quinta-feira, novembro 02, 2017

REGRESSO AO PASSADO - PAÇO DE SINTRA

3ª Parte

… , e depois pela Sala dos Particulares, ornada , de dois ricos panos de Arrás, e a seguir pela Sala de Jantar, sem nada de notável, a não ser o ornato das janelas; entra-se então na Sala das Sereias ou da Galé, tão rica de decoração cerâmica (azulejos e mosaicos de grande beleza) e com uma curiosa porta de mármore, a um canto; à qual se segue a famosa Sala das Pegas, cujo motivo decorativo, se filia numa tradição galante que vamos resumir.

Um dia D. João I, galanteando uma dama da corte, deu-lhe uma rosa e um beijo; D. Filipa de Lencastre surpreendeu então o marido, que, ao dar por ela, respondeu: «Senhora, foi por bem». O caso fez escândalo no paço, e o rei, para confirmar dum modo público a frase, mandou adornar o tecto do salão com pegas (aves que simbolizam a parolice), tendo cada uma pendente do bico a legenda por bem. Há aí um rico lustre de Veneza e o célebre fogão monumental, de mármore de Carrara, transferido do Paço de Almeirim. Não tem qualquer consistência a afirmação de que foi oferta de Leão X a D. Manuel I. Parece que o trabalho de escultura é flamengo. Haupt atribuiu-o a Franz Florio. Na frente dele dois cofres, sendo o da direita de verdadeiro guada mecim hispano-árabe e o da esquerda imitação.

Atravessando o lindo Pátio Central, entra-se na grande Sala dos Cisnes (antiga de recepção), assim chamada por ter pintadas no tecto 27 destas aves, decoração primorosa e policromada a branco, vermelho, azul e ouro, decerto do tempo de D. Manuel I mas com restauros posteriores. As janelas e portas, talhadas em fino mármore, são muito lindas.
 Ao lado um terraço com alpendre, bancos corridos e um assento de braços, forrados de azulejos sevilhanos, onde (diz-se) D. Sebastião convocou os conselheiros de Estado para os ouvir sobre o infausto projecto da expedição a Alcácer-Quibir.

Voltando ao vestíbulo visitam-se os quartos que, no derradeiro período da monarquia, eram habitados pelos soberanos. É o 1º o antigo quarto de D. Luís, donde este monarca saiu doente para Cascais, onde faleceu. Na parede do fundo há uma rica tapeçaria Gobelin, com Luís XIV vestido à romana e visitando um atelier de pintura. Na sala seguinte notam-se alguns retratos, um deles de D. Catarina de Bragança, mulher de Carlos II de Inglaterra. Seguem-se o quarto de dormir da rainha D. Maria Pia, que tem paredes pintadas a cal, destoando de todo o edifício; o de vestir com armários vindos da Ajuda e vários castiçais Império; a sala de música, com numerosas peças de faiança de Sèvres, Saxe, Limoges, etc., vindas do Castelo da Pena, havendo entre elas um prato com os retratos de Luís XIV, de sua mulher, Teresa de Áustria, e de 7 amantes daquele rei; o antigo escritório com faianças hispano-árabes e, ao centro, uma bela taça da fábrica do Rato.

Por fim vai-se à original Sala de banho árabe, ou Casa da água, no pátio, de cujas paredes saem jorros de água.


FIM 


A imagem é do roteiro de onde este texto foi retirado e cujo autor está bem identificado. Algumas informações são erradas, mas esta (re)publicação teve como objectivo chamar a atenção para o tipo de visita existente nos anos 20 e 30 do séc. XX, e para o que se dizia então, bem como o que se oferecia ao público.

Talvez de pois disto haja quem queira revisitar o Palácio da Vila para tirar a limpo as diferenças.

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