segunda-feira, maio 30, 2005

O PATRIOTISMO

Em tempos de vacas magras, talvez até haja quem se lembre de apelar ao patriotismo dos portugueses, com vista a conseguir-se um entendimento quanto ao esforço exigível a todos para o combate à crise. A ingenuidade ou o desconhecimento da condição humana e dos egoísmos que caracterizam a nossa sociedade, até se aceita, a pessoas que por algum motivo ainda não aprenderam na grande escola da vida.
Muitas vezes ouvimos dizer que somos todos iguais perante a Lei, e logo a seguir alguém completa a sentença com as palavras: mas há alguns mais iguais do que outros ! As assimetrias sociais são tão gritantes que penso que ninguém se atreve a contrariar a segunda parte da frase.
Patriotismo será, no meu modesto pensamento, lutar contra as desigualdades e a má distribuição da riqueza, já o sacrifício económico em tempos de crise, terá de ser pedido em directa proporcionalidade com a riqueza ou rendimento de cada um.
A cultura democrática de um povo é aferida pelo bem estar dos cidadãos, e portanto da justiça na redistribuição da riqueza gerada por todos, que é uma responsabilidade para a qual são eleitos os governantes.Em conclusão, estamos muito mal de cultura democrática e recuso-me a mudar de ideias, a menos que me arranjem um “tachinho”. de 15 mil a 30 mil euros, mesmo que não perceba nada da matéria. O patriotismo talvez também passe por aqui, e eu ainda não tinha percebido.

sexta-feira, maio 27, 2005

A CREDIBILIDADE

A credibilidade dos nossos políticos está nas ruas da amargura o que ainda não tínhamos ouvido, era que também teríamos alguns que são “rascas”. À mesa de um café foi exactamente este o termo que ouvi da boca de um cidadão que lia um jornal diário. Ouvidos atentos e lá percebi o motivo da indignação, um deputado tería utilizado o termo “parasitas” ao referir-se aos funcionários públicos.
Já nada nos admira com alguma classe política, mas fui verificar se era verdadeira a referência a este incidente, e era, e nos dias imediatos li atentamente o mesmo diário e não vi nenhum desmentido, o que também não será surpresa.
A cultura deste senhor, se proferiu este insulto, é típica de alguém que julga ter o rei na barriga e que nunca irá admitir que a qualidade dos serviços públicos é sempre um reflexo da qualidade dos seus dirigentes máximos, os políticos. Talvez , por causa do fumo dos charutos, nunca se tenha apercebido desta realidade. Não é o único político a culpar os funcionários do descalabro da governação, fazem-no quase todos, mas isso já é outro assunto a que talvez só os psiquiatras possam dar resposta.Um dia, talvez tenhamos políticos de que nos orgulhemos, cultos, cordatos, responsáveis e que prestem um verdadeiro serviço público – Política.

domingo, maio 22, 2005

JÁ SEM TANGA

Em poucos anos o país perdeu a tanga e já vai nú.
A política nos últimos anos tem sido muito mal servida pelos seus actores principais que, numa atitude quase pornográfica, passam do fato Dior para nudez indecente consoante estejam na oposição ou no poder. Eles reiteram a sua inocência pelo estado miserável da economia e atiram, como sempre, as culpas para os outros ( eles próprios devido à alternância) e o ónus da sua incompetência para o Zé Pagante, quem mais senão ele?
De tanga ou sem ela a receita é sempre a mesma, e mais fácil, aumentos dos impostos indirectos e cortes na função pública. Vem a propósito recordar que alguns dos economistas que agora, e de novo, defendem estes aumentos e cortes, são os mesmos que proclamam que a iniciativa privada é que move o país e cria emprego e riqueza. Dá vontade de perguntar se estamos a falar do Portugal que todos conhecemos.
Os jornais continuam a noticiar os aumentos de lucros da banca, salários milionários de gestores públicos, compras de jogadores a valores astronómicos e ainda há quem afirme que os aumentos dos impostos indirectos, que atingem igualmente pobres e ricos, são justos e moralmente aceitáveis.
Penso que cada vez mais se aplica aos políticos, todos eles, a máxima: todos diferentes, todos iguais.Culturalmente falando, nós por cá, já estamos habituados.

sexta-feira, maio 20, 2005

DISSE PRIVATIZAR ?

