Cultura. Não caio na tentação de culpar este ou aquele partido político, porque tanto PS como PSD, têm tido comportamentos muito idênticos quando estão no poder.

Ontem li um artigo da Lusa sobre o problema da conservação das muralhas de Évora, classificadas como monumento nacional, onde era visível o crescimento de ervas, arbustos e uma árvore. O município de Évora tentou junto do Ministério da Cultura que o mesmo procedesse à sua limpeza, mas recebeu como resposta que o monumento nacional se encontra afecto à Câmara Municipal de Évora por Auto de Cessão de 14 de Janeiro de 1946, embora a propriedade seja pública, estatal.

Fiquei completamente siderado com esta informação, em primeiro lugar por se ter recorrido à invocação de leis do tempo da outra senhora, e em segundo lugar porque a Direcção Regional da Cultura do Alentejo pretende ignorar o facto de ter sido a Direcção Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais, agora integrada no M.C., que assumiu essa responsabilidade durante as últimas décadas.

Esta demissão efectiva de responsabilidades é simplesmente lamentável e demonstra o pouco interesse dado ao Património.

Mas também foi com curiosidade que li que o PS Porto exige “imediata suspensão” dos concursos que visam privatização de equipamentos municipais. Claro que também eu sou contra a “privatização do Teatro Tivoli, do Palácio do Freixo ou do Mercado do Bolhão, mas a minha memória não é curta nem se restringe a uma zona do país apenas. Também concordo plenamente que estes concursos lançados sem referências, sem objectivos, em que a regra real de adjudicação é a majoração dos lucros dos privados e não o interesse público, mas isso aplica-se no caso de outros equipamentos por todo o país e não só no Porto onde a câmara é do PSD.

Falei em memória e no todo nacional, porque o PS aprovou em Sintra, um sistema de entrega a uma sociedade anónima de capitais públicos, que se gere portanto segundo as regras do direito privado, dos Parques da Pena e de Monserrate, do Palácio Nacional da Pena, do Castelo dos Mouros, do Palácio de Monserrate e do Convento dos Capuchos sem qualquer pejo e sem que sejam conhecidos objectivos impostos pelo Estado nem limitações à sua actuação no campo da sua utilização, na preservação patrimonial e fruição pelo público em geral. Será que é este o modelo que preconizam para o Porto, ou estamos apenas perante uma guerra partidária a nível local?

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FOTOGRAFIA
Алексей Самсонов

nordkap

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CARTOON

Delestre
Nono

17 comentários:

Anónimo disse...

A política e a Cultura são como a água e o azeite, não se misturam. Políticos cultos? Talvez depois de deixarem a actividade...
Fui

Joca

Elvira Carvalho disse...

Os políticos, não teem nenhum interesse num povo culto. Quanto mais culto fôr, mais difícil é ser levado. Daí...
Um abraço

Amigo, tem mais um prémio no Sexta.
Passe por lá quando puder.
Um abraço

Anónimo disse...

Ó Zé
A preocupação não está de certeza na privatização ou nas parcerias publico/privasa, está antes em os tachos reverterem para os da outra cor e não a a deles. Resume-se tudo ao tacho, é óbvio.
Bjos da Rita

Belzebu disse...

As diferentes posições dos partidos da área do poder, quando estão no poleiro e fora dele, se não fosse por vezes dramática para as populações, seria quase hilariante. É com uma total falta de vergonha que eles se contradizem em pouco tempo e com argumentos no mínimo estranhos e indicadores de que há gato escondido com o rabo de fora! Resta-nos mostrar no local devido, que não andamos a dormir.

Aquele abraço infernal!

quintarantino disse...

Meu caro amigo Zé Povinho, uma coisa é estar-se na oposição e outra no poder. A coerência, essa pode esperar!

São disse...

Muito gratas estão as meninas dos meus olhos pela separação dos parágrafos, tanto...que até enviam "bejinhos" .

A cultura em Portugal , tal como a Formação, é a parente mal amda de sempre!

Abraços.

Tiago R Cardoso disse...

Mais uma vez nota-se o gosto que tem pelo tema e apresenta uma excelente perspectiva.

O necessário seria uma politica feita para a cultura por quem sabe e vive lá dentro.

Jorge P. Guedes disse...

Mais uns casos muito mal esclarecidos e a suscitarem a desconfiança.

Já agora, quanto às Pousadas de Portugal, algumas em edifícios de inegável valor artístico e considerados monumentos nacionais, também não foi dada a sua exploração ao grupo Pestana?!

Estranho!

Um abraço.

Zé Povinho disse...

