quarta-feira, maio 30, 2018

NÃO SOU RICO, MEUS SENHORES

Surpreendentemente, ou talvez não, a notícia de que o “governo, patrões e UGT de acordo nas alterações à lei laboral” e a outra segundo a qual “Portugal tem o gás mais caro da UE e o preço da luz é o segundo mais alto”, não foram dadas em sequência em nenhum telejornal das nossas televisões, mas sim com algumas notícias diversas de permeio.

Pode parecer que as duas notícias não estão relacionadas, mas pode não ser mesmo assim.

O patronato nacional estica cada vez mais a corda, acenando com o possível aumento do desemprego, dizendo que as empresas não suportam salários mais altos nem as empresas podem admitir mais funcionários nos seus quadros. O custo do trabalho vem sempre à baila, como se só estes tivessem influência nos custos globais das empresas.

Se juntarmos as duas notícias vemos que é evidente que a energia é um custo a ter em conta, e que neste campo os empresários portugueses estão em desvantagem clara com os concorrentes europeus, ao contrário dos custos salariais, que não alinham pelos valores mais altos, mas sim pelos mais baixos.  


Outra informação que torna isto mais evidente, prende-se com o preço dos combustíveis rodoviários, que também estão entre os mais altos, em termos de paridade do poder de compra, sabendo-se que muitas das nossas exportações (e importações) dependem do transporte rodoviário. 


segunda-feira, maio 28, 2018

O DISCURSO DE COSTA

Ouvir António Costa acenar à juventude, especialmente à que saiu do país, com salários mais justos e comparáveis com os praticados nos países europeus, é simplesmente risível.

Portugal é um país onde o Estado paga mal aos seus funcionários, e onde os empresários seguem o (mau) exemplo dado pelo Estado. 

A pergunta que importa fazer é se alguém acredita que o ministro Centeno aceita e apoia a ideia do seu chefe...


sábado, maio 26, 2018

QUEREM MESMO QUE ACREDITEMOS?


No meu giro pelas notícias dos jornais portugueses dei com um título interessante, “restaurantes, hotelaria e hipers pedem refugiados”, e como não podia deixar de ser, lá fui eu ler a “anedota”.

Comecei por me rir ao ver a gerir o projecto uma entidade , o Alto Comissariado para as Migrações, e o nome de alguns parceiros da iniciativa, como sejam a Portugália, Teleperformance e Hard Rock Café.
Foi muito “tocante” ver que a preocupação dos criadores do projecto “ é que essas pessoas (os refugiados) ganhem o mais rapidamente autonomia, o que se consegue pela via do emprego”. Quem pode criticar semelhante afirmação?

A realidade pode ser muito cruel, e neste caso é definitivamente impiedosa. Os restaurantes, a hotelaria e os hipers são, na sua maioria, dos sectores que mais mal pagam e que mais trabalhadores precários empregam.

Se estes empresários têm, de facto, preocupações sociais, então porque não empregam, com salários dignos, boa parte dos trabalhadores que por lá passaram com contratos precários e com habilitações mais do que suficientes para as funções que desempenham? Noutro olhar mais realista, será que estes refugiados, devido à sua situação de fragilidade, não servirão apenas para engrossar a mão-de-obra barata que é tão procurada por maus empresários?
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Podemos ter um grande coração, e até ser crédulos, mas esta iniciativa cheira muito a esturro!

quinta-feira, maio 24, 2018

COMBUSTÍVEIS, DEMAGOGIA E POLITIQUICES


O aumento do preço dos combustíveis é uma boa arma de arremesso da política, e dos políticos, mas tudo depende de que lado da trincheira estão os críticos.

Todos os governantes consideram os combustíveis como um meio de obter mais receitas através dos impostos indirectos, porque muito erradamente tem-se feito passar a ideia de que o automóvel é um objecto de luxo.

Existem alguns factos que importam reter para se poder opinar sobre o assunto (os impostos sobre os combustíveis), porque são muito importantes.

Podemos começar pela injustiça que representam os impostos indirectos, que afectam de igual modo os mais ricos e os mais pobres, sem qualquer tipo de progressividade que é o apanágio dos impostos sobre os rendimentos, esses sim com salvaguardas para os mais desprotegidos.

Outro facto sobre os preços dos combustíveis é que eles influenciam de forma determinante a produtividade e os preços dos produtos, tanto para o mercado interno como para exportação.

