Hoje para dizer a verdade, nem esperava vir até ao teclado para bater umas palavras para serem lidas por quem por aqui passa. No final do almoço fui surpreendido pela chegada de dois amigos, que aproveitaram para trocar dois dedos de conversa, enquanto tomávamos o café.
Os dois têm cinquenta e picos anos, e filhos acabados de sair da faculdade. O filho de um deles é engenheiro mecânico, fez dois contratos em empresas nacionais, onde lhe ofereceram vencimentos de 600 e 750 euros, mas a renovação, em qualquer dos casos, era com a proposta de trabalho com recibos verdes e um ordenado entre os 700 e oitocentos euros. O rapaz, desconsolado saiu e rumou a Espanha, onde foi contratado por uma linha de montagem de automóveis, onde começou por baixo, mas com um ordenado de 1.800 euros, e ao fim de três meses passou a desempenhar tarefas correspondentes às suas qualificações com perto de 3.000 euros de vencimento.
O outro, tem uma filha que se formou em Química, também ela tentou a sua sorte por cá, com ofertas também pouco aliciantes, e rumou a Inglaterra, onde tinha estagiado, e está numa multinacional há cerca de um ano, e muito contente pois já foi promovida e tem um salário impensável por estas bandas.
Claro que estes meus amigos estão felizes pelo rumo que os filhos deram à sua vida profissional, mas não pude deixar de notar que ambos estão ao mesmo tempo tristes, porque muito naturalmente vão ver os filhos muito menos vezes, e os netos muito provavelmente por lá nascerão e as visitas serão sempre poucas e fugazes.
Será que a vida dos portugueses começa a ser viável apenas além fronteiras? Quanto tempo mais aguenta este país que desperdiça a juventude que tanto custou a criar e a apetrechar de conhecimento?
Os dois têm cinquenta e picos anos, e filhos acabados de sair da faculdade. O filho de um deles é engenheiro mecânico, fez dois contratos em empresas nacionais, onde lhe ofereceram vencimentos de 600 e 750 euros, mas a renovação, em qualquer dos casos, era com a proposta de trabalho com recibos verdes e um ordenado entre os 700 e oitocentos euros. O rapaz, desconsolado saiu e rumou a Espanha, onde foi contratado por uma linha de montagem de automóveis, onde começou por baixo, mas com um ordenado de 1.800 euros, e ao fim de três meses passou a desempenhar tarefas correspondentes às suas qualificações com perto de 3.000 euros de vencimento.
O outro, tem uma filha que se formou em Química, também ela tentou a sua sorte por cá, com ofertas também pouco aliciantes, e rumou a Inglaterra, onde tinha estagiado, e está numa multinacional há cerca de um ano, e muito contente pois já foi promovida e tem um salário impensável por estas bandas.
Claro que estes meus amigos estão felizes pelo rumo que os filhos deram à sua vida profissional, mas não pude deixar de notar que ambos estão ao mesmo tempo tristes, porque muito naturalmente vão ver os filhos muito menos vezes, e os netos muito provavelmente por lá nascerão e as visitas serão sempre poucas e fugazes.
Será que a vida dos portugueses começa a ser viável apenas além fronteiras? Quanto tempo mais aguenta este país que desperdiça a juventude que tanto custou a criar e a apetrechar de conhecimento?
Acabei mesmo por vir aqui desabafar e manifestar o meu descontentamento, ainda que esteja ciente que quem manda, não está nem um pouco preocupado com tudo isto. O deles já está garantido...
*** * ***
FOTOGRAFIA
7 comentários:
Olá Zé, a sua reflexão deu um belíssimo post. Ainda bem que veio por cá.
Que túlipas lindas!
Quantas vezes muitos de nós não ponderamos sair de Portugal ...
Em todo o caso, sempre serei visita desta casa.
Um beijinho muito amigo
Maria
Vamos lá ver, Zé, tu também fazes uma perninha para clientes espanhóis, espero que não estejas também a pensar fazer as malas e abalar para lá da fronteira. Era só que faltava agora!
Bjos da Sílvia
Olá Zé Povinho:
Toca-me demais este desabafo! Faço parte dos portugueses que vê uma filha em episódios esporádicos e que sempre que vem a Portugal na intenção de cá se radicar desiste ao fim de um dia...
As fotos como sempre fazem o meu encanto pela qualidade.
Beijo
Realmente é lamentável que a minha geração e as que se seguiram tenham que procurar melhores oportunidades de trabalho, pois os nossos canudos pouco servem em Portugal. E o que fazer de um país em que as elites têm de emigrar?
Abraço
Zé Povinho:
Eu, que tenho asorte de ter um filho que é médico, não fico indiferente, antes pelo contrário, ao desperdício que este país vai fazendo!
Muitos dos nossos melhores jovens, potenciais cidadãos conscientes de amanhã estão a começar ater que emigrar. Não a emigração pobre, desoladoramente servil de ontem, mas uma emigração de mão-de-obra qualificada que Portugal joga pela borda de uma qualquer fronteira.
Li e comovi-me, pois esta é a realidade do nosso país, hoje.
Que sejam todos muito felizes e aos pais, que se vêem afastados deles, lanço um apelo: tenham orgulho, muito, nos vossos filhos e respondam, no local certo e com os meios lícitos adequados, a quem os privou das suas companhias.
Um abraço, Zé.
Jorge P.G.
Ola Zé!O meu processo foi em sentido inverso.Estava em França e só sonhava e pensava em regressar à terra dos "cagaréus"que me viu nascer.Filho da Ria de Aveiro, linda cidade à beira-mar plantada,em 1990 fiz as malas e regressei,deixei para traz 24 anos de vida,amigos,familiares e cultura Gaulesa em troca dos "ovos moles".Casei,tive filhos (ainda não escrevi um livro mas já plantei uma arvore)porem a minha vida profissional nunca se estabilizou, tal como as marés da Ria ora cheia ora vazia.18 anos depois o balanço é dificil de fazer
Sonhei muito com o país dos cravos não queria os ver transformados em (es)cravos.A verdade é que a tendência desta geração de politicos inclina-se para a arrogância,a prepotência,a vaidade,o egoismo,os horizontes curtos e muita pouca solidariedade,muito pouco social,e pouco atento as vozes aos sinais de desespero daqueles que os colocaram no poder.Gostei do teu post ele é o reflexo e uma reflexão sobre um movimento e um fluxo migratório que tem origem na indiferença de quem detem o poder nesta terra, que poderia ser de oportunidades mas que é de oportunistas.Um abraço ZÉ
Zé, uma ausência inesperada mas cá estou, e já agora para te dizer que também tenho alguém cá em casa, a acabar o curso, e com um pé já plantado em Londres, à espera de libertar o outro... e é na banca.
Mas o que não tem remédio... antes que a trabalhar cá em caixas se supermercado a ganar o ordenado mínimo (que as conheço).
Isto está mau, Zé!
Um abraço
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