sábado, dezembro 29, 2018

PATRIMÓNIO E MUDANÇA DE PÁGINA


Estamos à beira de terminar 2018 e de começar o ano de 2019, e como é da praxe, todos nós tentamos prever o que trará de novo o ano que entra, neste caso no que se refere ao Património tutelado pelo Ministério da Cultura.

Depois dum ano cheio de carências, frustrações, falta de pessoal, falta de atenção, falta de liderança, e falta de investimento, como foi o de 2018, pode parecer que o novo ano não poderá ser pior, não é?
Pois é meus caros, apesar do que disse no parágrafo anterior, eu não prevejo nada de melhor para 2019, começando desde logo pela fatia do orçamento que caberá ao Património depois da satisfação dos outros sectores mais reivindicativos. Não se trata de inveja mas sim de falta de peso político, ou de estatuto por parte da DGPC.

A autonomia dos museus, que vai ser ainda afinada no começo do ano, vai revelar-se um fiasco, mesmo depois de ouvidas as opiniões dos senhores directores e do ICOM, como se os outros grupos profissionais não existissem.

Podemos esperar que a nova ministra faça um milagre, podemos cruzar os braços, ou podemos fazer barulho e reivindicar mais atenção ao Património, é só escolher…



quinta-feira, dezembro 27, 2018

QUANDO MAAT NOS CONFUNDE


A conversa, no café do bairro, decorria o seu curso sob a História do Egipto, e estava bem acalorada quando um amigo se aproximou, e do nada, nos diz que nós devíamos estar confusos, pois o MAAT nada tinha que ver com a harmonia e ordem, mas sim com arte e arquitectura.

Fez-se um silêncio profundo na mesa, alguns de nós franziram a testa surpreendidos pela observação, e só passados alguns segundos é que as gargalhadas ecoaram no café. O recém-chegado fica com uma cara de tacho, surpreendido pelas gargalhadas e pergunta incomodado: disse alguma asneira?

Foi relativamente fácil desfazer o equívoco, e lá lhe explicámos que não nos estávamos a referir ao Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT), mas sim a maat, que era o papel do faraó no Egipto, que era suposto encarnar o equilíbrio e a ordem (tanto natural como social), a harmonia, a moralidade, a verdade ou a justiça.

Este maat era a única alternativa ao caos, e cabia ao soberano ser o seu garante. O faraó era um descendente dos deuses. Maat era também uma deusa (mãe de Rá).  

No final todos nos rimos com a confusão que tinha resultado duma observação feita por quem que não tinha os dados suficientes para emitir uma opinião com fundamento…



quinta-feira, dezembro 20, 2018

TODOS CONTRA O SISTEMA


O que transparece das inúmeras contestações que vão surgindo um pouco por todo o lado, não se confina apenas em problemas sectoriais, que existem, mas de questões que são transversais na nossa sociedade.

Muitos portugueses questionam-se sobre o sistema actual, a que se convenciona chamar de Democracia, mas onde temos um Governo com o apoio das esquerdas, mas que em vários dossiers é apoiado pelo maior partido da direita, e que em geral é também suportado por um Presidente que nem hesita em “acalmar” os camionistas tentando evitar a sua adesão às manifestações inorgânicas que se perfilam para amanhã.

Marcelo Rebelo de Sousa, sempre muito activo, acabou por sintetizar a situação, dizendo que “é preferível a segurança da democracia ao aventureirismo de realidades fora do sistema”. Outra citação curiosa do Presidente foi”é preferível a segurança da democracia, na diversidade de opiniões, ao aventureirismo de realidades fora do sistema”.

O que está em causa é exactamente o sistema, não só pela péssima qualidade dos políticos, como também pela impunidade com que actuam, como é público e notório. Uma classe que se refugia em estatutos e regulamentos que desprezam a ética e a decência, não merece a confiança do povo.

Os protestos de natureza inorgânica são isso mesmo: um desafio aos partidos do sistema, que ou mudam ou são responsáveis pelo caos que se pode instalar.

Nota: Não faço parte desta acção dos coletes amarelos, mas estou muito descontente com a situação que se vive.


quarta-feira, dezembro 19, 2018

O LOGRO DAS MÉDIAS


O nosso ministro das Finanças, um especialista em números segundo se diz, é também um especialista em enganar os portugueses, ao recorrer a médias para tirar conclusões para o universo de trabalhadores da função pública, no que toca a aumentos salariais.


Centeno veio afirmar que o Orçamento de Estado prevê para a administração pública “um aumento do salário médio superior a 3%” o que se traduz num aumento médio de 68 euros para cada funcionário. Para culminar o desplante ainda disse que era o “maior incremento salarial da última década”.


Quando alguém nos quer fazer crer que em 2018 e 2019, e note-se que já não falo num ano mas em dois, os funcionários públicos tiveram aumentos salariais de 68 euros por cabeça, só se pode concluir que estamos perante um perito em manipulação de números.



segunda-feira, dezembro 17, 2018

PESSOA E O NATAL


Nasce um Deus. Outros morrem. A verdade
Nem veio nem se foi: o Erro mudou.
Temos agora uma outra Eternidade,
E era sempre melhor o que passou.

Cega, a Ciência a inútil gleba lavra.
Louca, a Fé vive o sonho do seu culto.
Um novo Deus é só uma palavra.
Não procures nem creias: tudo é oculto.


Fernando Pessoa, in 'Poesias'