1ª Parte
Subindo a escadaria vê-se uma
fonte da Renascença e, transpostos os arcos ogivais, toma-se o bilhete para a
visita. Deste átrio, com a sua série de formosas janelas, sobe-se, por dois
lanços de escadas, o segundo em espiral, ao interior (um guarda acompanha os
visitantes):
Entra-se na Sala dos Archeiros,
ornamentada por dois belos panos de Aubusson, contadores, quadros e uma mesa de
mosaico florentino; daí se passa à Cozinha, que tem de notável ser todo o tecto
formado por duas enormes chaminés cónicas, que de fora se avistam de muito
longe.
Sobe-se depois à curiosa Sala dos
Mouros, com as paredes forradas de azulejos árabes e uma fonte de mármore no
meio; e dela se passa à Capela, onde são dignos de nota o tecto, o chão da
capela-mor e os restos de um fresco. À direita era a tribuna real.
Daí vai-se à sala onde, numa
vitrina, está um rico pagode de marfim, presente do imperador da China a D.
Carlota Joaquina; e subindo16 degraus à direita, ao cubículo de onde ouvia
missa o infeliz D. Afonso VI, que aí morreu em 12 de Setembro de 1683, durante
um desses ofícios. Do outro lado é o quarto onde ele esteve 8 anos prisioneiro,
depois de abdicar forçadamente à coroa para seu irmão D. Pedro II, que não só
lhe arrancou o ceptro, como conseguiu também anular-lhe o casamento e matrimoniar-se
com a rainha Maria Francisca Isabel de Sabóia. O rei deposto tanto passeou a
sua tristeza nesse quarto que gastou os tijolos do pavimento, como ainda hoje
se vê. Era passeando que o infeliz olhava continuamente a montanha, onde o conde
de Castelo-Melhor, seu primeiro ministro e devotado amigo, duma casa na
vertente da serra (hoje Quinta do Saldanha) lhe fazia sinais, para lhe incutir
esperança numa revolta que o reporia no trono. Assim reza a tradição.
(Continua)
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