De notar que Portugal é um país que depende muito do transporte rodoviário para a movimentação de mercadorias, e que também não temos um sistema de transportes públicos que se possa considerar minimamente eficaz.

Para não me alongar muito, talvez seja bom terminar com o facto de ainda há poucos anos, e por causa da queda dos preços do crude, o governo decidiu introduzir um adicional, ou uma sobretaxa, ao preço dos combustíveis, para não perder nos impostos esperados, dizendo que essa sobretaxa poderia ser revertida ou actualizada em função da evolução dos preços da matéria-prima, mas tal não aconteceu, de facto.

Faz algum sentido manter-se a austeridade nestes moldes? Será que as promessas dos nossos governantes ainda merecem algum crédito?



quarta-feira, maio 23, 2018

BEIRA - MOÇAMBIQUE 1965 (Cont.)


O desembarque inglês foi suspenso por Harold Wilson, para evitar um embate entre aliados de séculos pois ficou claro que Salazar não iria retroceder.
A frota inglesa voltou para águas internacionais e começou um bloqueio naval ao tráfego marítimo com destino à Beira, sendo apenas permitido que passassem os navios de mercadorias com mercadorias de e para Moçambique, Todos os navios com mercadorias para a Rodésia eram impedidos de entrar no porto da Beira.

Portugal decidiu reforçar a forças terrestres e aéreas na zona, com mais militares e aviões mais modernos (Fiat G91 e F84), bem como peças de artilharia, que equilibravam as duas forças, a inglesa e a portuguesa.

Por esses dias um petroleiro denominado Iona V, de cerca de 12.000 toneladas, carregado de crude para uma refinaria da Rodésia, chegou próximo das águas territoriais portuguesas ao largo do porto da Beira.

O plano inglês era de paralisar a Rodésia por falta de combustíveis, mas Salazar decidiu contrariar os ingleses, não permitindo a interdição de acesso ao porto da Beira.

Uma fragata e um draga-minas que estavam fundeados na Beira, receberam ordens para zarpar e ir buscar o petroleiro bloqueado pela armada inglesa. Os navios partiram e foram colocar-se um de cada lado do petroleiro, de modo a que se os ingleses quisessem impedir o navio de rumar à Beira, teriam de disparar sobre os vasos de guerra portugueses.

As ordens emanadas de Londres foram para não se abrir fogo, e o petroleiro grego foi então o primeiro a furar o bloqueio imposto pelos ingleses. Harold Wilson percebeu que Salazar jamais permitiria este embargo, e mandou retirar a sua força naval.



segunda-feira, maio 21, 2018

BEIRA - MOÇAMBIQUE 1965

Em finais de 1965, o primeiro ministro do Reino Unido, Harold Wilson, decidiu entregar o governo da Rodésia (do Sul) à maioria negra como já o fizera na Rodésia do Norte (Zâmbia) e com a Niassalândia (Malawi).

A população branca na Rodésia que era de cerca 250 mil pessoas, decidiu que Ian Smith seria o primeiro ministro de Uma Rodésia independente, governada por brancos, à semelhança do que acontecia na África do Sul, país que imediatamente apoiou a declaração unilateral de independência.

O governo inglês enviou de imediato uma força militar constituída por um porta-aviões, três fragatas e uns cinco navios de apoio, com a missão de desembarcar na Beira (Moçambique), porto marítimo e a única via de abastecimento e escoamento de produtos da Rodésia, para depois seguir para aquele território para impor à força a aceitação de um governo negro.

Os rodesianos brancos pegaram em armas dispostos a defender o o governo de Ian Smith, e enviaram mulheres e crianças para Moçambique e para a África do Sul, estando assim preparados para resistir à potência colonizadora.

Salazar não hesitou perante a possibilidade da abertura de novas frentes de guerra em Tete e em Manica e Sofala, fronteiras à Rodésia.
As ordens foram dadas às forças portuguesas com base na Beira, no sentido de impedir a todo o custo o desembarque de tropas inglesas. A bateria da costa, desactivada há mais de uma dezena de anos, foi reactivada, peças de artilharia móvel fora deslocadas para a a foz do Pungué e foram colocadas em locais estratégicos peças de artilharia antiaérea.

A cidade da Beira foi preparada para resistir a qualquer ataque dos ingleses, havendo mesmo treinos para protecção da população civil (lembro-me bem dos que foram feitos nos Maristas).

