sexta-feira, janeiro 19, 2018

MISÉRIA FRANCISCANA



Numa troca de opiniões sobre as condições de trabalho, mais do que penosas, dos vigilantes de museus, palácios e monumentos, alguém sugeriu que as condições climatéricas podiam ser obviadas com fardamentos apropriados. A ideia até podia ser boa se as condições fossem uniformes, e não são, e se os serviços tivessem orçamento que comportasse essa despesa, com fardamentos em quantidade suficiente e adaptados aos locais de trabalho e às diferentes condições existentes ao longo de todo o ano.

A realidade é bem diversa, e além de não serem fornecidos fardamentos adequados e em quantidade, os funcionários são mal remunerados e obrigados a apresentar-se dentro de parâmetros que os superiores consideram adequados, sendo que em alguns serviços as exigências são perfeitamente absurdas.

Esta situação de carência não é nova e por isso deixo-vos com extratos dum documento de 1912 e de outro de 1914:

“Em resposta ao ofício de V. Exª nº --- de 16 do corrente, cumpre-me dizer que solicitei da Administração do Concelho que… Quanto à substituição do fardamento não me é possível fazê-la, em virtude da pequena verba de dotação para os serviços a meu cargo. Envidarei porém os meus esforços para que da repartição que superintende n’este edifício se possa conseguir novos uniformes para o pessoal do museu.”  

“Sendo de muita necessidade a reparação dos fardamentos dos moços que fazem serviço no museu, e existindo em arrecadação neste serviço uns 8 capotes de cocheiro, já usados, mas que podem muito bem serem transformados em casacos para os mesmos, rogo a V. Exª se digne autorizar-me a fazê-lo, visto o cálculo feito por um alfaiate daqui a transformação não ir além de 8 escudos.”

Tudo isto pode parecer caricato, ultrapassado, e até despropositado, mas é tudo real, e parece que o tempo não fez com que a função fosse devidamente valorizada e respeitada.



1 comentário:

Elvira Carvalho disse...

E cem anos não foram dsuficientes para resolver a situação.
Abraço e bom fim-de-semana