sábado, outubro 29, 2011

BALANÇO PATRIÓTICO

Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional…

...

Uma grande parte da burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavra, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (?) na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e de toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro (*).

(*) Se o Nazareno, entre ladrões, fosse hoje crucificado em Portugal, ao terceiro dia, em vez do Justo, ressuscitariam os bandidos…

Continuo a escolher excertos da obra de Guerra Junqueiro, que nos mostra como este país não mudou muito com os anos. Está nas nossas mãos mudar as coisas, denunciando, reclamando e protestando sempre que achemos que a situação o requeira.


FOTOGRAFIA

CARTOON

4 comentários:

Pata Negra disse...

protestando sempre que achemos que a situação o requeira?!
Protestando 24 horas por dia?! Deixemo-nos de protestos regulares, façamos uma grande marcha a partir de Monção e acampemos na Quinta do Lago
Um abraço patriótico guerra e junqueiro

Anónimo disse...

Um português que também foi funcionário público e que se desiludiu com a política assaltada por miseráveis que deviam estar todos no Limoeiro.
Bjos da Sílvia

Elvira Carvalho disse...

As crises, e o pôr do pé em cima do povo, já vem de longe. E o pior é que não se descortinam melhores dias.
Ainda que nós protestemos todos os dias. A menos que os braços armados do povo intervenham.
Um abraço e bom fim de semana

Zé Marreta disse...

Guerra Junqueira e Eça de Queiroz foram "Nostradamus" no seu tempo...

Saudações!