A frota inglesa entrou em água territoriais pensando que os portugueses não lhes fariam frente, quer por serem aliados, mas também porque as suas força eram manifestamente inferiores em poderio militar.

O envio de dois aviões T-6 Harvard, que dispararam rajadas de aviso para a água, à frente da esquadra inglesa, deu a perceber estabelecer uma testa-de-ponte para atacar a Rodésia, na Beira, não ia ser uma tarefa pacífica.

Meia dúzia de caças e uns poucos bombardeiros, todos da segunda guerra, não eram capazes de fazer frente a meia centena de caças-bombardeiros modernos, nem ao poder de fogo das fragatas da força naval, mas ficou claro que os portugueses iriam dificultar as intenções britânicas.


As pontes mais importantes, que ligavam a Beira à Rodésia foram armadilhadas, e havia ordens para as destruir em caso de desembarque inglês.

Continua no próximo post

Beira, estação de caminhos de ferro

sexta-feira, maio 18, 2018

MUSEUS FESTAS E REALIDADES

Somos todos favoráveis às comemorações do Dia Internacional dos Museus, e da Noite Europeia dos Museus, com o espírito de promover, junto da sociedade, uma reflexão sobre o papel dos museus, como aliás era o espírito do Conselho Internacional dos Museus quando em 1977 criou o Dia Internacional dos Museus.

As iniciativas mais fáceis são sem qualquer dúvida, a concessão de entradas gratuitas, meia dúzia de visitas guiadas, e a extensão dos horários. É tudo muito popular e não é muito popular colocar objecções, mas elas existem.

A penúria com que se debatem os museus, monumentos e palácios dependentes da DGPC, é evidente, ainda que poucos directores se atrevam a denunciar a realidade, preferindo não levantar ondas. O que devia ser feito, como exposições, investigação, melhorias na informação e na comunicação, mais conservação preventiva e muito mais, tem sido adiado e está quase esquecido nos gabinetes do poder.

Existe alguma, pouca, preocupação em, pelo menos, manter os espaços abertos ao público, quase sempre com muita falta de pessoal que assegure a vigilância dos espaços e das colecções. Não se consegue fixar pessoal nestas tarefas com as exigências necessárias de habilitações, praticando-se salários de 685 euros, e horários tão maus, que incluem sábados e domingos (sem qualquer pagamento extraordinário) e feriados. Quem aí ingressa rapidamente pede transferência ou concorre para outros serviços com horários mais decentes, e possibilidades de uma carreira.

As visitas guiadas, nestes dias de festa existem, mas experimentem solicitá-las noutros dias, especialmente aos sábados, domingos e feriados e verão a dificuldade em as obter, mesmo pagando.

Deixei para o final as Noites dos Museus, porque aí temos o inimaginável, porque os funcionários são escalados para trabalhar, a troco de tempo e não de dinheiro, quando a opção devia ser dos trabalhadores e não dos serviços, e considerando que muitos entram ao serviço às 9h30m, só estarão livres depois das 24 horas, sendo que se terá de apresentar ao serviço no dia seguinte às 9h30m. Note-se que nem faço contas aos tempos de deslocação entre a residência e o local de trabalho.


Os senhores directores dos serviços (pelo menos alguns), e a direcção da DGPC, não podem argumentar com o desconhecimento da Lei, mas insistem nesta prática , o que é lamentável.    


domingo, maio 13, 2018

COSTA NO REINO DA DEMAGOGIA

O 1º ministro António Costa é muito habilidoso com as palavras, mas a demagogia  é lixada e todos a topam quando alguém desmonta a lábia que caracteriza a política.


Outra coisa que António Costa refere é que “desses 350 milhões de euros temos que fazer opções, queremos aumentar mais ordenados ou queremos contratar mais pessoal? Aquilo que eu sinto, falando com a generalidade dos funcionários públicos, é que se houvesse as duas coisas seria excelente, mas se tiverem de escolher entre ganhar um pouco mais ou ter mais colegas para repartir o trabalho e prestar um melhor serviço, todos me dizem que preferem ter mais colegas de trabalho e prestarem um melhor serviço.”

Ou António Costa fala só com os seus amigos, ou é um ingénuo inveterado (ninguém acredita), ou então mente com os dentes todos que tem, e não tem.


