quarta-feira, fevereiro 28, 2007

BEM PREGA FREI TOMÁS

Por diversas vezes veio o governador do Banco de Portugal dizer que tinha de haver contenção salarial para os trabalhadores e que essa era uma condição essencial para a resolução dos problemas da economia nacional. Os portugueses não entenderam, mas lá se foram conformando nos últimos anos, mas pelos vistos ainda sem resultados proporcionais aos sacrifícios, pelo menos daqueles com mais baixos rendimentos.
Fica bem ao governador dum banco central ter tiradas deste género, contudo um cargo desta natureza exige também que o seu titular seja coerente com o que diz, e sobretudo seja um exemplo para os demais cidadãos.
Constâncio fica muito mal na fotografia quando todos ficamos a saber que ganha mais que o governador do FED (EUA), o seu colega espanhol, o francês ou o alemão. Bolas, esses países são, comparativamente, muito mais ricos do que nós, os seus trabalhadores ganham várias vezes mais do que qualquer colega português. Dizem-nos os economistas que a nossa economia é fortemente dependente das economias desses países, e mesmo assim Vítor Constâncio não percebe que ganha demais, e que se alguém devia moderar o vencimento, era ele?
Claro que para amenizar a nossa indignação, se refere que o governador do nosso banco central fica a meio da tabela, e que os gestores públicos ainda ganham mais do que ele e do que o Presidente da República.
Moderação, senhor governador do Banco de Portugal, é o que o senhor devia demonstrar baixando o seu salário e consequentemente esses salários verdadeiramente vergonhosos, num país em que os governantes não se envergonham de achar que a mão-de-obra barata é um factor de competitividade da nossa economia.


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FOTOS
CONJUNTO DE MÚSICOS






terça-feira, fevereiro 27, 2007

LER EM DIAGONAL

Não costumo dar grande importância a estatísticas e barómetros, mas como elas existem e dão de comer a muita gente passo os olhos sobre os resultados e vou aquilatando da razoabilidade das perguntas e das respostas.
O último barómetro que li foi da Euroteste e era sobre o grau de satisfação dos portugueses no sistema de segurança social. Os resultados são arrasadores, nada que não se estivesse à espera, e demonstra que somos os mais insatisfeitos da União Europeia.
Em Portugal, apenas 10% consideram o sistema adequado e apenas 5% consideram que o nosso sistema podia servir de modelo para outros países. Conclui-se que não desejamos o mal para os outros povos, meritório.
Não somos receptivos a descontar mais para garantir a sustentabilidade do sistema, trabalhar mais tempo ou receber menos de pensão. Pelos vistos só os 5% anteriores é que não sabiam isto.
O barómetro dá as respostas à frente, concluindo que o custo de vida e o desemprego, preocupam particularmente os portugueses, em ambos os casos com valores muito acima da média comunitária. Quanto às expectativas para os próximos 12 meses, também somos mais pessimistas que os outros e apenas 10% se manifesta optimista numa vida melhor dentro de um ano.
Conjugando as conclusões deste barómetro e as intenções de voto duma sondagem recente, publicada num jornal, em que o PS subia mais uns pontos, concluo (na diagonal) que estamos a ser mal governados, mas que os portugueses acham que a oposição ainda pode ser pior (?).
Puxa! Somos mesmo descrentes…

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PUB FOTOGRÁFICA




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CARTOON

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

GERIR CONFLITOS

Estava eu a ouvir o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa a dissertar sobre as atitudes do ministro da Saúde, os seus excessos e inabilidade, e também do recuo nas posições anunciadas, e pensei que MRS ía revelar as razões desta pressa do governo de Sócrates em encerrar por agra este capítulo. O professor até estava a fazer um diagnóstico acertado dizendo que a azelhice do ministro contrastava com a sua competência e que algumas alterações são inevitáveis e que faltou a explicação e as soluções, mas ficou-se por aqui.
A argúcia do professor está um pouco por baixo. Sócrates gere com mestria os seus silêncios e os conflitos que a sua actuação causam. Os problemas da Saúde ficaram adiados por algum tempo porque nos próximos 15 dias outros problemas de maior dimensão vão eclodir e a contestação vai ser muito maior, e mais difícil de aguentar.
A partir do final da próxima semana vão começar a ser conhecidas as leis orgânicas dos serviços do Estado, e vai começar a ser conhecido o número de funcionários que vão para os quadros de supranumerários. Neste momento já se conhecem fugas de informação sobre leis orgânicas de diversos serviços, pelo que será inevitável que dentro de duas a três semanas também circulem por aí listas dos dispensados.
Marcelo R. de Sousa não antecipou este conflito, mas Sócrates sim, porque sabe que será muito mais difícil de gerir do que o da Saúde.


