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terça-feira, outubro 31, 2017

REGRESSO AO PASSADO - PAÇO DE SINTRA



2ª Parte
 
Entra-se depois na Sala dos Brasões, ou dos Veados, ou ainda das Armas, salão quadrilongo com as paredes decoradas de azulejos do século XVII (episódios cinegéticos) e tecto em cúpula, formado por caixotins, com 72 cabeças de veado pintadas na madeira, as quais ostentam pendentes do pescoço os brasões das principais famílias nobres do século XVI. As armas dos Távoras e as dos duques de Aveiro foram mandadas apagar no séc. XVIII, após a execução daqueles titulares, implicados num atentado contra a vida de D. José.

Os seguintes versos, inseridos no friso, mostram o intuito de D. Manuel I ao determinar a ornamentação que referimos:

POIS COM ESFORÇOS E LEAIS – SERVIÇOS FORAM GANHADOS,
COM ESTES E OUTROS TAIS – DEVEM DE SER CONSERVADOS.

Trata-se de obra admirável. Repare-se na formusura das janelas do mesmo salão e, abrindo-as, nos quadros de encantadora paisagem que elas patenteiam.

Regressa-se agora ao corpo central do Paço, bem manuelino na decoração. À direita dica-nos o Pátio da Carranca; passa-se pela Sala da Coroa, que dá para outro pátio, de Diana (fonte do Renascimento e azulejos de relevo)…

(Continua)


Nota: Esta descrição era muito comum à época, e continuou a ser usada por muita e boa gente, mas alguns aspectos vieram depois a ser corrigidos à medida em que se começou a aperfeiçoar o conhecimento do monumento.

quarta-feira, outubro 11, 2017

COLONIALISMO E AMÉLIA



Andava eu a ler um livro à procura de informações sobre um monumento e eis que esbarro no nome de Francisco Maria Vítor Cordon e nos seus feitos em África.


Fiquei muito admirado quando fiquei a saber que em 1889, Vítor Cordon inaugurou os campos fortificados Luciano Cordeiro e Vila Amélia, este na terra que tinha sido distinguida com o nome da rainha D. Amélia, e viria alguns anos mais tarde a ser chamada de Porto Amélia.


Veio-me logo à memória da entrada de Samora Machel em Moçambique, depois do 25 de Abril, que no discurso feito nessa cidade perguntou à população: “Vocês conhecem a Amélia? Quem é a Amélia?”. Para depois utilizar o nome antigo da zona, Pemba, para apelidar a cidade.


O nome Porto Amélia caiu, por ser considerado um sinal do colonialismo, e a cidade passou a ser conhecida como Pemba.


Que Samora Machel desconhecesse a origem do nome, ou que tenha pretendido que assim era, não me incomoda nada, mas acho que muitos portugueses deviam saber um pouco mais sobre Vítor Cordon, que afinal teve o seu papel na criação desta vila (1934) e mais tarde cidade (1958).


Vítor Cordon foi recebido com honrarias, incluindo um banquete de gala no S. Carlos, outro na cidade de Estremoz (de onde era natural), foi agraciado com diversas medalhas, e viu o seu nome ser dado a ruas, em reconhecimento pelos bons serviços prestados à nação, e foi mesmo proclamado a 15 de Setembro de 1890, “Benemérito da Pátria”.


Aquele que hoje se sujeita a ser recordado como um colonialista, foi aos olhos dos seus contemporâneos considerado um herói e um exemplo.



terça-feira, agosto 01, 2017

OS TEMPOS MUDAM E TAMBÉM AS PESSOAS



Quando em 1976 vim para Portugal com dois filhos nos braços, por não ter condições de segurança para continuar na minha terra, Moçambique, não fui lá muito bem recebido.
Instalei-me numa zona de Lisboa, e fui imediatamente trabalhar porque tinha vindo com uma mão atrás e outra à frente, e as crianças necessitavam de comer e eu não tinha feitio para estender a mão, ou enfrentar filas intermináveis para implorar ajuda.

Recordo-me bem de um jovem que frequentava um café perto da minha porta, com uma barba ainda mal plantada, cabelo grande e de fita na cabeça, quando não usava a boina à Che, que se entretinha a insultar “os colonialistas” que tinham ido explorar os povos indígenas, esquecendo-se que África era dos negros. Nunca perdi muito tempo com as parvoíces de quem falava do que não sabia, porque não valia o esforço.

Quarenta e tal anos depois, eis que me cruzo com um homem abatido, que aparentava ser bastante mais velho do que eu, e que clamava contra o governo, por não ter ainda conseguido ajuda, pedida há mais de uma semana, porque tinha vindo da Venezuela a fugir da instabilidade política e da violência das ruas.

Conversa puxa conversa e lá surgem as recordações, e reconheço neste homem vergado à dureza da vida, o tal jovem revolucionário que não poupava nas palavras para atacar “os retornas” como ele dizia.

Senti pena do João, é esse o seu nome, porque voltou para a sua terra onde já não tem família, uns morreram de velhos, outros de excessos com drogas, de que ele escapou, e resta-lhe a família da mulher que os acolheu em sua casa. Sei que tem esperança de voltar à Venezuela, mas também sei que já nem se recorda do que disse há quarenta e tal anos, e nem sequer me passou pela cabeça recordar-lho.

Os tempos mudam e mudam também as pessoas, é a lei da vida…