Num passado ainda recente foi criada uma sociedade anónima de capitais públicos que passou a “tomar conta” do Parque e do Palácio de Monserrate e do Parque da Pena, bem como da recolha das receitas deste último e do Palácio Nacional da Pena que passaram a fazer parte dum bilhete único. Na devida altura foram questionados o IPPAR e a Câmara Municipal de Sintra sobre o assunto e perguntado se daí não resultaríam prejuízos para estes dois accionistas ou para o público em geral. As respostas ficaram-se pelas boas intenções embora mais tarde tenham vindo a público as más contas da sociedade, falou-se até de má administração, e era voz corrente que o IPPAR além de receber menos que anteriormente, até tinha dificuldades em receber a sua parte das entradas que estavam muitos meses em atraso.
Curiosamente no dia 15 de Maio deste ano no jornal Público surge uma notícia, não desmentida nos dias seguintes, segundo a qual um responsável do IPPAR tería afirmado que não rejeitava a entrada de privados na gestão do Mosteiro estando tudo em aberto nesta altura.
O avanço da Soc. Anónima de capitais públicos para a abertura da gestão a privados de monumentos nacionais é um passo de gigante que sugere muitas interrogações. O Palácio Nacional da Pena foi uma experiência negativa dizem-no os próprios accionistas, e sem se resolver o problema experimenta-se avançar para a gestão privada dum monumento que faz parte do Património Mundial ? A conservação e demais despesas continuam a ser responsabilidade do IPPAR e as receitas são partilhadas com os privados ?
O património merece mais respeito e dignidade que cada vez mais parece ameaçada com atitudes destas que ninguém percebe.
Deixem repousar em paz D. Pedro e D. Inês de Castro.

sábado, maio 14, 2005

USANDO A IMAGINAÇÃO

Num país muito distante, para além do 3º mundo, onde os museus eram a 1ª prioridade dos governos, depois de todas as outras, foi sugerido o uso da imaginação para obviar “a incapacidade de recursos humanos e financeiros” que afectavam o sector.
O espanto instalou-se em todos os serviços, ninguém parecia compreender a mensagem que pairava muito acima do Q.I. dos pobres trabalhadores. Depois da necessária explicação de doutos jornalistas que se deram ao incómodo de descodificar o que de facto estava nas entrelinhas todos ficámos “mais descansados” com a decisão anunciada.
Afinal só faltavam 263 (em que universo?) jovens contratados a prazo de um ano a partir de Junho, para assegurar o funcionamento dos museus. É claro que já se prevê ( quem disse?) que no Verão de 2006 os funcionários do quadro não vão querer gozar férias e que os portugueses bem como os estrangeiros vão efectuar um boicote geral no que toca a visitas aos museus. Que clarividência !
Por outro lado vêm a caminho medidas legislativas para combater “os problemas crónicos” dos museus. Que alívio, vai ser criado um Conselho de Museus, vai ser regulamentada a Lei dos Museus e será criada uma estrutura coordenadora da Rede Nacional de Museus.
Os pessimistas que se calem, que até eu que protestava no início, chegado ao fim destas linhas, fiquei convencido que a falta de meios humanos e financeiros eram uma mera falácia, o que falta na realidade são decretos-lei e estruturas coordenadoras para o sector.
E esta ?