Bandeira - DN, 25/02/2007

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FOTOS


Viagens

domingo, fevereiro 25, 2007

RAPIDINHAS


Estatísticas – Finalmente vejo um político a dizer que “as estatísticas ao serviço do marketing político têm tido muitas vantagens para o governo”. Esta afirmação peca por tardia e por ter sido proferida numa altura em que Manuela Ferreira Leite está retirada da política nacional activa. Sempre afirmei que a interpretação dos dados estatísticos e o cruzamento com outras variáveis relacionadas eram essenciais para a credibilidade do resultados que se pretendem atribuir às mesmas.

“Prata da casa” – A propósito do livro «Ideas are free», o seu co-autor Alan G. Robinson vai dar uma conferência no Porto, sobre a importância que as ideias têm no mundo empresarial como geradoras de um bom e produtivo ambiente de trabalho. Alguém que vem romper com a ideia instalada, que as únicas soluções para as dificuldades são a aquisição de novas tecnologias ou o recurso a consultores externos. Não vai ser fácil passar a mensagem aos empresários, gestores e administradores portugueses, já que para estes o problema é exactamente a “prata da casa”, os funcionários portanto.

Atendimento – Em geral os portugueses tendem a dirigir as suas reclamações por mau atendimento apenas aos serviços públicos, o que é injusto pois há por aí um pouco de tudo. André Jordan, empresário ligado ao turismo veio dizer “temos de libertar-nos das escolas hoteleiras, porque estas ensinam formalismo e cara fechada”, a propósito do atendimento (há diversos anos) numa pousada. Eu não diría que tudo está mal no atendimento ao público, mas não vejo que as grandes superfícies, catedrais do consumo actual, atendam melhor o público, mas lá que vendem, isso é evidente. Será que o problema não está no grau de satisfação dos próprios empregados?

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FOTO

Flor

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CARTOON


Obesidade

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

HOJE - ZECA AFONSO

GRÂNDOLA VILA MORENA
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade

Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena

Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade

Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena

À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade
Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Letra e Música de José Afonso
Palavras do Zeca a propósito da canção: Os Vampiros
"Numa viagem que fiz a Coimbra apercebi-me da inutilidade de se cantar o cor-de-rosa e o bonitinho, muito em voga nas nossas composições radiofónicas e music-hall de exportação. Se lhe déssemos uma certa dignidade e lhe atribuíssemos, pela urgência dos temas tratados, um mínimo de valor educativo, conseguiríamos talvez fabricar um novo tipo de canção cuja actualidade poderia repercutir-se no espírito narcotizado do público, molestando-lhe a consciência adormecida em vez de o distrair. Foi essa a intenção que orientou a génese de "Vampiros", entidades destinadas ao desempenho duma função essencialmente laxante ao contrário do que poderá supor o ouvinte menos atento. A fauna hiper-nutrida de alguns parasitas do sangue alheio serviu de bode expiatório. Descarreguei a bílis e fiz uma canção para servir de pasto às aranhas e às moscas".

