sábado, abril 29, 2006

OUTRAS LEITURAS

Segundo relatórios independentes ficaram claras algumas diferenças importantes entre o mercado de trabalho em Portugal e em Espanha. As diferenças não constituem novidade para quem conhece os dois países, mas talvez sejam elucidativas no que respeita à diferença de crescimento das duas economias.
Ficou bem claro que os trabalhadores com categorias mais baixas recebem salários cerca de 50% mais baixos em Portugal do que no país vizinho, já nas categorias intermédias a diferença baixa para cerca de 25%, e, quando chegamos às altas chefias (privadas ou estatais) as diferenças não existem podendo mesmo chegar a ganhar-se mais em Portugal do que em Espanha.
No retrato que nos é dado também é curioso verificar-se que mesmo a classe política, que em Portugal se queixa dos seus salários, está um pouco acima dos seus congéneres para lá da fronteira.
Com um panorama destes talvez nos possamos questionar sobre os problemas de produtividade, ou falta dela, sobre as políticas viradas para os baixos salários e tentar encontrar soluções diferentes das que foram tomadas até agora.
Na Europa somos o país com maiores desigualdades de rendimentos, contudo não se vislumbram políticos com vontade de mudar a situação.

sábado, abril 15, 2006

DEPOIS DA GREVE

Passada a greve há que reflectir sobre o que foi acontecendo e foi dito nestes últimos dias.
Na comunicação social todos puderam constatar que houve a notícia da greve, acompanhada por adjectivação incorrecta e dados que não estavam sequer em causa. “Tradicional greve da Páscoa” dizia o DN, como se nenhuma razão existisse para o protesto e no Expresso “... apesar de serem pagos a 200%” deixando a dúvida sobre se o estava em causa eram montantes pecuniários. Ficou claro que não houve objectividade nem estranheza pelo silêncio da senhora ministra, denunciado no aviso prévio de greve.
A imprensa contudo noticiou que o IPPAR não tem dinheiro para cumprir objectivos, o que será ainda mais evidente quando receber competências anteriormente da responsabilidade da DGEMN, facto que a verificar-se obrigará a uma dotação orçamental muito superior à actual assunto para o qual não parece haver força política para negociar com as finanças.
A constatação da senhora ministra, também noticiada na VISÃO, de que “ O comendador Berardo tem mais experiência de negociação ...” é curiosa porque muitos de nós estamos convencidos que também temos muito mais experiência de Património do que a senhora e, mesmo assim a senhora prefere continuar a não nos ouvir, nem sequer para resolver os problemas que os trabalhadores enfrentam e que deram origem a mais esta greve.
A Cultura continua a ser (des)considerada e reduzida à proporção do seu orçamento – menos de 1%.

quinta-feira, abril 06, 2006

O CAPITAL E O TRABALHO

As sociedades ditas civilizadas e democráticas enfrentaram desde sempre o desfio de regularem os dois factores de produção de riqueza, o capital e o trabalho. O equilíbrio destes dois poderes, com interesses tantas vezes divergentes, é entregue aos eleitos que se comprometem a cumprir esta difícil tarefa.
Entre a utopia e a realidade existe uma enorme diferença, já todos perdemos a inocência, e somos chegados a tempos em que muitos de nós pensamos que os eleitos deixaram de zelar pelo equilíbrio social.
Quando a economia se torna a vaca sagrada das preocupações do poder político, em vez da distribuição da riqueza de modo a promover o bem-estar dos cidadãos e a garantir que não exista miséria e exclusão, a democracia começa a demonstrar mostrar fraqueza e submissão a apenas um único poder, o capital.
A Europa está a cair numa crise social a diversas velocidades que pode vir a atingir grandes proporções, exactamente pelo desiquilíbrio da relação de forças entre o trabalho e o capital.
A pretexto da liberalização dos mercados, pratica-se a deslocalização das empresas. Invocando a produtividade e a polivalência oferecem-nos o trabalho precário. Clamando contra privilégios cortam-se direitos. Os ricos são cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.
Os acontecimentos em França e na Alemanha, que alguns pretenderam minimizar, são apenas o começo da contestação que vai começando um pouco por toda a Europa, contra a destruição do Estado Social porque tantos lutaram nos últimos 30 anos.
Sem o equilíbrio necessário tudo pode ruir, até o poder.

domingo, abril 02, 2006

CULTURA EM ALVOROÇO

Com o Programa de Reestruturação da Administração Central do Estado (PRACE) ficou a saber-se a nova estrutura do Ministério da Cultura embora se continue a ignorar o impacto que vai causar a nível dos recursos humanos. Na área do Património, como se esperava, voltou-se a um modelo já conhecido onde se separa o património móvel do imóvel, constituindo alguma surpresa apenas a atribuição de algumas funções que estavam a cargo da veneranda DGEMN.
As questões que se nos colocam nesta altura são muitas porque nada disto foi discutido nem explicado dentro das estruturas envolvidas. Segundo se ouve também virão aí as leis orgânicas, mas uma vez mais sem o contributo dos muitos funcionários do sector.
Temos muitas dúvidas quanto à situação dos recursos humanos, matéria sobre a qual o governo nada diz, e também se colocam dúvidas sobre a afectação de alguns museus e palácios até porque já houve um jornal que sugeriu que poderíam ser considerados espaços turísticos (?) e portanto passíveis de passarem a regime de “outsourcing”, que é como quem diz – gestão privada.
A atitude (não) dialogante do governo com esta política de factos consumados não suscita qualquer tipo de confiança aos funcionários públicos em geral, sendo que é com imensa reserva que encaram a afirmação de José Sócrates de que “não haverá despedimentos” até porque vem acompanhada pelo inevitável chavão “nesta fase”.
É muito difícil manter a calma e focar toda a atenção nas tarefas diárias com o espectro da prateleira do quadro de supranumerários e com a inevitável perda de salário ( já anunciados) e isso já se está a reflectir nos serviços e vai concerteza agravar-se.
A incerteza só contribui para potenciar o descontentamento que se venha a verificar na sequência deste processo, nas fases seguintes.