sábado, setembro 03, 2011

A TORPE SOCIEDADE ONDE NASCI

I


Ao ver um garotito esfarrapado


Brincando numa rua da cidade,


Senti a nostalgia do passado,


Pensando que já fui daquela idade.



II


Que feliz eu era então e que alegria...


Que loucura a brincar, santo delírio!...


Embora fosse mártir, não sabia


Que o mundo me criava p'ra o martírio!



III


Já quando um homenzinho, é que senti


O dilema terrível que me impôs


A torpe sociedade onde nasci:


— De ser vítima humilde ou ser algoz...



IV


E agora é o acaso quem me guia.


Sem esperança, sem um fim, sem uma fé,


Sou tudo: mas não sou o que seria


Se o mundo fosse bom — como não é!



V


Tuberculoso!... Mas que triste sorte!


Podia suicidar-me, mas não quero


Que o mundo diga que me desespero


E que me mato por ter medo à morte...



António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..."

NOTA
O Zé rumou à Atalaia e volta ao seu posto muito em breve. Este post foi programado para aparecer durante a ausência, respeitando o critério habitual da casa.

Até já!

FOTOGRAFIA


CARTOON



3 comentários:

maceta disse...

que verdades pairavam na mente do Aleixo...

abraço

Isamar disse...

Tão actuais as quadras deste pobre homem que tanto fez na vida e por ela sem nunca ter chegado a ter uma vida desafogada.
Hoje, tal como ontem, a sociedade vil, torpe, mesquinha, egoísta, desumana em que ele viveu continua a esmagar uns e a privilegiar outros.

Bem-hajas, amigo! Diverte-te que a vida são dois dias.

Abraço fraterno

Anónimo disse...

Afinal o bichinho da música ainda mexe...
Bjos da Sílvia