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

INCREDULIDADE

O Ministério da Justiça deu como explicação para um erro grosseiro na elaboração dos processos enviados ao Presidente da República para apreciação de indulto, o facto de os elementos constantes do registo criminal de um dos (?) indultados, não serem de leitura evidente.
O que sucedeu, foi que um indivíduo que se encontra em parte incerta e com mandatos de captura pendentes, foi indevidamente indultado, e só depois se deu pelo erro. A situação não é virgem, mas não explica tudo.
O cidadão comum ao ler notícias destas perde, ainda mais, a confiança na justiça, o que não é saudável para a democracia. Houve um erro, acontece a quem trabalha, mas as explicações transformam o erro num caso de incompetência já que o “não serem de leitura evidente” não colhe e dá uma imagem de desconhecimento de quem apreciou, dentro do ministério, o processo em causa, sabendo que ele estava destinado a seguir para a presidência podendo, como aliás se verificou, vir a ser alvo de indulto.
Assumir o erro é uma virtude, que só fica bem a quem o praticou.

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NOTÍCIAS

Teixeira dos Santos sublinhou que a «opinião pública tem uma percepção clara do sentimento de impunidade que prevalecia na sociedade portuguesa quanto ao incumprimento das obrigações fiscais e até de actos fraudulentos».
«Isso é algo que mina a credibilidade e autoridade do Estado e, acima de tudo, representa uma iniquidade inaceitável. Os portugueses têm o direito de exigir que o esforço que temos que fazer para financiar as políticas públicas deve ser repartido por todos», defendeu.
Lusa / SOL
COMENTÁRIO
Há dois anos com as mesmas promessas? Que falta de imaginação e de resultados.
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A banca portuguesa tem como prática recorrente exigir valores mínimos para a abertura de uma conta à ordem ou aplicar-lhe custos de manutenção superiores aos permitidos por lei, revela o Diário de Notícias de quinta-feira citando um estudo da DECO a nove bancos.
Para a DECO, associação de defesa do consumidor, trata-se de «graves entraves à contratação» de uma conta à ordem no regime de serviços mínimos, uma legislação criada em 2000 e à qual alguns bancos aderiram voluntariamente.
DD
COMENTÁRIO
O assunto é velho, a prática conhecida e os lucros da banca disparam todos os anos, será que não há regulação no sector?


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FOTOS
Near Drumheller, Alberta, Canada, 1986
Photograph by George F. Mobley
Thousands of years of wind, water, and glacial erosion have carved out these eerie badlands 400 feet (122 meters) below prairie level in Alberta, Canada’s Horsethief Canyon. Legend has it that during the region’s ranching heyday, horses would sometimes disappear into the canyons and emerge later marked with different brands, hence the canyon’s curious name.
(Photograph shot on assignment for, but not published in, the National Geographic book Trans-Canada Highway, 1986)
O mundo mascarado

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CARTOON


Ironias

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

PALÁCIOS E MONUMENTOS ABERTOS

Mais uma vez, no Carnaval, os monumentos portugueses estiveram abertos ao público. Este facto tem vindo a repetir-se ano após ano, o que contribui para arrecadar receitas para um ministério que cada vez recebe menos do orçamento de Estado. Até aqui todos estamos de acordo, o que já não é admissível num Estado de direito, e dito democrático, é que haja quem trabalhe num serviço, enquanto todos os outros gozam a tolerância de ponto, sem receber um tostão por isso. Isto é o que se passa todos os anos, sempre que há tolerâncias de ponto.
O Ministério da Cultura e o IPPAR são um mau exemplo do cumprimento dos preceitos legais e da discriminação que se vai praticando por cá. Legalmente pode dizer-se que em sede de tribunal do trabalho seriam condenados, só que os trabalhadores que se apresentassem como testemunhas do processo seriam altamente penalizados pelo atrevimento, logo após a condenação inevitável.
O Estado deve dar-se ao respeito, sendo o primeiro a cumprir as suas obrigações legais. Este é o recado que alguns trabalhadores me incumbiram de aqui deixar hoje.

