Por hábito leio as opiniões económicas porque elas espelham quase sempre a opinião de quem decide ou influi nas decisões que são tomadas neste país. Ontem li no Expresso um artigo de Daniel Amaral com o título “a atracção do abismo” da qual transcrevo seguidamente alguns parágrafos.
…”De um lado, os sindicatos: blocos rígidos, que privilegiam o imediato, eles recusam qualquer modelo que ponha em causa o salário e o emprego – mesmo que se demonstre que, a prazo, um e outro estão em risco. Do outro, as empresas, a comunidade académica e os organismos em geral: estruturas flexíveis, que privilegiam o longo prazo, todos eles reclamam liberdade para despedir – com mais segurança em troca”.
…”Na Dinamarca, as empresas contratam e dispensam pessoas a seu bel-prazer. Mas os dispensados auferem cerca de 80% do que auferiam antes, tendo como contrapartida a obrigatoriedade de obterem formação e de procurarem diligentemente outro emprego. Em termos relativos, estamos a falar de um oásis: cujos custos do trabalho estão controlados, o rendimento «per capita» é excelente, a distribuição é equilibrada e o desemprego praticamente não existe.
Um modelo deste tipo é transponível para Portugal? Infelizmente, não.”
Confesso que fiquei baralhado, pois não percebi o que é que Daniel Amaral tentou demonstrar com o seu artigo. Se era a intransigência dos sindicatos e a razão dos empregadores quanto à flexibilidade laboral, escolheu mal os argumentos.
Começo por uma questão de rigor: o que quer dizer DA quando afirma que na Dinamarca as empresas despedem a seu bel-prazer? Será que o gerente entra na firma e manda o trabalhador embora só porque está de mau humor? Conheço bem o país em questão e, quanto mais não fosse, pelos princípios que se rege aquela sociedade, tal comportamento é impensável e não é praticado.
Mas voltando à intransigência dos sindicatos, pergunto-me se algum sindicato se poderia dar ao luxo de recusar a flexibilidade com garantias de uma segurança do tipo da que é praticada na Dinamarca. Não creio que o fizessem, nem que os trabalhadores o permitissem.
Quanto às entidades empregadoras, as tais que privilegiam o longo prazo, quantas estão dispostas a aumentar as suas contribuições sociais para garantirem, no futuro a flexibilidade que reclamam?
É urgente fazer alguma coisa, como diz Daniel Amaral, mas não é recusando um modelo que funciona bem, só porque uma das partes quer ser beneficiada à custa do sacrifício da outra. Todos percebemos bem porque é que na Dinamarca a flexibilidade é aceite, é porque a segurança foi acautelada em primeiro lugar. Se há algo a fazer, aí está um bom ponto de partida.
…”De um lado, os sindicatos: blocos rígidos, que privilegiam o imediato, eles recusam qualquer modelo que ponha em causa o salário e o emprego – mesmo que se demonstre que, a prazo, um e outro estão em risco. Do outro, as empresas, a comunidade académica e os organismos em geral: estruturas flexíveis, que privilegiam o longo prazo, todos eles reclamam liberdade para despedir – com mais segurança em troca”.
…”Na Dinamarca, as empresas contratam e dispensam pessoas a seu bel-prazer. Mas os dispensados auferem cerca de 80% do que auferiam antes, tendo como contrapartida a obrigatoriedade de obterem formação e de procurarem diligentemente outro emprego. Em termos relativos, estamos a falar de um oásis: cujos custos do trabalho estão controlados, o rendimento «per capita» é excelente, a distribuição é equilibrada e o desemprego praticamente não existe.
Um modelo deste tipo é transponível para Portugal? Infelizmente, não.”
Confesso que fiquei baralhado, pois não percebi o que é que Daniel Amaral tentou demonstrar com o seu artigo. Se era a intransigência dos sindicatos e a razão dos empregadores quanto à flexibilidade laboral, escolheu mal os argumentos.
Começo por uma questão de rigor: o que quer dizer DA quando afirma que na Dinamarca as empresas despedem a seu bel-prazer? Será que o gerente entra na firma e manda o trabalhador embora só porque está de mau humor? Conheço bem o país em questão e, quanto mais não fosse, pelos princípios que se rege aquela sociedade, tal comportamento é impensável e não é praticado.
Mas voltando à intransigência dos sindicatos, pergunto-me se algum sindicato se poderia dar ao luxo de recusar a flexibilidade com garantias de uma segurança do tipo da que é praticada na Dinamarca. Não creio que o fizessem, nem que os trabalhadores o permitissem.
Quanto às entidades empregadoras, as tais que privilegiam o longo prazo, quantas estão dispostas a aumentar as suas contribuições sociais para garantirem, no futuro a flexibilidade que reclamam?
É urgente fazer alguma coisa, como diz Daniel Amaral, mas não é recusando um modelo que funciona bem, só porque uma das partes quer ser beneficiada à custa do sacrifício da outra. Todos percebemos bem porque é que na Dinamarca a flexibilidade é aceite, é porque a segurança foi acautelada em primeiro lugar. Se há algo a fazer, aí está um bom ponto de partida.
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5 comentários:
Chegar e ter tempo e disposição para este artigo é obra. Gostei mesmo e acho que o autor do texto não vai gostar mesmo das questões, se lho derem a ler. É tudo verdade e sobre a Dinamarca tu sabes muito bem como são as coisas.
Cumprimentos à família e ao palaciano quando o vires.
É impossivel copiarmos modelos escandinavos, holandeses e outros tais porque as condicionantes especificas portuguesas são completamente diversas. Não creio que tais modelos - ainda que excelentes por lá - pudessem funcionar por cá. A cultura empresarial e laboral é completamente diferente e os nossos padrões de Segurança Social ficam a anos-luz de distância.
Abraço.
Somos portugueses não somos nórdicos, é tudo uma questão mental e empresarial que não temos para certos projectos e ideias.
Cumps
Nada deve ser copiado só porque deu resultado algures. Um remendo deve colar bem no tecido quanto a desenho e cor. Se não somos capazes de obter soluções com as nossas capacidades, então façam-se as necessárias adaptações a soluções importadas. E acautelem-se previamente todas as consequências das medidas implementadas para não se passar depois a vida a fazer alterações e confusões.
Precisamos de novos dirigentes para salvaguardar os legítimos interesses dos cidadãos.
Um abraço
Venho aqui na esperança de encontrar novos artigos e bonitas fotografias, porque tudo, mas tudo, é lindo, duma grande beleza, um verdadeiro prazer visitar este blogue. Até breve e boa semana.
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