quinta-feira, maio 12, 2011

POEMA

Os ombros suportam o mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espectáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Carlos Drummond de Andrade



FOTOGRAFIA


CARTOON

3 comentários:

Anónimo disse...

Conhecendo hoje seu blog e ja encontro uma poesia linda
do Carlos D.De Andrade.
Estou a seguir seu blog convidando desde ja a conhecer o meu,,beijos,,Evanir
www.aviagem1.blogspot.com

12 de maio de 2011 08:58

Anónimo disse...

estou enviando como anonimo por ñ conguir entrar pelo Google

Zé Povinho disse...

Voaram os comentários e ainda não sei porquê, já que o Blogger esteve inacessível ontem à noite.
As minhas desculpas

Zé Povinho