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FOTO


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CARTOON

terça-feira, fevereiro 20, 2007

MECENATO CARNAVALESCO

As palavras da ministra Isabel Pires de Lima “O mecenato na cultura começa a ser olhado hoje como um mecenato que distingue, um pouco como acontece com uma editora que edita poesia mesmo sabendo de antemão que não dá lucro, mas dá prestígio à editora”, a propósito da necessidade do apoio às Artes e ao Património, teriam sido outras se proferidas pelos guardas de museu que foram obrigados a trabalhar na terça-feira de Carnaval.
A ministra sabe que eles foram trabalhar, quando deviam ter ficado em casa como todos os outros do mesmo grupo técnico-profissional, mas não terão direito a receber pelo trabalho extraordinário. Por consequência a frase adaptada aos guardas seria « O mecenato na Cultura começa a ser olhado hoje como um mecenato que discrimina, um pouco como acontece com um guarda de museu que trabalha durante uma tolerância de ponto mesmo sabendo de antemão que não receberá, mas contribui para as receitas do Ministério da Cultura».
Esta frase devia ser colocada à entrada de todos os palácios e monumentos que abrem as suas portas nas tolerâncias de ponto, para vergonha da senhora ministra.

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FOTOS DO CARNAVAL


CARTOON


Marido conformado

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

O PORTUGUÊS NO CARNAVAL DO RIO

Minha pátria é minha língua,
Mangueira meu grande amor. Meu samba
vai ao Lácio e colhe a última flor.

CRIAÇÃO E TEXTO:
OSVALDO MARTINS

SINOPSE:
A esquadra comandada por Pedro Álvares Cabral, que deixou Lisboa em 9 de março de 1500, era a maior até então reunida para navegar no Atlântico. Não fez nenhuma escala até tocar a costa brasileira e era composta por 1500 tripulantes. Não se conhece, exatamente, os nomes das 13 embarcações.

Vencendo a fúria de ventos agitados,
Singrando “mares nunca dantes navegados”,
Lá vêm elas - tão frágeis e tão belas -
Sorriso aberto em suas velas:
Dez naus, três caravelas.


Muitos séculos antes do Descobrimento do Brasil, o Império Romano havia conquistado vastos territórios da atual Europa. Não foi uma conquista apenas política e territorial – foi também cultural. Os exércitos romanos impuseram seu idioma – o Latim vulgar – que em cada região deu origem a uma língua diferente (Português, Francês, Espanhol, Italiano, Romeno, etc). O Latim, por sua vez, tem origem no Lácio, uma região do centro da atual Itália onde surgiu Roma.

Trazem a bordo um rico tesouro
Que não é prata nem é ouro.
É uma herança, uma bonança
Mais valiosa que um palácio:
A última flor do Lácio.
“Inculta e bela”, como Bilac cantou
És meu pendão, meu refrão,
Pura e singela, és minha flor na lapela
Que o tempo enfim consagrou.



O Português é hoje o sexto idioma mais falado no mundo. É a língua oficial de oito países dos cinco Continentes: Portugal, Brasil, Moçambique, Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. São cerca de 250 milhões de falantes, a maioria no Brasil. O idioma de Camões tem palavras que não encontram tradução em outras línguas. Exemplos: luar e saudade.

Brota em meu peito uma forte emoção
Quando vejo um cenário de tanta beleza!
Deus, em sua Criação, fez questão
De mostrar sua mania de grandeza
Quando dotou o Brasil, sua grande paixão
- e disso eu tenho certeza -
Do idioma que fala ao pulsar do coração:
A nossa Língua Portuguesa!



Ao chegar ao Brasil, trazido pelos descobridores em 1500, o Português sofreu primeiro a influência das línguas faladas pelos indígenas que habitavam o litoral: o Tupi e o Tupinambá. Mais tarde, o Português foi enriquecido por palavras do Banto e do Iorubá, idiomas falados por escravos africanos. Essas contribuições formaram o Português “brasileiro”, uma língua mestiça em constante evolução. Mais recentemente, no século 19, o Português falado no Brasil incorporou também expressões trazidas por imigrantes de várias partes do mundo.

O idioma de Camões, Eça e Pessoa
Aos poucos se abrasileirou
Com a fala dos índios e seu cantar
Misturando o tupi e o tupinambá.
Depois o negro da nação iorubá
Botou “axé” e todo o seu encanto
E até o samba que também é africano
Ganhou a “ginga” que veio do banto.

