Qual foi o real papel do Infante D. Henrique nas descobertas marítimas portuguesas? Esta sempre foi uma questão que suscitou apaixonadas discussões, especialmente depois do 25 de Abril de 1974. Para os mais novos, talvez possa parecer que antes desta data não se conheciam alguns dos factos que hoje se conhecem, pois ignoram que a História de Portugal tinha sido “retocada”, a partir do Estado Novo, para de algum modo exaltar os feitos gloriosos dos portugueses na gesta dos descobrimentos marítimos.
Uma das figuras de proa da imagem que nos foi passada desde a mais tenra idade, era precisamente o Infante D. Henrique, o fundador da Escola Náutica de Sagres. Só com a mudança de regime político, é que se começou a desfazer o mito da escola náutica e até da figura do próprio Infante.
D. Henrique foi feito duque de Viseu e senhor de vários lugares da Beira, e mais tarde recebe Ceuta com o encargo de a defender e abastecer. Naturalmente, e devido a esse encargo recebe também o governo do Algarve, tendo então mudado de Viseu para Lagos. Em 1520 é-lhe entregue o governo da Ordem de Cristo, que lhe proporcionava uma força militar e rendimentos para as campanhas de Marrocos, em que esteve verdadeiramente empenhado.
Ao invés de outros familiares, era pouco viajado, nunca tendo ido além de Marrocos. Como outros senhores do seu tempo mostrou-se interessado em matemática, astronomia e ciência náutica, tendo acolhido até alguns estrangeiros a quem recebeu com generosidade.
Os descobrimentos, que naturalmente também suscitaram o seu interesse, surgem sobretudo da necessidade de aumento do património e receitas, de que sempre esteve necessitado. Este interesse, sobretudo económico, estendeu-se às actividades de pesca, à pirataria e guerra de corso, bem como ao tráfico de escravos.
Não se conhecem planos específicos do Infante virados específicamente para as descobertas marítimas, e são poucas as expedições realizadas depois da conquista de Ceuta e até 1460, data da sua morte, que terão sido da sua iniciativa.
O Infante D. Henrique é portanto um típico senhor medieval, instruído e com bastante importância na época, que terá dado também o seu contributo para os descobrimentos portugueses, mas que de facto nunca os liderou nem planeou, para além da sua vertente económica.
Contributo do Palaciano
Fonte História de Portugal A.H. de Oliveira Marques – Palas Editores
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