Por vezes utilizamos frases de pensadores e humoristas, ou recorremos a provérbios para reforçar uma ideia que queremos vincar. É prática normal e aceitável, que contudo não se estende a teorias mais complexas, como as económicas, dum modo tão linear como possa parecer à primeira vista.
Ouvi ontem da boca de um dirigente socialista português uma referência a John Maynard Keynes, a propósito de uma discussão económica, e fiquei admirado já que dificilmente consigo encaixar o socialismo com o pensamento económico de Keynes. Percebi desde logo que depois de tentar descolar-se do neoliberalismo, agora caído em desastre, a escolha de um teórico anterior a esta corrente talvez tenha sido uma tentação quase irresistível para um neófito na matéria, mas de qualquer modo desadequada
O orador, socialista, devia ter lido Keynes antes de o invocar, e teria reparado que o socialismo não era algo que ele tivesse em grande apreço como bem ilustra a frase “O socialismo é a crença mais estarrecedora de que o mais insignificante dos homens fará a mais insignificante das coisas para o bem de todos”, ou ainda uma outra "Não há evidência clara a demonstrar que a política de investimento socialmente mais vantajosa coincida com a mais lucrativa". Já agora, e no contexto da referência a Keynes, aqui fica a maior contradição “Deve-se notar que, para o estado aumentar a demanda efectiva, ele deve gastar mais do que arrecada, porque a arrecadação de impostos reduz a demanda efectiva, enquanto que os gastos aumentam a demanda efectiva”.
Concluo citando um provérbio, “quem te manda a ti sapateiro, tocar rabecão”.
10 comentários:
bem visto e bem apanhado...
faz lembrar o fulano que todos os dias ia buscar uma palavra ao dicionário e depois passava o dia a utiliza-la em todas as ocasiões.
Lembrei-me de uma história muito antiga em que um sapateiro criticava uma obra do pintor Apeles. Depois de criticar o sapato e antes de continuar, Apeles, pintor grego da Antiguidade, interceptou-o: não vá o sapateiro além do chinelo.
Se cada um só fizesse e falasse daquilo que sabe bem não estaria a situação económica, social, financeira como está.
Gostei do lobo a seduzir o capuchinho. Acompanhou as novas tecnologias.
Beijinhos
Também me admirei que o Louçã tivesse deixado passar em claro a sugestão do Socas, ou até a boa mão cheia de economistas que povoam S. Bento, porque gostava de ter ouvido o inginheiro aprofundar a sua concordância com as teorias do Keynes. Oxalá alguém o faça nos próximos dias, numa altura em que a privatização da banca está em cima da mesa.
Lol
AnarKa
Calem-se! Calem-se! Se os que nos governam percebessem alguma coisa de economia ou, pelo menos, vissem um pouco mais além das suas economias, não teríamos chegado a este triste estado. Tenham um pouco de dignidade e retirem-se para as suas quintas!
Um abraço calado mas com os braços na posição do Zé
Amigo Zé,
Eu que sou uma ignorante neste e em tantos outros assuntos, dou comigo a perguntar-me quantas vezes ouviremos palavreado e asneiras como essas saídas dessa gente que frequenta os programas de grande discussão política.
E cada vez se fala mais, e pelos vistos mal.
Eu, mesmo ignorante, entendi, pela tua mão, a incongruência dessas citações. E por aqui me fico como o sapateiro.
Um abraço
Sinal dos tempos ... a ignorância e confusão fazem coisas destas ...
Epá! Isso é que é cultura! Enfim, ainda no outro dia o Sócrates se dirigia a militantes do PS como socialistas, penso que isto diz tudo...
Ignorância e confusão... No Comments...
Pois é Zé, agora o fatinho Boss já não é liberal, nunca foi socialista e adora o Keynes e a economia, que é precisamente a cadeira que mais falta lhe faz, pela testa abaixo.
O lobo tecnológico é um achado.
Bjos da Silvia
Boa noite, 'Zé'!
Vim dos caminhos da blogosfera e gostei de ter passado por cá.
Deixo um abraço
I.
NB - 1. Pensei que o 'fatinho' era Armani! ;)
2. É um 'Lobo tecnológico' mas do PS. A comprová-lo está o telemóvel cor-de-rosa. ;)
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