As influências indígena e africana eram tão fortes que os próprios jesuítas portugueses usavam esses idiomas - conhecidos como a “língua geral” - em sua catequese. Até que, em 1758, o Marquês de Pombal decretou, proibiu outro falar no Brasil que não fosse o Português. No ano seguinte, expulsou os jesuítas do país. A vigilância portuguesa impôs a ferro e fogo o decreto de Pombal e, graças a ela, produziu-se o milagre de hoje um país de dimensões continentais como o Brasil ter um único idioma. A língua é o maior símbolo da identidade e da integração nacional do povo brasileiro.

Foi seu Pombal quem garantiu
No carnaval do meu Brasil
O samba de uma fala só.
Em verso prosa o povo inteiro
Canta alegre, em “brasileiro”
No frevo, no choro e no forró.


Além de grandes autores portugueses como Luiz de Camões, Padre Vieira, Eça de Queiroz e Fernando Pessoa, o nosso idioma tem no Brasil outros tantos luminares: os cariocas Machado de Assis (primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras) e Olavo Bilac, o alagoano de Quebrângulo Graciliano Ramos (Vidas Secas, Memórias do Cárcere), o mineiro de Itabira Carlos Drummond de Andrade (Brejo das Almas, José), o fluminense de Cantagalo Euclides da Cunha (Os Sertões) e muitos outros, considerados clássicos da língua portuguesa.

Hoje a Mangueira, toda airosa
Engalanada em verse e rosa
Canta o idioma que ressoa
Do Oiapoque ao Chuí
Lembra Eça, louva Pessoa,
Inventa um passo e num abraço
Traz Lisboa para a Sapucaí.

Nos grandes mestres fui buscar
O enredo do meu samba pra contar
A saga de um povo altaneiro
De vidas secas nos sertões
De muita luta nos grotões
Como pregava Antonio Conselheiro.


Grandes poetas brasileiros, como Vinícius de Moraes, Chico Buarque, Cartola, Caetano Veloso, Guilherme de Brito e tantos mais encontraram no samba uma forma superior de falar à alma do povo. A música brasileira difundiu o idioma e aproximou a “última flor” da gente simples que canta, e se encanta.

Minha pátria é minha língua
Minha pena é minha espada.
A paixão não morre à mingua
Se é pra ti, mulher amada,
Que nos versos magistrais
De Vinícius de Morais
Sobre o amor ele proclama:
É “infinito enquanto dure”, e
“Imortal posto que é chama”.

Os poetas de Mangueira
Também sabem que a paixão
É sua melhor parceira,
Sua grande inspiração.
Foi o amor à minha Escola
Num preito de pura emoção
E ternura em cada rima
Que inspirou Mestre Cartola
A compor essa obra-prima
Que é “Sala de Recepção”.


Ó, amada Língua Portuguesa, poética, infinita... Quantos milhares, milhões de escritores, poetas, romancistas, histórias, personagens tu ocultas que por mais que se procure mais existe a desvendar! Bem sei que não cabes inteira no meu samba, que é pequeno demais pra te homenagear. Tão bela tu és que tinha de ser teu o primeiro museu. Não há no mundo outro igual, nem mesmo em Portugal. O endereço é um só, aquele que nos conduz à velha Estação da Luz - teu templo, tua morada, onde podes, como mereces, ser adorada.

Eu sou de uma estação
A Estação Primeira
Que me ensinou uma lição
Durante minha vida inteira:
Só meu samba me conduz
E só Mangueira traduz
A paixão mais verdadeira.

Mas se quero ter certeza
Que a magia e a beleza
Da nossa Língua Portuguesa
É maior do que supus
Pego o trem na minha estrada
E na última parada
Desço na Estação da Luz.

