quarta-feira, julho 26, 2006

POBRES POLÍTICOS

O caso da reforma do deputado Manuel Alegre prestou-se aos mais variados comentários, uma reacção do deputado poeta e algumas críticas dos seus opositores. O público em geral, onde me incluo, apenas foi seguindo os episódios pela comunicação social, quase incrédulo perante o que se ia dizendo.
Segundo o DN, houve quem reagisse dizendo que “...É uma tentativa de assassinato político.” ou, pelo visado “...É a coisa mais miserável que me fizeram na vida. Isto nem no tempo do Salazar...”.
Nutro há longos anos alguma simpatia pelo poeta, embora discorde bastas vezes com algumas posições políticas do mesmo, enquanto deputado. Desconheço quem possa estar envolvido na bombástica notícia da sua reforma, mas lá que me fez pensar no assunto das reformas dos políticos, isso não nego.
Segundo o mesmo jornal, citando o economista Eugénio Rosa, Manuel Alegre terá sido reformado ‘compulsivamente’ (?) por ter chegado aos 70 anos. A dita reforma, acrescenta, “... não diz respeito só à RDP, mas sobretudo às funções de deputado. Aliás, os valores até são equivalentes ao ordenado médio de um deputado.” Mais adiante acrescenta até, o mesmo economista, que Alegre terá direito “a outra reforma, para a qual nem descontou, que é a subvenção mensal vitalícia como deputado.”
Que me perdoe o poeta, se bem entendi, o deputado tem direito a duas reformas como político, que eventualmente poderá acumular, ainda que parcialmente, com a actividade que esteja doravante a desempenhar. A menos que esteja redondamente enganado, e é possível com tanto ruído, a classe política aufere de mordomias que condena publicamente. Não se trata do deputado Manuel Alegre, mas de muitos outros (alguns falam em 364) que estão em condições parecidas.
Por muita simpatia que tenhamos por alguns políticos, ou mesmo que se acatem directivas partidárias, todos reconhecemos que o exemplo tem de partir de cima. Por mais que este ataque tenha sido por razões pessoais, quem sai ferida de morte é toda a classe política que pede sacrifícios a todos os cidadãos mas não abdica de “direitos” que mais ninguém tem.
Bem prega Frei Tomás. Faz o que ele diz, não faças o que ele faz.

quarta-feira, julho 12, 2006

COMPREENDER O QUE É SOCIEDADE

Pelo que vou vendo o que aprendi, há quase 40 anos atrás, deixou de ser verdade, pelo menos para muitos políticos e economistas.
Política e economia são um só mundo com regras muito próprias que desafiam a razão e o equilíbrio, que rege a natureza e o universo.
A obsessão pelo sucesso, objectivo definido por quem influencia a nossa sociedade, vai tendo o condão de me irritar profundamente, pelo absurdo que a mensagem contém em si mesma. È evidente que há excelência e sucesso, e que não acontece sem trabalho e persistência, mas não se pode ignorar a sorte e a oportunidade, factores aleatórios que não controlamos.
O que me deixa preocupado é que se esteja a incutir nas mentes de muitos jovens um objectivo, que, sabemos todos, nem todos poderão alcançar por muito que por isso batalhem. O homem de sucesso está para a sociedade actual, como os deuses da mitologia e os heróis estavam para os gregos e romanos. Claro que para quem promove actualmente o sucesso, talvez não seja bem assim, pois como atingiram alguma notoriedade, talvez gostem de envergar a roupagem de homens de sucesso ou até de heróis, mas isso será uma fantasia, a que naturalmente têm direito, mas apenas sua.
O mundo continua a rodar, o progresso acontece, as fábricas produzem e as máquinas funcionam, não porque há quem alcance o sucesso ou a excelência, mas porque há muitos milhões de pessoas absolutamente normais (umas melhores que outras) que cumprem a sua missão na sociedade, trabalhando honestamente sem se preocuparem, nem muito nem pouco, com a notoriedade ou com as honras que daí possam advir.
Ser normal parece que se tornou um anátema numa sociedade dita liberal, onde só os poderosos, os campeões, e os excelentes contam.
O que sucederia se os normais deixassem de existir?

segunda-feira, julho 03, 2006

OUTRA VEZ?

Há quem nos tente fazer crer que não existe campanha nenhuma, bem orquestrada, contra os funcionários públicos, contudo, a imprensa escrita e as televisões continuam sistematicamente a dar eco a pessoas que dedicam grande parte do tempo e espaço disponível a fazê-lo.
Num país livre como o nosso, todas as opiniões são respeitáveis, mas é curioso que aos funcionários públicos não seja dado espaço ou tempo de antena para rebaterem muitas das críticas que lhes são feitas. Temos lido e ouvido opiniões que são autênticos insultos para quem trabalha, sublinho o trabalha, na função pública e cumpre as tarefas que lhes são confiadas, que eu acredito, são uma larga maioria.
Há quem chame, indiscriminadamente, os funcionários público de sanguessugas ou de gordura inútil, sublinhando que “...Grande parte da população activa, através do Estado, recebe do país muito mais do que contribui.”. Mas ainda vai mais longe, afirmando que “É esta adiposidade que a dieta tem de eliminar.”.
Os nossos eminentes economistas, há tantos que até nem se percebe porque é que a nossa economia está neste estado, têm sido os mais ferozes neste ataque aos funcionários públicos, mais ainda que os empresários, o que não deixa também de ser curioso. Um caso particular que mais me tem chocado é o do Professor João César das Neves, que é sobejamente conhecido por algumas posições mais ou menos fundamentalistas no campo moral ou religioso, mas que mostra idêntico tique no respeitante à função pública.
Uma vez que, o respeitável professor indica o remédio para os problemas nacionais, receitando que “...É urgente que no corpo nacional a carne saudável substitua a gordura inútil.”, é da mais elementar regra de justiça que diga, de uma vez por todas, quem é afinal o tal tecido adiposo, onde está e quem são, ou foram, os responsáveis por tal situação.
Senhor professor, generalizar é fácil mas muito perigoso. O senhor ofendeu muita gente que não merece esta a sua falta de respeito. Um pedido de desculpa talvez não lhe ficasse mal.