quarta-feira, novembro 30, 2011

FADO PORTUGUÊS

O Fado nasceu um dia,

quando o vento mal bulia

e o céu o mar prolongava,

na amurada dum veleiro,

no peito dum marinheiro

que, estando triste, cantava,

que, estando triste, cantava.



Ai, que lindeza tamanha,

meu chão , meu monte, meu vale,

de folhas, flores, frutas de oiro,

vê se vês terras de Espanha,

areias de Portugal,

olhar ceguinho de choro.



Na boca dum marinheiro

do frágil barco veleiro,

morrendo a canção magoada,

diz o pungir dos desejos

do lábio a queimar de beijos

que beija o ar, e mais nada,

que beija o ar, e mais nada.



Mãe, adeus. Adeus, Maria.

Guarda bem no teu sentido

que aqui te faço uma jura:

que ou te levo à sacristia,

ou foi Deus que foi servido

dar-me no mar sepultura.



Ora eis que embora outro dia,

quando o vento nem bulia

e o céu o mar prolongava,

à proa de outro velero

velava outro marinheiro

que, estando triste, cantava,

que, estando triste, cantava.


José Régio, in 'Poemas de Deus e do Diabo'

VARIAÇÕES EM AZUL

3 comentários:

Anónimo disse...

O fado segundo Régio e as sempre belas imagens, começando por um coelho querido (não é o outro) e uma vaca malhada de azul que não se ri como as do Cavaco.
Bjos da Sílvia

zeparafuso disse...

Azul não é cor da esperança! Um coelho azul dá para desconfiar, mesmo que o azul fosse a cor do alento. Agora se o azul for a cor da mentira e do engano...está certa!

Anónimo disse...

Um coelho azul era mesmo só o que faltava, porque o que conhecemos é o preto a escorrer sangue das dentuças...
Lol

AnarKa