MAIS DO MESMO

Os políticos, em Portugal, já nos habituaram a uma dualidade de discurso, consoante estejam na oposição ou na situação. Na oposição reclamam ideais ligados a áreas sociais, direitos de cidadania, justiça social e igualdade dos cidadãos perante a lei. A receita resulta e em 4 ou 8 anos convencem os eleitores e sobem ao poder.
Quando instalados no poder começam por deixar cair as suas promessas, a abdicar de ideias anteriormente defendidas, arranjam pretextos (sempre os mesmos) para explicar o inexplicável, distribuem culpas para quem os antecedeu e vergam-se aos interesses que outrora denunciaram em inflamados discursos.
Não é mal da política mas sim dos políticos que se caricaturicam a si próprios. Quantos destes senhores e senhoras são exactamente aquilo que chamaram aos seus antecessores ?
A crise, os bloqueios, a burocracia, a baixa produtividade, a conjuntura, os choques disto e daquilo, a ineficácia do Estado, a complexidade dos processos, a morosidade da justiça, a competitividade ou falta dela e muitos outros jargões, fazem sempre parte do discurso do poder político quando se prepara mais ataque a quem trabalha (ou quer realmente trabalhar) e cumpre com as suas obrigações enquanto cidadão.
Por estas e por outras quase ninguém acredita nos nossos políticos e poucos há que ainda acreditam que o verdadeiro poder não seja o económico. Os ideais ficaram esquecidos e o pessimismo avassala toda a sociedade portuguesa, ouvindo-se apenas o som grotesco de aves voando em círculo sobre as nossas cabeças. É o deserto de ideias e a imaginação delirante de quem teima em não ver a realidade.

sábado, maio 07, 2005

A MEDIDA ESTÚPIDA

Em tempos, uma ministra admitia que o congelamento de admissões na função pública era uma medida estúpida mas que era para pôr em prática. Desde então, a estupidez tem imperado e as admissões continuam, oficialmente, congeladas assistindo o governo (mais do que um) impávido e sereno a este fenómeno.
Na Cultura, como noutros ministérios, entram por nomeação e por outros caminhos mais ou menos óbvios (e ínvios) uns quantos senhores e senhoras para cargos bem remunerados, mas, para as funções mais mal remuneradas vamos verificando o natural envelhecimento dos funcionários e a diminuição do número dos mesmos devido às reformas e óbitos. Visto que os nossos economistas e demais analistas, afirmam que o número de funcionários não pára de aumentar sería interessante, e até mais sério, que denunciassem onde e como isso acontece.
Tudo isto a propósito da falta de pessoal de vigilância dos museus e monumentos (mal) disfarçada com o (discutível) recurso a protocolos com o IEFP para a admissão com carácter temporário de desempregados. Este estratagema já dura há mais de uma década, já se gastaram milhares de contos (milhões de euros) em formação profissional (literalmente deitada para o lixo) não se tendo aproveitado um único elemento para integração nos quadros, e ninguém parece reparar que o envelhecimento do pessoal e sua diminuição progressiva está a provocar bloqueios e sérias dificuldades de funcionamento.
Quem será responsabilizado por este estado das coisas? Será que os museus não têm futuro? Haverá alguém com lucidez suficiente para inverter os malefícios da tal medida estúpida e distinguir o necessário do supérfluo ? Há que saber racionalizar os recursos mas não é forçoso teimar no disparate.

domingo, maio 01, 2005

CRISE E ORGANIZAÇÃO

A crise tem sido o pretexto mais utilizado para justificar um funcionamento deficiente de muitos serviços públicos, incluindo os dependentes do Ministério da Cultura. Todos sabem que as carências são mais do que muitas, sejam de meios financeiros ou humanos, mas o factor mais gritante é sem dúvida a falta de organização e o planeamento.
Melhorar serviços e estabelecer metas implica muito planeamento, organização e objectivos. Os dirigentes dos serviços sabem, ou pelo menos deviam saber, quais os meios humanos indispensáveis para o funcionamento regular, falta-lhes por vezes coragem para o exigirem às respectivas tutelas. Também não podem escudar-se com as dificuldades de meios para não proporem programas a médio prazo para a dinamização dos serviços e melhoria da prestação dos mesmos, até porque esta é a única razão aceitável para exigirem os meios necessários.
A inércia é o nosso fado e há pessoal dirigente que teima em não incomodar as tutelas, talvez por dependerem das suas nomeações...