O interesse pela baía do Pungoé - designada então por baía de Massansane
ou baía do Mesquita - vem desde 1882 quando o explorador Joaquim Carlos
Paiva de Andrada chamou a atenção da Sociedade de Geografia de Lisboa
para a ocupação da vasta zona compreendida entre Sofala, Manica e Sena,
sendo esta a porta natural para a reocupação de todo aquele território.
As origens e o desenvolvimento da cidade da Beira, cujo nome é uma
homenagem ao príncipe herdeiro português D. Luís Filipe, tiveram a ver
com a sua posição privilegiada numa futura rede de comunicações com o
interior, que se viria a construir de acordo com as obrigações
internacionalmente impostas a Portugal. A sua localização definitiva, na
margem esquerda do rio Pungoé, à revelia das determinações oficiais de
1884, reflecte já a necessidade de encontrar melhor ancoradouro após o
reconhecimento hidrográfico daquele rio.
A primeira ponte de desembarque viria a ser construída na margem direita
do Chiveve, em 1895, estando na origem do actual complexo portuário que
data de 1929. Uma linha ferroviária liga a cidade com o Zimbabwe (então
Rodésia do Sul) desde 1896, sendo posteriormente aberto à exploração o
transzambeziano, que tinha como ponto de partida o Dondo, a 27
quilómetros da Beira.
A fixação definitiva de portugueses na região, no interior duma pobre
paliçada de paus e matope erigida nas terras desabitadas do Bangoé, só
viria a dar-se em Agosto de 1887 após demoradas e difíceis negociações
com Ngungunhane, senhor da região, a partir das invasões
“nguni”(1835-1836).
Toda a região de Manica e Sofala viria a ser palco de graves conflitos
internacionais nos quatro anos imediatos a essa instalação dos
portugueses. Em 1891 chegou a estar iminente a sua ocupação pelas forças
policiais da British South Africa Company.
A fixação e o desenvolvimento de tão vastos territórios viria a ser
entregue a uma sociedade comercial (a primeira Companhia de Moçambique),
como era comum na época. Instalada na Beira, procurou estabelecer a sua
presença efectiva em Manica.
Só após o regresso da tranquilidade aos territórios e a constituição da
segunda Companhia de Moçambique, em 1892 (com poderes majestáticos!), se
iniciaram os grandes trabalhos que vieram a transformar a Beira.
A povoação nasceu verdadeiramente com os primeiros armazéns construídos
pela primitiva Companhia de Moçambique, em 1888. Quatro anos depois,
quando se fundou a segunda Companhia, as construções já se espalhavam,
em desalinho, sobre uma estreita língua de areia, entre o Chiveve e o
rio Pungué: as casas da Companhia ocupavam a margem direita, o
acampamento da expedição militar e a aringa do comando militar do
Aruângua, já em ruínas, a margem esquerda.
Por iniciativa do engenheiro Joaquim José Machado, na tentativa de obviar aos inconvenientes existentes, tal como se verificava com as primitivas barracas do Bairro da Alfândega (hoje completamente desaparecido), viria a ser delineada a primeira planta da povoação, onde se indicavam as principais ruas e bairros, numa estrutura regular e geométrica.
Por iniciativa do engenheiro Joaquim José Machado, na tentativa de obviar aos inconvenientes existentes, tal como se verificava com as primitivas barracas do Bairro da Alfândega (hoje completamente desaparecido), viria a ser delineada a primeira planta da povoação, onde se indicavam as principais ruas e bairros, numa estrutura regular e geométrica.
Evitou-se assim o crescimento desordenado e definiu-se um esquema de
arruamentos ajustado à configuração do espaço. Espaço esse, que se foi
ampliando conforme as necessidades da sua expansão, dividindo-se o
terreno edificável em talhões com uma orientação definida.
Os planos de urbanização posteriores respeitaram o traçado primitivo,
ajustando-o apenas às novas concepções urbanísticas. Na margem esquerda
do Chiveve, onde se encontravam o farol, a alfândega, o hospital e o
mercado, o traçado inflectiu sucessivamente para leste, facto ainda hoje
facilmente verificável pelo percurso da Rua António Enes, acompanhando a
estreita língua de areia, estendendo-se o extenso alinhamento até junto
do mar, na actual Praça da Independência (conhecida, no período
colonial, por Praça da Índia). No seu extremo, encontrava-se o Bairro da
Ponta Gêa, onde desde cedo a Companhia construiu algumas
infra-estruturas, como um posto semafórico/farol (1892-1893), estando
este edificado numa península de areia.
Na margem direita do Chiveve, conhecido por Maquinino, erguiam-se também
alguns dos principais edifícios da povoação, como o quartel, a cadeia, a
igreja, o cemitério e um campo desportivo de cricket!
A ligação entre as duas margens era fundamental, tendo-se inicialmente
construído uma ponte de madeira, que em 1910 foi substituída por uma
ponte metálica.
A ligação com o interior viria a fazer se com uma estrada na direcção do
norte, visando evitar o pântano, no sentido do Esturro, de onde
inflectia para Matacuane. Deste local o traçado dirigia-se para a
elevação arenosa da Chota, desviando-se depois no sentido da Manga
Loforte. Mais tarde, foi aberta a estrada da Munhava e, a partir desta,
no lugar do Esturro, uma outra directamente para a Manga.