A contestação que existe e está bem visível, o que diz a própria Secretária de Estado da Administração Pública, parecem ser coisas que António Costa quer ignorar, mas faz muito mal, porque nenhum governante deve ignorar o que é evidente, a menos que queira fingir que é cego e que isso passará despercebido ao eleitorado.

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sexta-feira, maio 11, 2018

QUEM APAGA A LUZ


Não me interessa que António Costa e alguns partidos políticos, e seus membros, possam ser favoráveis à OPA sobre a totalidade da EDP, porque não mudo de opinião sobre a asneira que foi a privatização da EDP-

Sinceramente acho que é um crime deixar nas mãos de privados, e neste caso nas mãos dum governo estrangeiro, grande parte da produção de electricidade e o seu transporte. A electricidade é um bem essencial, e vital, que devia estar nas mãos do Estado.

Portugal é um país pequeno mas não pode estar sujeito a que um qualquer estado estrangeiro, europeu ou de qualquer outras paragens, tenha nas suas mãos o poder de desligar o botão ou de manipular à sua vontade os preços ou os investimentos nas redes de distribuição.

Vamos lutar contra isto, mesmo sabendo que é uma luta difícil.



quarta-feira, maio 09, 2018

AS LISTAS DOS GRANDES DEVEDORES À BANCA INTERVENCIONADA

Segundo o Governador do Banco de Portugal, Costa, a “lista demaiores devedores à banca não pode ser pública”, e que mesmo o caso por parte dos deputados teria de ser ponderada, e coordenada segundo a legislação europeia.

O sigilo bancário vem sempre à baila quando estão em causa grandes empresas, e personalidades de vulto, sempre bem acompanhada pela legislação europeia, mas como se sabe, existe uma excepção, muito usada aqui em Portugal, que é se existirem ilícitos criminais, e para se chegar a essa conclusão talvez seja útil pensar-se em alterar a legislação, em vez de se fazer um grande Carnaval com esta questão.


Os portugueses devem saber quem andou a gozar com o seu dinheiro e merece também saber que quem o fez terá o devido castigo. Utopia? Talvez, mas são direitos que nos assistem, depois de ter-mos sido chamados a cobrir perdas inexplicáveis por parte dos bancos a que o Estado teve de acorrer com enormes quantias de dinheiro de todos nós.


segunda-feira, maio 07, 2018

DESCRIPÇÃO SOBRE O PAÇO DE SINTRA (cont.)

Conforme prometido aqui ficam as três páginas que faltavam para completar o que está escrito no livro a que aludi no post anterior. Espero que esta curiosidade seja do agrado de alguém, como aconteceu no meu caso.


domingo, maio 06, 2018

DESCRIPÇÃO SOBRE O PAÇO DE SINTRA

Durante os últimos 30 anos li as mais diversas publicações sobre o Palácio Nacional de Sintra, umas mais interessantes do que outras, algumas verdadeiramente elucidativas, outras bastante insípidas e pouco exactas, mas vale sempre a pena dar uma vista de olhos por todas elas.

Hoje deixo-vos algumas imagens dum livro de Joaquim da Conceição Gomes, de 1871, que além de falar do Monumento de Mafra (que não vem hoje a propósito), também dedica umas páginas ao Paço de Sintra. 
A segunda parte será publicada no próximo post

sábado, maio 05, 2018

UMA QUESTÃO DE TÍTULOS


Em Portugal os títulos académicos são como as divisas na tropa, e há quem se julgue o melhor cromo da colecção apenas porque exibe um qualquer título académico, por mais manhoso que seja.

Passando à porta de uma escola pude ouvir da boca duma senhora, que os auxiliares da escola faziam greve para ter um fim-de-semana maior, como se ganhassem bem, e tivessem uma situação estável. Dois dedos de conversa e percebi que estava na presença duma economista duma multinacional, que estava nos quadros da empresa, ganhava 2.500 euros mensais, mais algumas mordomias.

Percebi que muita gente desconhece, ou finge desconhecer que há quem receba salários inferiores a 1.000 euros mensais, muitas vezes sem um vínculo real, outras vezes com horários infames, e com chefes que não merecem essa designação.

As escolas fecham por causa das greves dos auxiliares, os hospitais falham por causa dos auxiliares, os museus fecham por causa dos vigilantes e assim por diante. Os tais títulos afinal não têm assim tanta importância, especialmente se servirem apenas de penacho.