sexta-feira, janeiro 04, 2008

O PREÇO DA VIDA

Fico sempre estarrecido com o valor que os fanáticos das estatísticas dão à vida humana. O desgosto e a dor dos familiares e amigos não podem ser estimada, nem os efeitos que derivam da perda de rendimentos da família, que muitas vezes fica sem recursos suficientes para levar uma vida decente e digna.
Que importa o que eu penso sobre uma realidade avalizada pela União Europeia, que estabelece um valor estimado em um milhão de euros, por cada vítima mortal das estradas? Eles sabem tudo, calculam deste modo os prejuízos para o Estado pelo investimento que teve em educação, segurança social e saúde, bem como aquilo que deixou de contribuir para a sociedade.
A política e a economia dos nossos dias contabilizam tudo em dinheiro, como se as pessoas fossem meros bens negociáveis. A Europa Social deixou de existir na prática, e hoje temos uma Europa tecnocrática, económica e financeira, em que o cidadão deixou de ser a peça chave e o destinatário ou beneficiário de todas as políticas. O Deus dinheiro é o objectivo único, tudo o resto é acessório.
Desiludam-se os que ainda acreditam no discurso cínico de que todas as medidas que se vão tomando são para benefício dos cidadãos, e que os objectivos económicos que se pretendem atingir, e que justificam todos os nossos sacrifícios, vão ser recompensadas a prazo. Não acreditem nestas tretas, porque a criação de mais riqueza apenas vai aguçar mais a gula de quem hoje já beneficia e de que maneira do que estamos a produzir.
Para que não vos restem dúvidas sobre a hipocrisia que é a valoração da vida humana, perguntem aos familiares de qualquer das inúmeras vítimas dos acidentes rodoviários, quanto é que os seguros dos culpados dos acidentes “ofereceram” pela perda sofrida. É que afinal os familiares das vítimas também ouvem e lêem notícias deste tipo. Quem perdeu mais, a família ou o Estado?


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FOTOS "O MAR"

Maverick

Eugene Lemeshko

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CARTOON
John Sherffius

Gary Brookins

7 comentários:

Jorge P. Guedes disse...

Vim há pouco do guardião e lá deixei um comentário curto, como aqui vou fazer:
A cada dia que passa mais nojo sinto por estes vermes, sevandijas soezes e flibusteiros, escória da espécie!

Um abraço.

Anónimo disse...

ahahahah...gostei em especial do cartoon e do dístico dos Fumadores...Ehehhehe!!

Bjs

quintarantino disse...

... caríssimo, ouço a muitos dizerem que, na vida, tudo tem um preço ... a outros que todo o homem tem o seu preço ... ora, se criamos sociedades destas, também a morte teria de ter um preço ... lamentável!

Tiago R Cardoso disse...

presumo que quem fez tão importante estatística, devem ser os mesmo que contaram os pássaros em Alcochete, resumindo sem interesse, reduzindo tudo a números...

Anónimo disse...

Custa-me a crer que este tipo de sociedade tenha futuro ou, no limite, que a humanidade tenha futuro com este tipo de sociedade.
Foi uma Europa Social que saiu da crise do pós guerra. Daqui por uns anos duvido que algum europeu sinta sequer o patriotismo necessário para travar uma guerra em nome de uma pátria que o exclui.
Estamos a atingir o limite da predação, com os interesses económicos a sobreporem-se aos interesses do Planeta e das pessoas, criando condições para que, cada vez mais, a vida humana seja um bem negociável.
Quantas vidas valem uma urgência ou uma maternidade?
Abraço.

Meg disse...

Ó Zé, para mim, esses tipos que estão em Bruxelas são uns parasitas e estão loucos, vivem noutro planeta. Estou farta dos estudos deles... todos os dias há mais uns poucos!
Será que eles não podiam trabalhar para justificarem as mordomias?
Além de lhes pagarmos a vida de lorde que fazem lá, ainda temos de aturar as cretinices impensáveis?
E a comunicação social, como não sabe ou não quer "fazer jornalismo sério" divulga-os até à nausea.
Hoje estou para aqui virada!

Um grande abraço

SILÊNCIO CULPADO disse...

Amigo Zé Povinho
O teu texto arripia-me porque eu vejo tudo quantificado em dinheiro e os indivíduos cada vez mais distantes de si próprios, distantes do outro e amorfos perante os acontecimentos que os afectam. Percebo o que dizes, o que diz aqui o Mocho Real que é também o que eu sinto: não aguento mais conversa de políticos!
Um abraço