Retirado do site da Mangueira

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FOTOS DE CARETOS



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CARTOON

domingo, fevereiro 18, 2007

DA ESTATÍSTICA À REALIDADE

Razão tinha João Cotrim de Figueiredo quando cita Karl Popper, é impossível falar de modo a não ser mal interpretado. Começando pela coincidência de Manuel Pinho e Peter Mandelson terem aboRdado o tema dos baixos salários, combinado ou não, originaram o debate. O primeiro disse simplesmente que era um factor de competitividade, o segundo acrescentou que era uma medida temporária.
A diferença substancial causou e está a causar discussão, não concordo que seja ruído, pois há que constatar que já estamos a divergir à demasiados anos dos que estão à nossa frente, e em clara perca para os que vieram a integrar a UE depois de nós. Serão pequenas diferenças segundo aquele gestor, mas atingem dimensões enormes quando falamos dos que auferem salários baixos.
Quanto ao apego conveniente às estatísticas, lembro que somos um dos países deste espaço comunitários onde a diferença de rendimentos é maior, senão mesmo a maior, o que tira aos valores estatísticos a credibilidade que lhe querem atribuir. O exemplo da diferença do salário médio português e do francês, pouco mais de um terço, deixa de ser verdadeiro se comparar o salário mínimo dos dois países (aumenta substancialmente a diferença) e o inverso também se verifica na classe dos gestores de grandes empresas públicas e privadas onde os salários estão perfeitamente equiparados, considerando a mesma escala e o mesmo tipo de actividade.
Aquilo a que J. C. de Figueiredo chama vantagem transitória, os baixos salários, não são nem transitórios nem vantagem, considerando o custo de vida que proporcionalmente é superior em Portugal com qualquer dos grupos de países com que estabelece as comparações.
Quando nos socorremos de estatísticas para defender o indefensável, baixos salários como vantagem competitiva, temos que contar com todos os outros dados relacionados, como a distribuição da riqueza e o custo de vida.
A parcialidade na análise, pode bem ser apelidada de falta de seriedade.

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BELEZA DE FOTO

CURIOSIDADE


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PINTURA
The Grand Odalisque
1814 Oil on canvas, 91 x 162 cmMusée du Louvre, Paris

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CARTOON

sábado, fevereiro 17, 2007

RAPIDINHAS

Carnaval I – Em Portugal o Ministério da Cultura quer ter museus, palácios e monumentos abertos no Carnaval sem gastar um tostão a mais, pois o trabalho não é considerado extraordinário e só afecta os vigilantes-recepcionistas, todos os outros grupos profissionais gozam a tolerância de ponto dada por José Sócrates.

Carnaval II – No Brasil “A Mangueira” vai homenagear a língua portuguesa no desfile pela avenida. O vira e uma enorme caravela serão elementos deste grupo, que é sempre um candidato à vitória no desfile.

Erro de paginação – O DN de 16 Fevereiro, trazia no caderno de Economia duas notícias esclarecedoras: na página 4 “Governo faz brilharete com défice abaixo de 4,6%” e logo na página 5 “Desemprego dispara para o nível mais alto dos últimos 20 anos”. Deve ser apenas coincidência, mas isto acontece no dia em se soube que a direcção do jornal tinha sido demitida.

Pisar o risco – Na crónica de Helena Sacadura Cabral sobre o tema “O que é ser rico” ficámos a saber que a sua empregada doméstica ganha bem (?), mais até que os seus assistentes na universidade (?), e não paga impostos. Fiquei com a ideia de que a empregada doméstica ganha mais do que eu (754 euros) e por razões que desconheço não paga impostos. Será que a patroa lhos paga ou também é conivente na fuga?

Descontroladas – O ministro das Finanças vai criar uma empresa para controlar sector público empresarial e parcerias público-privadas, porque o Tribunal de Contas lhes puxou as orelhas. Segundo o TC “É o próprio Estado que, frequentemente, agrava os seus encargos com as parcerias que desenvolve ao não acautelar o estudo na preparação das PPP”. Então gasta-se mais do que se devia, enquanto a malta aperta o cinto, e não são sacadas responsabilidades a ninguém? Também quero um lugar desses…

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BELAS FOTOS
Flores


Paisagem



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CARTOON


Mike Lester, Rome News-Tribune, Rome, GA



Sound of Europe at the 250th birthday of Mozart: Chancellor Wolfgang Schuessel as Papageno in the Magic Flute. Oliver Schopf, Austria, Der Standard

