quinta-feira, janeiro 10, 2008

APRENDIZ DE MAQUIAVEL

Acabei de ler as explicações dadas por José Sócrates para recusar o referendo e optar pela ratificação parlamentar do Tratado da União Europeia, por «ética da responsabilidade», alegando que até seria vantajoso para o executivo ir a votos numa consulta sobre a União Europeia.
Vou intencionalmente colocar de lado os três argumentos invocados, como a ampla maioria favorável, que é desde logo contraditória com a decisão. As implicações que o referendo teria nos outros Estados da União, como se Portugal não fosse um País independente. O terceiro em que afirma que não existe qualquer compromisso eleitoral de fazer o referendo já que o Tratado de Lisboa tem um conteúdo diferente do defunto Tratado Constitucional, que considero uma explicação ainda mais fantástica.
Fico-me pelas questões de ética, e aqui entra definitivamente o pensamento de Maquiavel no seu estado puro. Segundo Maquiavel a política deixa de ser pensada apenas no contexto da filosofia e constitui-se como um campo de estudo independente, com regras e dinâmicas livres de considerações privadas, morais, filosóficas ou religiosas. Com Maquiavel, a política identifica-se com o espaço do Poder, enquanto actividade na qual assenta a existência colectiva e que tem prioridade sobre as demais esferas da vida humana. Para Maquiavel, a política deve preocupar-se com as coisas como são, em toda a sua crueza, e não como deviam ser, com todo o moralismo que lhe é subjacente.
Talvez assim se entenda porque é que o seu nome virou sinónimo de uma prática política desprovida de moral e boa fé, ou procedimento astucioso e velhaco.
Normalmente sou pouco dado a reflexões filosóficas, mas ouvir José Sócrates falar de ética, que é a «disciplina filosófica que tem por objecto de estudo os julgamentos de valor na medida em que estes se relacionam com a distinção entre o bem e o mal», para justificar uma decisão política tomada sobre pressão, como ficou bem claro, veio-me à ideia o pensamento de Maquiavel, por sinal muito mal traduzido em argumentos.
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FOTOS DE INTERIORES

Sheer Simplicity by ilikedeviant

The lion by mih11

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CARTOON

10 comentários:

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá Zé, como sempre adorei a tua postagem.
Maravilhosa!!!!!!!!!!!
Amigo, grata pela tua passagem pelos meus cantinhos.
Muitos beijinhos,
Fernandinha

Meg disse...

Amigo Zé,

Pois não foi por acaso que te lembraste de Maquiavel, e como assisti ao que se passou ontem no Parlamento, não posso deixar de estar de acordo contigo. Porque não sei o que mais lamentar, se as justificações esfarrapadas se a imposição que não quero qualificar
E pronto, NÃO HÀ REFERENDO.
Também depois do discurso do PR, já não havia mais dúvidas.

Agora vem uma moção de censura... como se valesse a pena!!!!

Que fazer?

Um abraço

MARIA disse...

Meu querido amigo Zé Povinho, neste momento
Maquiavel revolve o esqueleto em seu túmulo...
Então... Maquiavel era directo, frontal , dele não podendo dizer-se que não contava seus verdadeiros motivos ...
Já neste caso ...
Veja bem, de facto o Governo se fizesse referendo e conseguisse fazer aprovar o Tratado beneficiava.
Agora se o Tratado não passasse , como logicamente era de esperar o que seria de Sócrates intra e extra muros ?...
Maquiavel aqui é "café pequenito" ...
Um beijinho amigo
Maria

Anónimo disse...

Criar uma Europa dos cidadãos sem a participação dos ditos é a negação do próprio princípio que está inscrito no tratado. O nosso primeiro a ler Maquiavel é que é muito improvável, ou então é mais uma das disciplinas tiradas por correspondência epistolar.
Hoje tive uma surpresa filosófica, querido Zé.
Bjos

Tiago R Cardoso disse...

Eu ia mais pelo brilhante argumento do nome, pois aquilo até se podia chamar tratado de Alguidares de Baixo, mas ele está lá...

Interessante foram os outros que apoiam mas não concordam com os argumento, essa é que não percebi...

fotógrafa disse...

...e não é que o nosso PM tem mesmo nariz de pinóquio???ora repara lá bem...

Anónimo disse...


Não é que, mantidas as diferenças intelectuais, o actual até parece clonado do outro? O Pedro S.P. que se cuide, porque apesar dos avanços da ciência, também não foi beneficiado em intelecto nem em ciência política.
Bjos

Jorge P. Guedes disse...

Vindo de quem veio, em nada me surprende este discurso - balofo, rançoso e naturalmente mentiroso. Um nojo!

Abraço do Mocho.

Capitão-Mor disse...

Uma análise absolutamente brilhante. Mas como sempre, a nossa "elite" governante considera que estão questões têm de ser discutidas longe do povão!

Pata Negra disse...

"procedimento astucioso e velhaco"
o Sócrates e um velhaco e um procedimento mas não é astuto - neste assunto ele votou os pés pelas mãos!
Um abraço claro