terça-feira, agosto 12, 2008

CAÇADAS REAIS

“… As caçadas eram também uma diversão muito apreciada pela Corte, e a ellas era muito affeiçoado El-Rei D. Manoel. Diz-nos ainda o seu chronista: « Deleitava-se muito no monte e era um bom besteiro e caçador de vontade, pêra o que tinha muito lebreus e sabujos e outros cães, com muitas e boas aves de presa de diversas raças que mandava vir de fóra do seu Reino. Mas ao montear e caça do gavião era mais inclinado do que à caça dos falcões. Nunca ía à caça sem levar musicas e instrumentos de camara, com que lhe tangiam e cantavam fóra no campo ou nas casas onde comia ou repousava».

Espectáculo verdadeiramente curioso e pitturesco o da partida d’este Rei, em tudo ostentoso e magnificente, dos Paços de Cintra para uma caçada em que era acompanhado de numeroso séquito! Pelo pateo vêem-se as matilhas dos delgados lebreus seguros pelas trelas, impacientes por partirem; escuta-se o latir dos sabujos fustigados pelos moços do monte; o relinchar dos ginetes destinados a El-Rei, a todos os Senhores da Corte, e aos duzentos cavalleiros de sua casa que o acompanhavam sempre; as pragas dos moços da estribeira e dos moços das esporas, a quem os carcundas e chocarreiros reclamam pacíficas mulas para os conduzirem; a azafama dos músicos e menestréis que seguem a caçada; e por último El-Rei D. Manoel descendo dengosamente a escadaria, seguido do Barão de Alvito, Prior do Crato, D. João de Menezes, pelo estribeiro-mór Francisco Homem, e por tantos outros, alegre, prazenteiro, calçando luvas de anta, e com um gesto despedindo-se da Rainha D. Maria, que apparece na grande janella da fachada em companhia da camareira-mór, emquanto que pelas adufas das habitações das damas apparecem cabecinhas curiosas, seguindo com o olhar alguns dos personagens da vistosa e apparatosa scena.”

Texto d’O Paço de Cintra do Conde de Sabugosa (1903)

Fotos by Palaciano





*** * ***
CARTOON
Pavel Constantin

Jianping Fan

12 comentários:

Isamar disse...

E hoje temos um tema histórico, as caçadas reais,uma das principais ocupações dos nobres em tempo de paz. A caça terá sido uma das primeiras actividades do homem ,quando era nómada, e estendeu-se até aos nossos dias.
Um "desporto" caro que não me é caro.
Quanto aos azulejos, um documento histórico importante,em azul e branco são lindos.

Beijinhos

Um Certo Olhar disse...

Um acontecimento, a partida do rei para a caça como se pode ver pela descrição. A sumptuosidade e a ostentação são duas características do reinado de D. Manuel. O ouro da África e os produtos do Oriente viabilizavam este tipo de vida.

Beijinho

Meg disse...

Amigo Zé,
Hoje consegui vir ler-te e depois das peripécias dos posts anteriores, estive a ler esta descrição das caçadas como quem vê um filme. Uma viagem a outros tempos.
E à espera que este Agosto acabe depressa, te deixo um grande abraço.
Saudades

Pata Negra disse...

Nessa altura caçavam. Agora, o que fazem os nossos homens do poder para se entreterem? Gostaria que pensássemos no assunto!
Como sempre o texto traz uma boa sobremesa de imagens!
Boa caçada

Anónimo disse...


Sei que isto é a continuação da «resposta a pedido» de há uns dias, e que até sou a responsável desse artigo, mas como sempre és assertivo e fundamentas sempre bem a opinião, especialmente quando abordas assuntos culturais.
Bjos da Sílvia

FERNANDINHA & POEMAS disse...

Olá querido Zé, belíssima postagem!
O texto, as fotos, os cartoons uma maravilha Amigo... Aqueci o meu coraçao.
Beijinhos de carinho,
Fernandinha

papagueno disse...

Como um dos maiores monarcas do seu tempo, D. manuel tinha que levar um séquito condigno com o seu estatuto. Sempre excelentes as colaborações do Palaciano.
Um abrao.

Elvira Carvalho disse...

Caçadas, reais ou senm ser reais, não me agradam. Sacrificar animais por divertimento, matar só pelo prazer de matar revolta-me.
Um abraço

Anónimo disse...

Caros leitores(as)
A caça no séc XVI tinha uma finalidade que era alimentar as pessoas, e à época era ainda uma necessidade para muitos. As caçadas reais eram um divertimento da corte e também uma forma de afirmação de poder.
À luz do pensamento da época não era uma crueldade, embora hoje, e nestes moldes, assim seja considerada.
Atenciosamente
Palaciano

Isabel Filipe disse...

Este texto é belissimo ...

é mesmo uma autência pintura ... não o conhecia e, adorei lê-lo.


beijinhos

Tiago R Cardoso disse...

olha gostei, muito bem.

Jorge P. Guedes disse...

Muito interessante esta passagem!

Azulejos lindos e cartoons, como sempre, muito bons.

Completamente contrário aos gostos pela caça tão comuns na época de D. Manuel, fico-me pela observação atenta do texto.

Um abraço.