Dois Rumos
Mentir, eis o problema:
minto de vez em quando
ou sempre, por sistema?
Se mentir todo dia,
erguerei um castelo
em alta serrania
contra toda escalada,
e mais ninguém no mundo
me atira seta ervada?
Livre estarei, e dentro
de mim outra verdade
rebrilhará no centro?
Ou mentirei apenas
no varejo da vida,
sem alívio de penas,
sem suporte e armadura
ante o império dos grandes,
frágil, frágil criatura?
Pensarei ainda nisto.
Por enquanto não sei
se me exponho ou resisto,
se componho um casulo
e nele me agasalho,
tornando o resto nulo,
ou adiro à suposta
verdade contingente
que, de verdade, mente.
Carlos Drummond de Andrade
Lábia by Goran Divac
9 comentários:
Bom domingo com saudações amigas
Uma voltinha pela poesia que refresca o cinzento da realidade nacional.
Bjos da Sílvia
É um dos meus poetas preferidos.
Um abraço e bom Domingo
Boa escolha, meu caro!
Abraço-o
Na verdade tudo é relativo
excepto a minha
que é tão só uma convicção
e já é tanto
"São de facto dois rumos opostos uma verdade e uma mentira" Prefiro as verdades mas tenho me contentado com as mentiras... Nosso Carlos foi um grande poeta...
a verdade da mentira... um filme que se vê com frequência...
abraço
a verdade da mentira... um filme que se vê com frequência...
abraço
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