quinta-feira, maio 03, 2012

POESIA

Emprego e Desemprego do Poeta 

Deixai que em suas mãos cresça o poema
como o som do avião no céu sem nuvens
ou no surdo verão as manhãs de domingo
Não lhe digais que é mão-de-obra a mais
que o tempo não está para a poesia

Publicar versos em jornais que tiram milhares
talvez até alguns milhões de exemplares
haverá coisa que se lhe compare?
Grandes mulheres como semiramis
públia hortênsia de castro ou vitória colonna
todas aquelas que mais íntimo morreram
não fizeram tanto por se imortalizar

Oh que agradável não é ver um poeta em exercício
chegar mesmo a fazer versos a pedido
versos que ao lê-los o mais arguto crítico em vão procuraria
quem evitasse a guerra maiúsculas-minúsculas melhor
Bem mais do que a harmonia entre os irmãos
o poeta em exercício é como azeite precioso derramado
na cabeça e na barba de aarão

Chorai profissionais da caridade
pelo pobre poeta aposentado
que já nem sabe onde ir buscar os versos
Abandonado pela poesia
oh como são compridos para ele os dias
nem mesmo sabe aonde pôr as mãos

Ruy Belo

CARTOON

FOTOGRAFIA 

By Palaciano

4 comentários:

Fada do bosque disse...

ahahahahah!! Foi a 1ªa vez que vi um coelho a bocejar e a espreguiçar-se!:)
Bem apanhada.

Anónimo disse...

O bom gosto das escolhas merece ser salientado.
Bjos da Sílvia

São disse...

Tenho mesmo que ler um livro de Belo!!

Um abraço.

Ah, gostei das ilustrações, rs

Elvira Carvalho disse...

Gostei da sua escolha.
Um abraço