terça-feira, agosto 02, 2016

PATRIMÓNIO E SEGURANÇA

As preocupações com a segurança das obras de arte dos museus, palácios e monumentos por esse mundo fora, são motivo de preocupação geral periodicamente, sempre que ocorrem roubos ou actos de vandalismo.

O último incidente tornado público, porque existem muitos que são ocultados, foi o da National Gallery, em Londres, onde dois quadros do século XVI sofreram danos que parecem ter sido causados por unhas ou anéis. Os responsáveis desta galeria começaram por diminuir o número de funcionários, em 2011, no ano passado 300 funcionários dos seus quadros foram obrigados a passar para os quadros da Securitas, uma empresa privada contratada para fazer a segurança das instalações, que foram alvo de privatização, e os salários baixaram para os novos funcionários, bem como o nível de formação para fornecer informações aos visitantes.

Por cá a escassez de pessoal encarregue da vigilância é imenso, até o Tribunal de Contas o reconheceu em relatório recente, a formação profissional não existe há vários anos, os quadros têm funcionários com idades bastante elevadas, e a carreira não é atractiva, por que é mal remunerada, exige disponibilidade para trabalhar sábados e domingos sem qualquer remuneração extra, e os feriados não existem e são mal remunerados. Só concorre a esta carreira quem procura um vínculo público para depois saltar para outro serviço sem todos os contras que esta profissão contém.

Já se registaram tentativas mais ou menos encobertas de privatizar a segurança dos museus, e já vi seguranças privados no controlo de bilhetes à entrada dum museu, noutro vi um segurança a vender bilhetes, e até a dar informações a visitantes em diversos locais.

Longe vão os tempos em que os vigilantes respondiam às perguntas dos visitantes, e davam informações sobre as colecções, ou nos ajudavam (visitantes), quando procurávamos saber onde encontrar determinada peça, ou nos aconselhavam a visita a outros museus onde se podiam admirar coisas que nos interessavam. Sei que as exigências académicas são hoje maiores, mas o desinteresse de quem está desmotivado, e a rotatividade destes profissionais, aliada à falta de formação profissional, levam-nos a esta triste situação.


Parece que tudo se resume a duas hipóteses: deseja-se sobretudo mais público, que significa maiores receitas, o que prevalece sobre o aumento da qualidade de serviço, que custa mais dinheiro, ainda que proporcione maior satisfação dos visitantes. É pena que a Cultura se resuma apenas, e só, ao factor económico.

Marte e Vénus de Sandro Botticelli, National Gallery

1 comentário:

O Puma disse...

Os poderes enfeudados são assim
instruídos
mas pouco cultos

Abraço