Caro Mocho-Real
Não é só o grupo Pestana, embora esse tenha a parte de leão, por que também temos o BES - Tivoli nos Seteais, em Sintra, e por acaso quem recebe o dinheiro da sua exploração diz-se, fico-me pelo diz-se, é a tal sociedade anónima Parques de Sintra - Monte da Lua. Já agora mais uma achega, talvez em breve também vá uma parte do Mosteiro de Alcobaça para exploração hoteleira, e já se falou insistentemente também em parte do Convento de Cristo em Tomar.
Quem sabe, eu já estou por tudo.
Abraço do Zé

Meg disse...

Ó Zé, já ontem li isto e não comentei porque tenho uma dúvida.
Independentemente de tudo o que
está mal - e é quase tudo - dei comigo a matutar... desculpa a ignorância, mas a Câmara não pode fazer essa manutenção? Já agora uma sugestão... porque não levam uns tantos indivíduos que estão a passar férias nos estabelecimentos prisionais para fazerem esses trabalhos? Ao menos pagavam a comida que lhes damos, não?
Sei que cheira a demagogia mas fico assim quando vejo que neste país de gente desempregada, não ná ninguém para apanhar "umas ervas"!

Estou abencerrada mas não é contigo, é com a PT.

Um abraço

Olha que fui eu que inventei agora mesmo a "abencerrada"... porque é assim que me sinto eheh!

SILÊNCIO CULPADO disse...

Zé Povinho
O grande problema é exactamente esse: o de haver dois pesos e duas medidas consoante a cor política de quem manda. E assim se fazem autênticos atentados ao património quer de forma activa quer por negligência.
Relativamente ao caso de Sintra sei bem do que estás a falar, porque é onde moro, e ainda não vi vantagens no Monte da Lua. Os cartoons são o máximo e os cães uma ternura.
Um abraço

Zé Povinho disse...

Caras amigas
Meg - A Câmara já começou a limpeza, mas agora há uma situação de conflito latente que se prende com o tipo de intervenção, que acredito será correcta, mas onde o Ministério da Cultura não meterá o bedelho, e aqui é que bate o ponto. Qualquer dia arriscamo-nos a ter alguns tipos de intervenção menos próprias e o MC assobia para o alto como se nada fosse com ele, ou embarga a obra que diz não ser da sua (ir)responsabilidade?

Silêncio Culpado - Vantagens no Monte da Lua? Olhe, começou logo com o aumento do preço das entradas e com as barraquinhas que são um verdadeiro atentado, já para não falar das mesas e cadeiras de esplanada agora na Cozinha do Palácio da Pena. Será que isto também faz parte da nova política museológica que este governo pretende adoptar?

Abraço do Zé

Anónimo disse...

A situação que se está a passar em Évora é simplesmente vergonhosa, assim como o encerramento de S. Cucufate, desde 30 de Dezembro de 2007 ao público, desde 30 de Dezembro de 2007, porque a Direcção Regional de Cultura do Alentejo não renovou os contratos dos funcionários... Pergunta-se onde anda os Ministro?
Boa postagem. Um Abraço

carlos filipe disse...

Zé Povinho, Zé Povinho
que mal nos andam a tratar
a Cultura anda no chão
e os privados a abancar.

Em nada importa a razão
o que interessa é governar
para encher os bolsos áqueles
que nos andam a roubar.

Isamar disse...

A cultura deste país anda muito maltratada. Mas onde pára o dito ministro que ainda não o vi.
Sentido de humor, sempre apurado.Especialidades da casa.

Beijinhosssss

MARIA disse...

Zé, meu querido amigo, como sempre está carregado de razão e a sua crítica é mais que certeira e bem elaborada.
Complicado é fazer qualquer crítica depois de colocar a vista nessas ternurinhas de bichos que aí postou.
São mesmo fofinhos (monumentos vivos)
Um beijinho amigo
Maria

Abrenúncio disse...

É realmente triste, num país com tantas potencialidades turísticas a nível cultural que o património, uma das grandes mais-valias, seja tratado duma forma tão desplicente e não aproveitado devidamente como um meio de importante divulgação cultural e de angariação de importantes divisas que poderiam ser usadas em benefício próprio.
Tenho viajado por alguns paises e mesmo naqueles mais pobres do que o nosso - e, se calhar principalmente nesses - o património cultural é divinamente tratado, respeitado e orgulhosamente mostrado a todo o estrangeiro como um grande motivo de orgulho.
Por cá, infelizmente, a ideia que tenho do que conheço, é que o mesmo é desprezado e abandalhado.
Saudações do Marreta.