sexta-feira, março 30, 2012

POESIA SATÍRICA

No dia 4 de Janeiro de 2010 postei neste mesmo espaço este poema, que apesar de já ter uns quantos séculos continua bem actual. Hoje é uma ocasião como outra qualquer para repescar um autor do passado.

Poema barroco ibérico

A cada canto um grande conselheiro,
Quer nos governar cabana e vinha, *
Não sabem governar sua cozinha,
E podem governar o mundo inteiro.

Em cada porta um freqüente olheiro,
Que a vida do vizinho, e da vizinha
Pesquisa, escuta, espreita e esquadrinha,
Para a levar à Praça e ao Terreiro.

Muitos mulatos desavergonhados
Trazidos pelos pés os homens nobres,
Posta nas palmas toda a picardia.*

Estupendas usuras* nos mercados,
Todos os que não furtam muito pobres:
E eis aqui a cidade da Bahia.

Cabana e vinha: no sentido de negócios particulares.
Picardia: esperteza ou desconsideração.
Usuras: juros ou lucros exagerados.

GREGÓRIO DE MATOS GUERRA (1636-1695)

FOTOGRAFIA
Pombo by Palaciano

3 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Não conhecia este poeta, mas este olhava ao redor com olhos de ver.
Um abraço e bom fim de semana

Anónimo disse...

Boa escolha.
Bjos da Sílvia

O Puma disse...

... sempre actual