domingo, outubro 23, 2011

AVARENTO

Puxando um avarento de um pataco
Para pagar a tampa de um buraco
Que tinha já nas abas do casaco,
Levanta os olhos, vê o céu opaco,
Revira-os fulo e dá com um macaco
Defronte, numa loja de tabaco...
Que lhe fazia muito mal ao caco!
Diz ele então
Na força da paixão:
— Há casaco melhor que aquela pele?
Trocava o meu casaco por aquele...
E até a mim... por ele.

Tinha razão,
Quanto a mim.
Quem não tem coração,
Quem não tem alma de satisfazer
As niquices da civilização,
Homem não deve ser;
Seja saguim,
Que escusa tanga, escusa langotim:
Vá para os matos,
Já não sofre tratos
A calçar botas, a comprar sapatos;
Viva nas tocas como os nossos ratos,
E coma cocos, que são mais baratos!

João de Deus, in 'Campo de Flores'



FOTOGRAFIA


CARTOON
Equilibrar o fardo

3 comentários:

Elvira Carvalho disse...

Uma rosa fogo para ilustrar um poema de indignação. Óptimo.
Um abraço e uma boa semana

C Valente disse...

Muito interessante
Saudações amigas e boa semana

Anónimo disse...

A avareza de uns e a pobreza de muitos.
Bjos da Sílvia