3ª Parte
… , e depois pela Sala dos
Particulares, ornada , de dois ricos panos de Arrás, e a seguir pela Sala de
Jantar, sem nada de notável, a não ser o ornato das janelas; entra-se então na
Sala das Sereias ou da Galé, tão rica de decoração cerâmica (azulejos e
mosaicos de grande beleza) e com uma curiosa porta de mármore, a um canto; à
qual se segue a famosa Sala das Pegas, cujo motivo decorativo, se filia numa tradição
galante que vamos resumir.
Um dia D. João I, galanteando uma
dama da corte, deu-lhe uma rosa e um beijo; D. Filipa de Lencastre surpreendeu
então o marido, que, ao dar por ela, respondeu: «Senhora, foi por bem». O caso
fez escândalo no paço, e o rei, para confirmar dum modo público a frase, mandou
adornar o tecto do salão com pegas (aves que simbolizam a parolice), tendo cada
uma pendente do bico a legenda por bem. Há
aí um rico lustre de Veneza e o célebre fogão monumental, de mármore de
Carrara, transferido do Paço de Almeirim. Não tem qualquer consistência a
afirmação de que foi oferta de Leão X a D. Manuel I. Parece que o trabalho de
escultura é flamengo. Haupt atribuiu-o a Franz Florio. Na frente dele dois
cofres, sendo o da direita de verdadeiro guada mecim hispano-árabe e o da
esquerda imitação.
Atravessando o lindo Pátio
Central, entra-se na grande Sala dos Cisnes (antiga de recepção), assim chamada
por ter pintadas no tecto 27 destas aves, decoração primorosa e policromada a
branco, vermelho, azul e ouro, decerto do tempo de D. Manuel I mas com
restauros posteriores. As janelas e portas, talhadas em fino mármore, são muito
lindas.
Ao lado um terraço com alpendre, bancos
corridos e um assento de braços, forrados de azulejos sevilhanos, onde (diz-se)
D. Sebastião convocou os conselheiros de Estado para os ouvir sobre o infausto
projecto da expedição a Alcácer-Quibir.
Voltando ao vestíbulo visitam-se
os quartos que, no derradeiro período da monarquia, eram habitados pelos
soberanos. É o 1º o antigo quarto de D. Luís, donde este monarca saiu doente
para Cascais, onde faleceu. Na parede do fundo há uma rica tapeçaria Gobelin,
com Luís XIV vestido à romana e visitando um atelier de pintura. Na sala
seguinte notam-se alguns retratos, um deles de D. Catarina de Bragança, mulher
de Carlos II de Inglaterra. Seguem-se o quarto de dormir da rainha D. Maria
Pia, que tem paredes pintadas a cal, destoando de todo o edifício; o de vestir
com armários vindos da Ajuda e vários castiçais Império; a sala de música, com
numerosas peças de faiança de Sèvres, Saxe, Limoges, etc., vindas do Castelo da
Pena, havendo entre elas um prato com os retratos de Luís XIV, de sua mulher,
Teresa de Áustria, e de 7 amantes daquele rei; o antigo escritório com faianças
hispano-árabes e, ao centro, uma bela taça da fábrica do Rato.
Por fim vai-se à original Sala de
banho árabe, ou Casa da água, no pátio, de cujas paredes saem jorros de água.
FIM
A imagem é do roteiro de onde este texto foi retirado e cujo autor está bem identificado. Algumas informações são erradas, mas esta (re)publicação teve como objectivo chamar a atenção para o tipo de visita existente nos anos 20 e 30 do séc. XX, e para o que se dizia então, bem como o que se oferecia ao público.
Talvez de pois disto haja quem queira revisitar o Palácio da Vila para tirar a limpo as diferenças.
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