terça-feira, junho 07, 2011

ODE À MENTIRA

Crueldades, prisões, perseguições, injustiças,
como sereis cruéis, como sereis injustas?
Quem torturais, quem perseguis,
quem esmagais vilmente em ferros que inventais,
apenas sendo vosso gemeria as dores
que ansiosamente ao vosso medo lembram
e ao vosso coração cardíaco constrangem.
Quem de vós morre, quem de por vós a vida
lhe vai sendo sugada a cada canto
dos gestos e palavras, nas esquinas
das ruas e dos montes e dos mares
da terra que marcais, matriculais, comprais,
vendeis, hipotecais, regais a sangue,
esses e os outros, que, de olhar à escuta
e de sorriso amargurado à beira de saber-vos,
vos contemplam como coisas óbvias,
fatais a vós que não a quem matais,
esses e os outros todos... - como sereis cruéis,
como sereis injustas, como sereis tão falsas?
Ferocidade, falsidade, injúria
são tudo quanto tendes, porque ainda é nosso
o coração que apavorado em vós soluça
a raiva ansiosa de esmagar as pedras
dessa encosta abrupta que desceis.
Ao fundo, a vida vos espera. Descereis ao fundo.
Hoje, amanhã, há séculos, daqui a séculos?
Descereis, descereis sempre, descereis.


Jorge de Sena, in 'Pedra Filosofal'


FOTOGRAFIA




CARTOON

4 comentários:

São disse...

rrrrsss rrss sim, a troka é uma boa suspeita rrsss

Jorge de Sena, boa escolha

Feliz semana

Anónimo disse...

Gostei de rever Jorge de Sena e fartei-me de rir com as cólicas da troika.
Bjos da Sílvia

C Valente disse...

Bom fim de semana e vamos gozar o Sto António,
tristezas não pagam conta
Saudações amigas

C Valente disse...
Este comentário foi removido pelo autor.