Um artigo de Clara Ferreira
Alves, no Expresso de domingo, chamou-me a atenção para o modo como alguns
portugueses encaram os problemas que têm perante os serviços da administração
pública.
Para começar devo dizer que a articulista
agiu, e escreveu como um típico português com habilitações académicas e uma
posição social até um pouco acima da média, e foi por isso que a li com mais
atenção.
O seu contacto, pelos vistos
traumático, com a conservatória do registo civil para obter um passaporte, que
ela supôs erradamente que seria mais rápido porque a ministra da Modernização
Administrativa disseram que ficaria mais simples por causa do Simplex, e afinal
foi frustrantemente mais lento do que poderia imaginar.
Chegados a esta frustração, que
atinge indistintamente funcionários públicos, e os não funcionários, temos que
CFA decidiu lançar a suspeita de que haveria uma “hora de almoço da função
pública”, bastante cedo, que entre os funcionários que estava a ver “ninguém se
lembrou de simplexamente actualizar a lista do site do Estado”
(desactualizado), que talvez els fossem responsáveis pelo “ar desleixado” (do
piso), e pelo estado do WC, e até que “uma funcionária apanhava papéis com uma
lenta deliberação, sem atender”, talvez estando a fazer cera.
Quando conseguiu entabular
diálogo com uma funcionária, foi-lhe dito que os funcionários são poucos, que
estão desmotivados, o que classificou como “o queixume do costume”, e conclui
com “ e deste lado, a espera e a desorganização geral fazem com que os
ameacemos e hostilizemos”.
A Pluma Caprichosa ignora muito
simplesmente que existem responsáveis pelos procedimentos administrativos,
chefias responsáveis pelos serviços e pela sua coordenação, e responsáveis
políticos que deviam dar a todos os serviços condições, não só de meios
físicos, mas também de meios humanos para um funcionamento de qualidade. Nada
disto se cria apenas com um qualquer Simplex, anunciado com pompa e
circunstância.
Clara Ferreira Alves apontou
muito baixo, e inverteu a pirâmide de responsabilidades, talvez porque é mais
fácil, está mais à mão e talvez lhe seja muito conveniente (isto penso eu, que
também tenho o mesmo direito de opinar).
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