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

A MÁ IMAGEM

Quando falei da imagem que os turistas têm, em geral de Portugal depois de o visitarem, afirmei que a sua opinião normalmente é mais favorável à partida do que à chegada. Estava a falar dum grupo específico, instruído entre os 18 e 55 anos e da classe média, portanto com algum poder de compra.
Hoje venho falar de pessoas da classe alta, com grande poder de compra, cosmopolita e ligadas aos meios empresariais e financeiros, que em geral não estão muito interessados no país real, não frequentam os locais onde se sente o pulsar da vida do quotidiano e não têm tempo para descobrir o que quer que seja. Em concreto refiro-me aos tecnocratas da OCDE e à analista da Economist Intelligence Unit que emitiram opiniões sobre a economia de Portugal.
A OCDE pronuncia-se “sempre” com base em relatórios e estatísticas elaborados pelos governos e outras instituições financeiras. Em documentos deste tipo tudo pode ser transformado em gráficos mais ou menos complexos mas que dependem apenas de contas exactas e de certezas para quem os elabora. No caso de Portugal, onde a riqueza está muito mal distribuída, onde a economia paralela atinge números na ordem dos 15 a 20% e o incumprimento das obrigações fiscais é alto, toda a matemática é falseada, e as receitas sugeridas roçam o disparate para não dizer a ignorância completa dos indicadores reais.
A analista do The Economist, que dizem veio a Portugal como convidada, vem falar da flexibilização do mercado do trabalho, desconhecendo a realidade e os esquemas consentidos pela justiça lenta e pouco eficaz, que permitem despedimentos a torto e a direito neste jardim à beira mar plantado. Para não ser deselegante, direi que leu alguns cabeçalhos de jornais económicos portugueses, pertencentes a grupos económicos nacionais.
Só a ignorância da realidade pode explicar disparates como a proferida por um comissário europeu do comércio – “Salários baixos temporários apoiam o desenvolvimento económico do País”. O senhor comissário não sabe que os salários demasiado baixos são uma constante há anos e que o desenvolvimento depende mais do investimento e da inovação do que da mão-de-obra barata.
Será que um destes dias, ainda é convidado mais um especialista para concluir que o País pode desenvolver-se ainda mais se a escravatura for admitida? Já quase só falta isso!
Sugestão de leitura:
http://leruisseau.iguane.org/article.php3?id_article=11


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FOTOS

Sacré-Cœur

Revendo fotos de Paris, importa lembrar a música de Edith Piaf. Aqui fica uma sugestão para ouvir ... e ver - A quoi ça sert l’amour – Edit Piaf
http://www.youtube.com/watch?v=_IivEGxl8qU&eurl=



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CARTOON

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

QUESTÕES DE IMAGEM

A imagem que Portugal projecta no estrangeiro não é real e também não é verdadeira. Este facto é perfeitamente perceptível para quem trabalha directamente com os turistas que nos visitam.
Na generalidade, os estrangeiros da classe média e média alta dos países desenvolvidos, admiram a qualidade do nosso Património, o jeito afável como estamos disponíveis para os ajudar, a nossa gastronomia, a segurança, e a paz e beleza paisagística do interior do país. Quando lhes perguntamos que imagem faziam antes de se deslocarem a Portugal, invariavelmente afirmam que esperavam ver um país mais pobre e atrasado, um povo mas triste e muita gente vestida de negro, preços mais baixos e um interior agrícola por contraponto dum litoral ancorado no produto Sol e praia.
Com alguma facilidade ficamos a saber que essa imagem é construída pela divulgação turística a que acederam via publicidade dos agentes de viagens dos seus países e a consulta apressada de alguns guias turísticos escritos disponíveis na sua terra. Também já é mais frequente virem a conselho de amigos ou familiares que lhes indicam pistas sobre coisas que não constam de nenhum roteiro turístico ou brochura promocional.
Quero com isto dizer que não temos sabido projectar uma imagem do país real que agrada a pessoas da classe média europeia, norte americana e canadiana, baseando a promoção turística nos batidos produtos sol e praia, pouco competitivos internacionalmente. No fado, vinho, touradas e galos de Barcelos como há 30 anos atrás e sobretudo num país pouco desenvolvido sempre à espera de ajudas de Bruxelas para se desenvolver. No outro extremo da promoção temos o golfe, o jogo e a diversão nocturna que não é um mercado fácil e onde a concorrência depende muito do que lhe está associado ao mesmo nível noutros destinos, que é a alta costura, as jóias de marca e os grandes centros cosmopolitas como Londres e Paris.
Aos publicitários e promotores turísticos aconselho que visionem os álbuns de imagens de viajantes na Net, para poderem ter uma ideia do que realmente lhes desperta o interesse e comentários de agrado.
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CURIOSIDADES EM FOTO


