ANTÓNO CABRAL
 
SOLIDÃO
A maior parte das vezes não abre a janela:    
senta-se no velho poial, como um resto de musgo,     
e deixa que os olhos passem no vidro,     
visitando-se mais uma vez. As coisas,
    
gradualmente, configuram-na, desde aquela hora,     
e quem a procura, sentindo-a no fundo das águas,     
não lhe pergunta pelo marido.     
O relicário de pau-santo fere-lhe
a solidão de semente abolida,    
já o arco de si própria.     
Pudesse ao menos saber para onde irão varrer
    
o que ficar da sua sombra, quando vender a quinta.     
Para junto dos limoeiros, sonha.     
enquanto a alma escorrega, docemente.
in ANTOLOGIA DOS POEMAS DURIENSES
FOTOGRAFIA

CARTOON
 
 
 
3 comentários:
Poesia do Douro? Douro-ouro-douro-vinho-douro-quinta-trabalho e c'mil diabos já fazes oito anos?!
Um abraço feito num oito se assim não fôr
Não faço oito anos neste espaço, mas também não falta tudo. Oito é um número mágico da garota a quem foi destinado o cartoon, e que essa sim faz oito anitos de casório, com um troglodita que até é bom rapaz, ainda que desajeitado.
Esqueci-me do nome do autor? Vou tentar corrigir a coisa.
Abraço do Zé
O tão pertinente problema da solidão, que dá que pensar, nas sociedades modernas num poema cujo autor eu desconhecia.
Bem-hajas!
Abraço fraterno
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