A estrada de acesso ao Macúti, onde já existia um farol (1904), e à
missão católica de Marora, não foi traçada ao longo da linha da praia
por se recear a sua conservação, visto o vento a cobrir frequentemente
de areia. Foi após a conclusão daquele arruamento, em Novembro de 1930,
que se pensou em estudar para esse local a criação de uma “povoação de
europeus”. O seu desenvolvimento viria a ocorrer vinte anos mais tarde,
quando se construíram as 100 vivendas que constituíam o Bairro da Sofil
(1953), se instalou algum comércio (o “Leão de Ouro” e o “Emporium”) e
um clube náutico (1953).
Também se estabeleceu uma zona turística ao norte do farol,
compreendendo, entre outros, um acampamento turístico e um hotel a
partir de Abril de 1957.
O ante-projecto de urbanização da cidade, de autoria do engenheiro Joaquim de Oliveira Ribeiro Alegre e do arquitecto José Luís Porto, aprovado em 1947, marcaria o futuro da cidade até hoje.
O ante-projecto de urbanização da cidade, de autoria do engenheiro Joaquim de Oliveira Ribeiro Alegre e do arquitecto José Luís Porto, aprovado em 1947, marcaria o futuro da cidade até hoje.
A Beira dividia-se em bairros, tanto do ponto de vista étnico - europeu
(estendia do sul do Chiveve até ao Macúti), asiático (Maquinino, Esturro
e Matacuane) e africano (Manga) - como pela funcionalidade - comercial
(na parte ocidental), industrial (a poente da estrada da Manga),
ferroviário (onde actualmente ainda se encontra localizado) e campo de
aviação (Manga). O Chiveve seria transformado num lago que, com o campo
de golfe, daria lugar a um grande espaço livre, necessáriopara
arejamento e desafogo da cidade, muito embora, posteriormente, para esse
local tivesse sido preconizado um Centro Cívico e Comercial.
Só a partir da segunda metade dos anos 50 do século passado e da década
seguinte se deu uma evolução na mancha urbana, de certo modo rápida, nas
zonas do Macúti, Matacuane e Munhava-Nova, acompanhada com a construção
de edifícios de grande porte, como o Grande Hotel da Beira, o Banco
Nacional Ultramarino, os cinemas São Jorge e Nacional, e os prédios
Bulha, Entreposto, A Teixeira, Souglides, F. L. Simões, Cocorozis,
Nauticus, Nunes e Barreto.
Simbolicamente, a expressão mais visível das transformações urbanas
ocorridas nesse novo período é a Praça do Município, surgida após a
demolição das velhas casas de madeira e zinco ali existentes, tendo as
obras da mesma ficado concluídas em Dezembro de 1954.
Não existe até hoje um inventário pormenorizado dos edifícios com interesse histórico ou arquitectónico da cidade da Beira. Das velhas edificações de madeira e zinco, muitas das quais resistiam ainda após a independência, praticamente já nada existe. O uso generalizado destes materiais nos princípios do século XX faria com que a Beira fosse conhecida internacionalmente como a “Cidade do zinco”. Quando a povoação se começou a expandir, a partir de 1891, dando origem à actual rua António Enes ligando o Comando Militar à zona da alfândega, encheu-se de casas deste tipo, de um e outro lado da rua - eram as chamadas “Casas do Governo”.
Não existe até hoje um inventário pormenorizado dos edifícios com interesse histórico ou arquitectónico da cidade da Beira. Das velhas edificações de madeira e zinco, muitas das quais resistiam ainda após a independência, praticamente já nada existe. O uso generalizado destes materiais nos princípios do século XX faria com que a Beira fosse conhecida internacionalmente como a “Cidade do zinco”. Quando a povoação se começou a expandir, a partir de 1891, dando origem à actual rua António Enes ligando o Comando Militar à zona da alfândega, encheu-se de casas deste tipo, de um e outro lado da rua - eram as chamadas “Casas do Governo”.
Com a passagem dos territórios para a Companhia de Moçambique, estas
viriam a ser ocupadas pelos diversos serviços: Intendência, Tribunal,
Conservatória e as residências dos respectivos funcionários.
O edifício da Intendência, que seria também a residência e sede do
Governo do Distrito de Sofala, era na altura a melhor casa da Beira.
Distinguia-se pelo enorme mastro, à entrada, ali colocado pela
tripulação do navio de guerra “Mandovi”. Foi um dos últimos a
desaparecer do chamado Bairro do Governo, demolido em Setembro de 1958.
Hoje é o parque de estacionamento ao lado do cinema Nacional.
Ainda que o uso do zinco se mantivesse até à década de 1920, já no final
do século XIX começaram-se a construir alguns edifícios de alvenaria.
Mas das “construções de ferro” restam ainda belos exemplares, sendo a Casa Portugal o mais conhecido.
Texto do Dr. António Sopa
Texto retirado do blogue Beira-amar
2 comentários:
Haja luz
Uma terra de muito boa gente...
Bjo da Sílvia
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