O espreita


Pose de Estado

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

MAIS SOBRE O IGESPAR

Sucessão
O IGESPAR, IP sucede:
a) Nas atribuições do Instituto Português do Património Arquitectónico, com excepção das atribuições cometidas às respectivas direcções regionais e das atribuições relativas à gestão dos serviços dependentes transferidos para o Instituto Português dos Museus e da Conservação;
b) Nas atribuições do Instituto Português de Arqueologia,
c) Nas atribuições relativas à salvaguarda e valorização do património Arquitectónico da Direcção-Geral de Edifícios e Monumentos Nacionais, com excepção das atribuições cometidas às respectivas direcções regionais.

PS – Não sei qual a versão mais aproximada do documento aprovado em Conselho de Ministros, mas a versão do PV é o mais credível, apesar de serem notórias algumas anormalidades, o que não nos admira num documento elaborado sem a colaboração de quem trabalha no sector. Segundo algumas opiniões, a minha incluída, não se entende a saída dos monumentos e palácios para o IPMC,IP, e não sei o que dizer da ausência de alguma referência às estações arqueológicas.
Outros valores mais altos se ergueram e não foram os do Património.

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Artista

Futurista


Realista

terça-feira, fevereiro 13, 2007

NOS BASTIDORES DA CULTURA

Nos últimos dias tenho sido questionado por amigos ligados ao Património, querendo saber informações sobre as leis orgânicas dos institutos dependentes do Ministério da Cultura. Não possuo nenhuma bola de cristal nem poderes de adivinhação, mas conheço o meio e tenho alguns conhecimentos aqui e ali que me permitem, por vezes, saber umas coisas por antecipação. Neste caso foi algo complicado, as bocas estavam seladas, mas, com a ajuda de dois projectos colocados na Net e umas dicas algo se arranjou.
Aqui vão uns tópicos:
O IGESPAR, IP, tem por missão a gestão, a salvaguarda, a conservação e a valorização dos bens que, pelo seu interesse histórico, artístico, paisagístico, científico, social e técnico, integrem o património cultural arquitectónico e arqueológico classificado do País…
Providenciar a salvaguarda e protecção integrada das paisagens culturais e dos jardins históricos com o património cultural arquitectónico e arqueológico; …
Como receitas o IGESPAR dispõe, entre outras … O produto da alienação ou cedência de bens ou direitos do seu património. …
São, desde já, afectos ao IGESPAR, IP, os seguintes imóveis:
- Convento de Cristo
- Mosteiro de Alcobaça
- Mosteiro dos Jerónimos e Torre de Belém
- Mosteiro da Batalha
- Panteão Nacional, instalado na Igreja de Santa Engrácia em Lisboa, e na Igreja de Santa Cruz, em Coimbra
- Parque Arqueológico de Vale do Côa.
O IGESPAR pode criar, participar ou adquirir participações em entes de direito privado, se for imprescindível para a prossecução das suas atribuições, mediante autorização prévia dos membros do governo responsáveis pelas áreas das Finanças e da Cultura…
Por hoje fico por aqui, mas prometo voltar com mais umas quantas revelações, embora pense que respondi às questões que me colocaram.

FOTO
Primis, Egypt, 1976
Photograph by Thomas J. Abercrombie
Hidden in the dry Red Sea Mountains, St. Anthony Monastery was founded in 356 AD and has operated as a multi-faith Christian monastery for much of that time, though today it is exclusively Coptic. Relying on spring water for survival, the monastery operates as a self-sustained village complete with irrigated gardens, a bakery, and several churches. (Photograph shot on assignment for, but not published in, "Egypt: Change Comes to a Changeless Land," March 1977, National Geographic


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